quinta-feira, 31 de julho de 2008

A força do exemplo

Um vídeo, que me foi enviado por um amigo, muito no espírito MEP:



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É contra ou a favor?

A principal crítica ao sistema de Saúde cai num ponto que é aliás comum a todos os sectores da actividade pública – a falta de planeamento e organização interna. Mas mexer na (falta de) organização implica alterar hábitos, rotinas e funções; tudo isto gera insegurança e por vezes interfere com interesses instalados.

Pensando na actual situação dos hospitais públicos, como se posicionam os cidadãos face às afirmações que se seguem?


Focalizar os hospitais nos cuidados de risco

1) Os hospitais, assim se queixa toda a gente, estão ensanduichados entre os cuidados primários e os cuidados paliativos. Seria preciso aligeirá-los desse tipo de serviços para se poderem focalizar no tratamento das situações agudas, ganhando liberdade e flexibilidade para responderem de forma eficaz aos cuidados de risco que são, no fundo, a sua verdadeira missão.

Contratualizar com base nos resultados

2) Financiar os hospitais em função do número de exames, análises e consultas faz disparar as despesas sem qualquer contrapartida na qualidade do serviço prestado. Seria preferível responsabilizar e dar valor aos profissionais que trabalham, financiando as unidades hospitalares pela capacidade de produzirem melhores resultados na população, não por gastarem menos ou mais dinheiro ou por realizarem um maior ou menor número de actos médicos.

Valorizar os interesses dos doentes

3) Os Hospitais devem assumir uma lógica de organização interna que valorize os interesses dos doentes. Quer-se mais conforto e mais qualidade, com facilidades como poder marcar exames e receber resultados por internet ou ter bons acessos para transporte e estacionamento; e por outro lado pensar na separação entre zonas de cuidados intensivos, internamento hospitalar e consultas, evitando situações de desconforto para os doentes, apesar de logisticamente essa proximidade ser muito prática para os médicos.

A competitividade potencia a eficácia e a qualidade

4) De acordo com os resultados da OCDE em Portugal, nos Hospitais de gestão pública, regista-se um desperdício na ordem dos 30%.

A escolha, por parte do cidadão, induz a concorrência, que por sua vez cria competitividade, com consequências positivas na eficácia e na qualidade.


Maria de Assis


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...em construção

As pequenas iniciativas culturais revelam vontade de participar e intervir sendo essenciais na acção transformadora da sociedade, na valorização dos processos criativos, na concretização de uma cidadania activa e demonstrando uma originalidade alternativa ao mainstreaming. São relevantes, a um nível mais micro e local, novas afirmações que desentorpeçam os espíritos e nos desenvolvam (devolvam?!) o espírito crítico. Vem isto a propósito do Teatro Assombrado, iniciativa recente de um grupo de amigos do Porto instalados em pleno centro histórico. Há pouco tempo ouvi-os dizer poesia de Vinicius de Moraes e por isso recordo aqui…

O operário em construção

Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as asas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa quer ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.


De facto como podia
Um operário em construção
Compreender porque um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento

Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse eventualmente
Um operário em construção.
Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.

De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
- Garrafa, prato, facão
Era ele quem fazia
Ele, um humilde operário
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.

Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.

Foi dentro dessa compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois alem do que sabia
- Exercer a profissão -
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.

E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.
E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia "sim"
Começou a dizer "não"

E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:
Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.

E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução

Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão
Mas o patrão nas queria
Nenhuma preocupação.
- "Convençam-no" do contrario
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isto sorria.

Dia seguinte o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu por destinado
Sua primeira agressão
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!

Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras seguiram
Muitas outras seguirão
Porém, por imprescindível
Ao edifício em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.

Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobra-lo de modo contrário
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaracao:
- Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.

Disse e fitou o operário
Que olhava e reflectia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria
O operário via casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objecto
Produtos, manufacturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!

- Loucura! - gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?

- Mentira! - disse o operario
Nao podes dar-me o que é meu.

E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão
Um silencio de torturas
E gritos de maldição
Um silencio de fracturas
A se arrasarem no chão
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção
(Vinicius de Moraes)

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MEP apresenta o seu Programa

No momento em que é reconhecido como Partido Político, o MEP apresenta publicamente o seu Programa que será aprovado no Iº Congresso. A presente versão, ainda provisória, resulta de um processo de debate interno, muito participado, ao longo dos últimos seis meses. A partir de sessões plenárias, de grupos de trabalho e de contributos individuais, e tendo como ponto de partida o Manifesto “Razões de Esperança”, foi possível elaborar um texto programático global que propõe uma visão estratégica para Portugal.

