Desarranjados e sujos, tanta vezes arrumadores outras tantas, nada, habituámo-nos a virar a cara e a mudar de rua. Fecha-nos o preconceito e a distância. A bem deles, e nosso também, há quem veja neles homens e mulheres, quem lhes “pegue ao colo” e os ajude a voltar a acreditar.
Sentada no refeitório em amena cavaqueira vai, com atitude atenta e acolhedora, interpelando quem chega pela porta sempre aberta que dá para o Intendente. Um sorriso aberto a todos, uma graça, um comentário e sentem-se em casa. Oferece-se como Mãe para os que estão no fim da linha. É assim há pelo menos 15 anos.
Ana Campos Reis. Enfermeira, por vocação desde os 14 anos ou provavelmente desde sempre, porque uma vocação como esta tem de estar nos genes, trata de homens e mulheres que a doença apanhou por casualidade ou por irresponsabilidade mas que, fatalmente, os levou para onde não queriam ir.
Toxicodependentes, prostitutas, trabalhadores, mães de família, novos, velhos, todos num mesmo saco de exclusão.
“- O que é que vamos fazer da tua vida?”
Uma pergunta feita a todos. Uma mão que se estende, uma porta que se abre, uma esperança que renasce.
Começa sempre pela adesão ao tratamento, e depois vem a refeição segura, um tecto acolhedor, um ombro para chorar ou uma presença que os ajude a morrer.
Santa Rita de Cássia, Santa Maria Madalena, Santa Teresa. Três casas da Misericórdia de Lisboa, onde trabalha há 37 anos, que permitem a esta mensageira da Esperança realizar prodígios na vida de quem já não acredita.
Habituada a lidar com a morte que lhe bate à porta vezes demais, sabe olhá-la de frente e ajudar a que outros aprendam a ver nela a libertação e o início da verdadeira Vida.
Nada tem de vulgar esta mulher que escolheu viver para os mais necessitados, nos quais deixa, de modo indelével, a sua impressão digital: Esperança.
segunda-feira, 28 de julho de 2008
Mensageira de Esperança
Francisca Assis Teixeira
Publicado na revista Magazine em 2007
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1 comentário:
Bonito texto. Importante.
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