No site do MEP.
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quarta-feira, 30 de julho de 2008

Parabéns Naide e Nélson

Naide Gomes bate recorde nacional do salto em comprimento (no Público)

«A portuguesa Naide Gomes bateu hoje, pela segunda vez no espaço de uma semana, o recorde nacional do salto em comprimento, conseguindo a melhor marca mundial do ano, ao saltar 7,12 metros no segundo ensaio do "meeting" internacional do Mónaco.»
Foto: Laszlo Balogh/Reuters (arquivo)
Nelson Évora de prata no triplo salto (no Expresso)
«O atleta português Nelson Évora conquistou hoje a medalha de prata no concurso de triplo salto do Meeting Internacional do Mónaco, com a marca de 17,24 metros, a melhor marca pessoal da temporada.»

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Verdadeiros heróis

Salvamentos - pessoas que merecem destaque (no JN)
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terça-feira, 29 de julho de 2008

podia ser uma notícia MEP


De imigrante ilegal a médico em Torres Vedras
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Cuidado!

O ministro da Economia considera que a descida do petróleo terá um efeito positivo na Economia portuguesa. Ficámos a saber que o Ministro "bombeiro" - com o devido respeito, "bombeiro" de apagador de fogos económicos, não de bombas de gasolina - lê o Jornal de Negócios, mas não com o devido cuidado.
Segundo a TSF, diz o ministro que a baixa do preço do petróleo, a manter-se, terá um efeito positivo no estado da economia portuguesa e no dia-a-dia dos portugueses, considerando que, «se há um ano, o barril estava a 70 dólares, e depois aumentou para 140, não há razão objectiva para que o petróleo tenha duplicado o seu preço em tão pouco tempo». Diz ainda a TSF que o ministro admitiu que à instabilidade no preço está associada uma «forte componente especulativa».

Pergunta-se como é que um ministro da Economia pode falar assim tão superficialmente de especulação, se saberá o que isso quer dizer, e se acha aceitável fazer afirmações pouco cuidadosas e tornar-se ele próprio um especulador e jogador no mercado. Muito provavelmente, se o petróleo descer mesmo, e se a Galp tiver perdas, ele vai a correr devolver a taxa "Zé do Telhado", em mais uma manobra de "Fangio", dando o corpo à curva.

Pergunta-se ainda como pode ele passar essa mensagem de optimismo "carbo-energético", que mais não fará do que alimentar uma bolha de sabão - essa sim, muito fora da realidade - sobre a melhoria da economia com base na baixa de preço dos combustíveis fósseis.

Que aprendizagem podemos tirar das suas declarações? Duas: a primeira é que não é aconselhável acreditar nas suas palavras; a segunda é que a Economia portuguesa só poderá melhorar com base no seu desenvolvimento sustentável - o que dava pano para mangas e muito trabalho de alfaiate a Manuel Pinho, nomeadamente exercendo pressão para desburocratizar muitos procedimentos de instalação de insdústria.

O razoável teria sido travar conclusões precipitadas e alertar para a importância de poupar, gastar apenas o necessário, reorganizar comportamentos em função da raridade da matéria prima - mesmo com as dúvidas existentes sobre a sua durabilidade- e dos malefícios do seu consumo excessivo para a natureza. Não podemos andar insistentemente a olhar para a conjuntura internacional e factores externos. São naturalmente factores importantes, mas é aí que deve estar a tónica. Há muito a fazer pela nossa economia e desenvolvimento que depende exclusivamente de nós.

Não sou moralista ecológico, nem ceifador de milho alheio, mas acredito que todos nós podemos ter comportamentos mais poupados, menos poluidores, diminuindo a nossa pegada ambiental - por exemplo, acelerar menos nas estradas.

Além disso, todos temos de estar conscientes que o futuro da humanidade e do planeta dependerão da utilização de energias mais limpas, renováveis. E a nossa economia dependerá de nós e da nossa capacidade - nada nos será dado. Porque, lapaliçada, aquilo que não é renovável e sustentável seca.
Ângelo Ferreira

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Participação, a nova cultura emergente

A palavra-chave é “auto organização”. Não esperar ordens para agir mas contribuir com aquilo que se pode e deseja para em nome de um bem maior – comum. A maior parte de nós ainda pensa que projectos concretos devem ser geridos a partir de uma estrutura centralizada e hierárquica onde há responsáveis que estabelecem prazos, determinam objectivos e supervisionam os resultados. Estamos acostumados a olhar para especialistas, patrões, directores e chefes em geral que nos dizem em cada momento o que é melhor. Mas começam a surgir movimentos que nos mostram que não tem que ser necessariamente assim e que nos anunciam uma cultura emergente na qual pessoas vindas de diferentes ideologias, com líderes e porta-vozes variados, se juntam em nome de um ideal comum e aprendem a colaborar com o objectivo de criar algo que possa realizar todos. Participação é agora uma palavra mágica que alastra e começa a suplantar o modelo de comando e controlo, intrínseco a instituições como as empresas, estado centralizado e forças armadas, dominantes no século XX. Neste novo contexto Participação não significa ter mais coisas nem mais escolhas, mas dizer mais, intervir, ter mais oportunidades para contribuir. É visível entre grupos de activistas que descobrem que os seus voluntários não querem limitar-se a recolher donativos ou colar cartazes, no mundo dos negócios onde empresas de sucesso começam a olhar para os consumidores como parceiros, pedindo a sua colaboração no design e marketing dos seus produtos ou em grandes empreendimentos, que são desenvolvidos ouvindo as opiniões dos cidadãos. Este desejo incontido de participação é potenciado de muitas maneiras pela Internet, em plataformas como a auto organizada Wikipedia ou o You Tube com a sua quase infinita possibilidade de escolhas, que um número cada vez maior de jovens prefere à programação televisiva decidida por um grupo restrito de responsáveis. Tecnologia acessível dá hoje às pessoas a possibilidade de se ligarem como nunca antes tinha acontecido na história e agiliza a colaboração em rede, tornando acessíveis e realistas objectivos que antes só poderíamos imaginar. O tempo em que éramos espectadores, tudo indica, está a chegar ao fim. Agora todos são convidados a ir a jogo.Mais exemplos desta tendência em: www.wethinkthebook.net; www.change.org, www.coolpeoplecare.org, www.globalgiving.com, www.worldchanging.com, www.change-management-toolbook.com, www.moveon.org, http://current.com

Inês Rodrigues
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A mulher de César e a Justiça

Sendo a Justiça um dos alicerces do Estado de Direito, fundamental para garantir o regime democrático, ela é também pedra basilar do desenvolvimento do país. Escrever sobre o tema, de tão delicado e crucial, exige desde logo enorme cuidado, o que não se coaduna com análises sob o calor do momento, e, muito menos, irresponsabilidade.
Temos assistido nos últimos anos ao tratamento mediático de alguns casos que colocam a nu graves fragilidades da nossa justiça (em sentido lato), algumas das quais, estando fora dos tribunais, estão em sectores inexoravelmente complementares, essenciais para a sua garantia. Todos sabemos que para haver justiça é também necessário que se produzam não muitas, mas boas leis, ao serviço dos cidadãos e não de interesses “especiais”. Da mesma forma, é imprescindível, especialmente nos casos mais complexos, a existência de uma boa polícia, de uma sólida investigação policial, que ajude a trazer para a luz a verdade dos factos.

Além da legislação (complexa) e dos parcos meios ao serviço dos tribunais e das polícias, parece evidente que há um problema de atitude daqueles que são o garante da honestidade dos processos, começando nos legisladores e acabando no cidadão comum. O sistema precisa de confiança para funcionar – exige que acreditemos nele. Para confiarmos nele é necessária uma nova postura, que nos obriga a todos, mas principalmente aos decisores.
A justiça é condição fundamental para a vida em democracia, em liberdade, em segurança, em igualdade de oportunidades. Apesar de muito útil, não pode ser instrumental, nem instrumentalizável, sob pena de se tornar apetecível a quem tem poder e não tem escrúpulos, para conseguir os resultados que considera mais adequados, mais “justos”, através de expedientes menos claros, ainda que “legais”. Nem pode ser privatizada, cair nas mãos de justiceiros ou da opinião de rua – necessita da seriedade, do bom senso e do recato de instituições qualificadas. Dela depende a nossa liberdade.
Todos sentimos que não pode continuar o clima de suspeição que a tem arrastado para um lamaçal que nos condena ao atraso. A ideia generalizada é a de que não vende saúde, porque é arma de arremesso politiqueiro, porque existem promiscuidades incompreensíveis, porque se fortalecem corporativismos serôdios entre os seus agentes, porque é pressionável e não tem a força necessária para actuar com celeridade, rigor e isenção, porque permite imensos expedientes “legais” que a impedem, porque serve ricos e poderosos, porque é cara e inacessível aos mais pobres.
Se não se pode falar dela de forma ligeira, também não se pode ignorar a imagem de fragilidade que teima em imperar. A sensação de que vivemos numa sociedade injusta vem sobretudo desta incapacidade de garantir às pessoas um sistema que lhes proporcione não o resultado que esperam ou desejam, mas o cumprimento inabalável de regras justas e iguais para todos. Assim, é imprescindível que todos os cidadãos e organizações, sem excepção, lhe possam aceder, garantido direitos e deveres, a protecção contra abusos de poder e actos ilícitos – tantas vezes do próprio Estado –, nomeadamente atentatórios da sua segurança, da sua propriedade e do seu trabalho.
Temos de exigir, mas temos também muito que dar: não esqueçamos que todos acabamos por ter nas nossas mãos, diariamente, no Estado, nas empresas, nas organizações, nas relações pessoais, decisões que determinam um tratamento justo ou injusto das outras pessoas.
É urgente construir uma sociedade de confiança, numa mudança estrutural, funcional e comportamental que envolva a todos, residindo particular responsabilidade sobre os diversos agentes que devem garantir-nos justiça. Sendo imprescindível acreditar que a imagem não corresponde à realidade, é igualmente inadiável uma outra qualidade na comunicação da classe política, dos tribunais e das polícias. Como em tudo na vida, o exemplo é determinante. Na Justiça, precisamos de exemplos mais dignos de seriedade e isenção. Ela é como a mulher de César – não basta ser séria.

Ângelo Ferreira

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Blogging

O mundo permanece em silêncio (Ben Dror Yemini no Rua da Judiaria)
O mundo permanece em silêncio II (Ben Dror Yemini no Rua da Judiaria)
O mundo permanece em silêncio III (Ben Dror Yemini no Rua da Judiaria)
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segunda-feira, 28 de julho de 2008

Mensageira de Esperança

Desarranjados e sujos, tanta vezes arrumadores outras tantas, nada, habituámo-nos a virar a cara e a mudar de rua. Fecha-nos o preconceito e a distância. A bem deles, e nosso também, há quem veja neles homens e mulheres, quem lhes “pegue ao colo” e os ajude a voltar a acreditar.

Sentada no refeitório em amena cavaqueira vai, com atitude atenta e acolhedora, interpelando quem chega pela porta sempre aberta que dá para o Intendente. Um sorriso aberto a todos, uma graça, um comentário e sentem-se em casa. Oferece-se como Mãe para os que estão no fim da linha. É assim há pelo menos 15 anos.


Ana Campos Reis. Enfermeira, por vocação desde os 14 anos ou provavelmente desde sempre, porque uma vocação como esta tem de estar nos genes, trata de homens e mulheres que a doença apanhou por casualidade ou por irresponsabilidade mas que, fatalmente, os levou para onde não queriam ir.
Toxicodependentes, prostitutas, trabalhadores, mães de família, novos, velhos, todos num mesmo saco de exclusão.
“- O que é que vamos fazer da tua vida?”
Uma pergunta feita a todos. Uma mão que se estende, uma porta que se abre, uma esperança que renasce.

Começa sempre pela adesão ao tratamento, e depois vem a refeição segura, um tecto acolhedor, um ombro para chorar ou uma presença que os ajude a morrer.

Santa Rita de Cássia, Santa Maria Madalena, Santa Teresa. Três casas da Misericórdia de Lisboa, onde trabalha há 37 anos, que permitem a esta mensageira da Esperança realizar prodígios na vida de quem já não acredita.
Habituada a lidar com a morte que lhe bate à porta vezes demais, sabe olhá-la de frente e ajudar a que outros aprendam a ver nela a libertação e o início da verdadeira Vida.

Nada tem de vulgar esta mulher que escolheu viver para os mais necessitados, nos quais deixa, de modo indelével, a sua impressão digital: Esperança.

Francisca Assis Teixeira
Publicado na revista Magazine em 2007


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Aga Khan- em entrevista ao Público

"Por isso, é necessário trabalhar o princípio de uma ética cosmopolita, que não é uma ética orientada por uma fé ou para uma sociedade. Falo de uma ética em que todos os povos possam viver numa mesma sociedade e não numa sociedade que reflicta a ética de uma só fé. A essa ética eu chamaria qualidade de vida.Tenho sérias dúvidas sobre o discurso ecuménico e sobre até onde ele pode ir, mas não tenho dúvida nenhuma sobre a ética cosmopolita. Acredito que as pessoas têm as mesmas preocupações básicas, alegrias, tristezas. Se conseguirmos um consenso em termos de ética cosmopolita, teremos algo muito importante. (...)

Portugal é um país muito importante...
Por isso veio aqui celebrar o seu jubileu de ouro?
Fui a vários outros sítios. Mas Portugal tem factores muito importantes: na sociedade portuguesa, o pluralismo é uma construção social em funcionamento e isso é relevante em qualquer sociedade, seja industrial ou de outro tipo. Em segundo lugar, há um desejo político de reconhecer estruturas de fé e de lhes dar um papel apropriado na sociedade. A terceira razão é que Portugal tem uma história extraordinária e o país entende o pluralismo. A maior parte da história de Portugal tem sido a de envolvimento no pluralismo durante séculos, há uma aceitação da diferença na vossa história."

in Público, P2, 23 de Julho 2008
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Brancos, Pretos, Ciganos e os Jogos Olímpicos

Ensina-nos a teoria que qualquer “grupo étnico” tem tendência a concentrar-se em bairros, quando ocorrem as circunstâncias para isso, como um mecanismo de protecção, solidariedade e afirmação da sua identidade “étnica”. Foi também este o caso de Portugal nas décadas de 60 a 90. Estes bairros, surgiram de forma progressiva. Casa a casa, rua a rua. Vizinho escolhendo e aceitando o próximo, aprendendo a conhecê-lo. Bairros em que as origens tinham importância na manutenção de laços culturais e em que a integração social se fazia por via de solidariedades e particularismos locais. Na década de 90, estes equilíbrios foram alterados por via de processos de realojamento necessários mas pouco equilibrados e, sobretudo, mal pensados. As boas intenções geraram integrações forçadas, convivências não preparadas e conflitos latentes à espera de oportunidade. Pois bem, a anomia social, de que a sociedade actual sofre, fez surgir a oportunidade e os conflitos são hoje manifestos. Os casos que vão enchendo os jornais, mostram como as políticas nacionais ou locais podem ser tão seally como a season em que vivemos. O diagnóstico está há muito feito. Agora é necessário tratar a doença.

Por outro lado, de quatro em quatro anos chegam os Jogos. Descobrimos países que não conhecíamos. Desportos onde os grandes perdem para os pequenos, os favoritos para desconhecidos e os veteranos por vezes superam os jovens. No caso português, descobrimos também que os portugueses já não são todos brancos, baixos e de bigode, mas que os há de todos os tamanhos, sexos e cores (e com ou sem bigode). Nos Jogos sentimos orgulho nos portugueses que nasceram na Nigéria, em Moscovo, em São Tomé, em Paris, em Caracas, na Costa do Marfim, em Cabo Verde, no Porto, em Lisboa, em Coimbra ou em Montemor o Velho. Sentimos orgulho, não nas suas vitórias, mas por estarem lá, representando o nosso país, um país onde cabem todos. Ora, se cabem todos num país não caberão todos na nossa sociedade?

Que o espírito dos Jogos vos acompanhe.

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Blogging

Para quando um SISTEMA DE SAÚDE em Portugal? no 4R - Quarta República

"Vai-se continuando a puxar por uma "manta curta" que ora tapa aqui, ora destapa alí, ora reestrutura e encerra serviços, ora assiste ao grave desvio dos seus melhores profissionais (e da sua escola formativa), ora constata e se queixa que é "fornecedora" dos cidadãos que "alimentam" o sector privado, ora reconhece alguma ineficiência e desperdício de uma máquina pesada que obriga a prestar serviços a preços mais elevados...

Assim continuará, enquanto se continuar a defender que os outros dois pilares prestadores de serviços de saúde são supletivos, complementares e não concorrenciais do SNS!"

Efeitos da digressão internacional no Eleições Americanas de 2008
"No final da viagem, Barack Obama acreditava que esta não lhe ia ser favorável: “não ficaria surpreso se algumas sondagens indicassem uma descida, pois estivemos fora do país durante uma semana”. Mas a digressão pelo Médio Oriente e Europa caiu em nos americanos. Pelo menos é isso que indicam as duas tracking polls da Rasmussen e Gallup."

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domingo, 27 de julho de 2008

Não é preciso inventar a roda...

Num recente congresso sobre Inovação Social, conheci o projecto Teach For America.
Para leigos na matéria -como eu- é um conceito brilhante, que visa ajudar ao fim da desigualdade na Educação: são recrutados recém licenciados das melhores universidades, é-lhes dada formação específica, e, por dois anos, são colocados em escolas inseridas em comunidades menos favorecidas.
Não se espera que, por si só, estes professores compensem todas as falhas do sistema. A convicção (e a esperança!) reside também no facto de que, com uma forte consciência da realidade destas comunidades, estes futuros líderes promovam uma mudança, a partir do exercício das suas futuras actividades “fora” do sistema de ensino: no sector público, nos media, nas empresas e na influência política.
Quanto aos mais cépticos:
“Critics have challenged the program’s usefulness, pointing out that the teachers it places are neophytes and that a majority leave the classroom after two years. But the new study suggests that talented young people can have a lasting effect even if they do not make a career of teaching. According to the study, Teach for America participants who worked in North Carolina between 2000 and 2006 had more impact on student performance than traditional teachers did, as measured by end-of-course tests. The difference was observed in several areas of science and was strongest in math.” (New York Times)
A ideia já foi “exportada” para uma série de países. Quem sabe Portugal não poderia pôr esta "roda a rodar"!

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Pizza: uma alavanca para o desenvolvimento regional

"A abertura de uma pizzaria, e a onda de visitantes que esse acontecimento promoveu, deu vida nova à aldeia de Pedralva, no sudoeste algarvio, que irá receber investimentos de renovação urbana e equipamentos de 1,8 milhões de euros. É a resposta das entidades públicas ao renascimento da aldeia que, nas últimas décadas, definhou lentamente com a perda de população.

A instalação de uma pizzaria, cuja afirmação já ultrapassou fronteiras, trouxe cada vez mais visitantes, motivou a abertura de outros negócios e conseguiu inverter o declínio social. Nos últimos anos, a aldeia rural, com apenas nove habitantes, começou a ser procurada por pessoas de todas as regiões."

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Leituras

"Acha que Portugal tem mais a ganhar com a direita ou com a esquerda?

Tenho muita dificuldade em considerar essa classificação útil nos dias de hoje. Eu acho que há uma transversalidade de muitas questões e um grau de complexidade na vida política que faz com que o quadro esquerda e direita esteja ultrapassado. Eu próprio tenho muitas ideias que são de esquerda e muitas ideias que são de direita e não acho que sejam conflituais. Tenho uma noção muito elitista da cultura que tradicionalmente é da direita. Tenho uma visão dos costumes que me aproxima mais de uma tradição que vem da esquerda. Portanto, prefiro não dizer o que é melhor, se é a direita se é a esquerda, mas tentar discutir o que é melhor em termos substantivos. "

JPP no DN


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Parabéns!

Investigadora portuguesa recebe 2,25 milhões de euros do European Research Council

"A este primeiro concurso de Bolsas Avançadas da European Research Foundation concorreram 2167 investigadores: 766 na área das Ciências da Vida e Medicina, 997 na área da Física e das Engenharias e 404 nas Ciências Sociais e Humanidades.

Os investigadores concorrentes tinham uma média de idades de 52 anos e provinham de 50 nacionalidades. As mulheres representavam 14 por cento dos concorrentes. Apenas um por cento dos investigadores candidatos eram portugueses, metade dos quais mulheres."



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sábado, 26 de julho de 2008

O Estado e o Cidadão: uma Ponte Estratégica

É relativamente fácil que, embalados pelo ritmo alucinante do dia a dia, das catadupas de informação, da vertigem do mais rápido, das cores da ilusão, se possa ter alguma dificuldade em descobrir espaço para o discernimento e a reflexão. O egoísmo e a ganância ganham espaço nas nossas mentes e reflectem-se na lide diária, nomeadamente, na vida comunitária, nos deveres enquanto cidadãos comuns. Esta visão sombria é, não poucas vezes, confrontada com a capacidade que temos em cooperar com terceiros e trabalhar em parceria… duas faces da mesma moeda, que sempre me suscitaram curiosidade.

Ao defender-se uma política de Pontes, está-se a assumir, categoricamente, uma acção baseada num conjunto de princípios que, certamente, ninguém refutará: responsabilidade, idoneidade, liberdade, justiça, democracia. Todavia, estas Pontes, por vezes, são difíceis de estabelecer. Se se aceitar o facto que todos temos um tanto de egoístas, também devemos ter em conta que conseguimos contribuir para o Bem Comum se tivermos presentes e assumirmos estes valores e princípios universais que sustentam a vida civilizada. A predisposição que o ser humano tem para cooperar está nos seus genes, contudo, verifica-se que quando este processo de interacção colide com os interesses individuais de cada um, a dificuldade em edificar as tais Pontes, torna-se uma tarefa difícil senão, mesmo, hercúlea.

Por outro lado, esta tarefa é também dificultada quando a liberdade individual e a livre iniciativa são amputadas pela acção desmesurada e desproporcionada do todo-poderoso e pseudo-moralista Estado. Ao longo dos anos, e à medida que as pessoas se foram apercebendo das consequências perversas que esta intervenção foi gerando, ao mesmo tempo que a base Ética foi tragicamente descuidada, facilmente a cedência à força das conveniências foi imperando, transformando uma sociedade que se augurava e desejava de Homens livres, responsáveis e participativos, numa sociedade de gente dependente, em muitos casos, batoteira e pouco Ética. Este Estado que deveria ajudar a garantir o tal “jogo limpo”, com regras claras e justas, auxiliando os mais desfavorecidos, sendo cumpridor, dando lustro às boas práticas e facilitando a iniciativa individual e do terceiro sector, acabou por promover e potenciar exactamente o contrário.

Conhecendo estas dinâmicas, e no pressuposto que o Estado actue de forma responsável, olhando para o cidadão como ser humano dotado de enorme potencial, com personalidade, inteligente, capaz de interagir e socializar-se, capaz de ser dinâmico e pró-activo, ser diferente, será possível garantir um Estado supletivo promotor do princípio da subsidiariedade, não se substituindo à iniciativa individual das pessoas ou da comunidade, responsabilizando-os e, dessa forma, valorizando e enobrecendo a sua acção.

Muito recentemente, foi publicado pela revista Nature, um artigo científico da autoria de investigadores portugueses, liderados pelo Prof. Jorge Pacheco da Universidade de Lisboa, em que se teoriza acerca desta matéria. Assume-se que existe o tal egoísmo e as difíceis relações que por vezes colidem com o interesse comum. Todavia, defende-se que a cooperação existente é potenciada pelo facto de sermos diferentes, afirmando que esta diversidade torna a cooperação muito mais fácil. “O deixar-se que as pessoas possam ser diferentes, leva a que acabem por cooperar – e a sociedade como um todo beneficia disso. A diversidade é uma grande janela de oportunidade para a cooperação(Jorge Pacheco, in P2 de 10 de Julho de 2008). Ora, só é possível “abrir” essa janela de oportunidade, se a liberdade individual e de livre iniciativa for facilitada, e dentro dos patrões Éticos e das regras da sã concorrência. Aqui, desempenham papel fundamental o Estado e o cidadão.

Para os mais altruístas, um pensamento final: “Não recebemos paga ou recompensa por prestarmos serviço, mas isso torna-nos homens livres” (Baden-Powell). Nem mais!

Miguel Oliveira

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sexta-feira, 25 de julho de 2008

Esperança, verdade e rigor

É fundamental que uma proposta de Esperança assente numa abordagem da realidade com Verdade. Uma esperança assente em mentiras ou versões grosseiramente distorcidas da realidade desfaz-se rapidamente e a desilusão repetida ameaça toda a esperança.

A situação económica do país e a situação financeira do estado são graves, não só por causa da conjuntura internacional mas também por causa do modelo de desenvolvimento adoptado em Portugal nas últimas décadas, mais baseado em infraestruturas e em estatísticas educativas do que numa real melhoria da educação.

Como se isto não bastasse e perante a situação actual, é preocupante que o governo queira apoiar a esperança numa repetição deste modelo, quando a necessidade das novas infraestruturas é muito discutível.

A superficialidade da argumentação que defende as novas obras tenta tirar partido de uma tendência para desvalorizar os aspectos técnicos, por serem considerados menos nobres ou por se imaginar que qualquer decisão política pode sempre ser sustentada num estudo correcto. Ora isto não corresponde à verdade.

O processo da Ota foi para mim um grande sinal de esperança pois não me recordo de, na nossa democracia, a opinião pública, aliada às posições públicas dos técnicos, ter forçado um governo a travar uma decisão que seria desastrosa para o país.

Infelizmente o governo tenta repetir a ideia em obras sem suficiente justificação. E a sugestão de que se trata de investimento privado é simplesmente incorrecta. Só o seria se os riscos fossem corridos essencialmente pelos privados e tudo indica que não será assim, porque se prevê que estes investimentos não possam dar lucro.

Perante a divergência com a Europa, repetimos o modelo que nos trouxe aqui, só que agora em maior escala e com uma menor necessidade de mais infraestruturas. Um pouco como aquelas famílias que, quando deixam de ter dinheiro para pagar um empréstimo, contraem outro a uma taxa de juro superior, para pagar as mensalidades do primeiro.

As propostas políticas ao eleitorado podem e devem ter em conta a verdadeira situação do país e do estado e a partir desta definir as prioridades, não abdicando da construção de uma sociedade mais justa, equilibrada e melhor para todos.

É necessário ponderar e justificar bem os sacrifícios que são pedidos aos portugueses. É necessário que o rigor orçamental e eventuais sacrifícios adicionais em áreas como a saúde, a educação e a segurança social sejam acompanhados por um rigor ainda maior em áreas como os gastos (e outros compromissos) em mais obras públicas.

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Ser Diferente


O MEP, como Movimento Cívico a um passo de se tornar partido político, marca a diferença.

Um conjunto de pessoas com diferentes percursos pessoais e profissionais decide juntar-se e, em tempo recorde, apresenta (e supera) o número mínimo de assinaturas requeridas pelo Tribunal Constitucional. O MEP foi diferente na forma como surgiu, cresceu e se tornará partido político.

Será também diferente na forma de fazer política. Ao afirmar-se como partido de centro pode não parecer diferente de outros que, mais ou menos timidamente, também aí se posicionam. Mas, é precisamente nesse posicionamento ao centro que o MEP faz a diferença, assumindo-se como um partido de forte cariz humanista apostado em fazer “construção” e não “oposição”. Nova diferença.

Perguntar-se-á, o que é isso? Construção em vez de oposição? Pois bem, a ideia é simples. O MEP está empenhado em acabar com a luta pelo poder assente num constante “reinventar da roda” e na construção de políticas cuja motivação é essencialmente uma: fazer diferente do partido que está no poder. O MEP agirá de forma diferente.

O MEP é também diferente no discurso político ao falar de Esperança. Curiosamente, o PSD também começou, desde o último congresso, a falar de Esperança. E isso é mau? Claro que não. Significa que o MEP tem razão e que precisamos, todos, de pensar e implementar políticas que tragam esperança aos portugueses. Então qual a diferença? Simples. O MEP, como o nome indica, acredita que “Melhor É Possível” pelo que é necessário, para trazer a esperança de volta a Portugal, potenciar o que está bem feito e propor melhorias no que está menos bem. Sem complexos de esquerda ou de direita. Apenas movidos pelo Bem Comum.

O MEP tem igualmente que ser arauto do direito à diferença e fazê-lo de forma diferente. Para tal, deve promover a diferença com os outros e não contra os outros. É preciso aceitar o outro nas suas opções políticas ou sociais, bem como nas suas diferenças culturais ou religiosas, entre outras, procurando construir pontes que promovam a inclusão e não a exclusão. A promoção e o respeito pela diferença não devem assentar na agressão da liberdade e da própria diferença do outro. É caminho difícil, mas acreditando que melhor é possível o MEP saberá contribuir, também aqui, com abordagens e soluções diferentes.

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Leituras

SOBRE O "FASCISMO HIGIÉNICO" (Pacheco Pereira no Abrupto)
O Homem que mordeu o cão (JN)
Sócrates quer a língua portuguesa na 'primeira linha da batalha política' (Sol)
Instituições chegam a acordo com Governo e vão receber reforço de verbas (Sol)
Louçã analisa crise financeira (jornal Esquerda de Julho)
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Construtor de pontes

"People of the world - look at Berlin, where a wall came down, a continent came
together, and history proved that there is no challenge too great for a world
that stands as one."
Barack Obama, Berlim, 24-07-2008

Barack Obama foi escutado em Berlim, por 200.000 pessoas. É a maior manifestação política na cidade desde a queda do muro. Não espanta que tenha sido de muros que o candidato falou no discurso que escolheu para os Europeus, nesta viagem dirigida aos americanos.
Depois de conseguir o impossível nas primárias americanas, a campanha de Obama tem boas razões para acreditar que esta sua tournée pela Europa e Médio Oriente irá desfazer uma das últimas dúvidas que o eleitorado americano tem sobre o candidato: a sua competência para a política externa.
Os mais cépticos agudizam as críticas numa directa proporção com os sucessos de Obama esquecendo que o seu êxito não começou no dia em que o mundo reparou nele. Vale a pena ler o seu livro para entender o protagonismo que a esperança de que fala tem nesta sua caminhada. Ele é o resultado da própria esperança que proclama e é nessa coerência que reside a chave para a compreensão do seu sucesso e das suas palavras.


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quinta-feira, 24 de julho de 2008

A (IN)JUSTIÇA DAS NOVAS CUSTAS JUDICIAIS

Muito se tem escrito e falado nos últimos tempos sobre a Justiça, sendo tema corrente nos órgãos de comunicação social, designadamente na rádio, na televisão e jornais.

Por tudo e por nada, comentadores, jornalistas, políticos, juristas e até o comum do cidadão debatem o estado da Justiça em Portugal.

De facto, compreendo a preocupação.

Nunca a Justiça em Portugal viveu tempos tão conturbados, com o enorme atraso que se verifica nas pendências processuais, a ineficácia do sistema judicial em executar as decisões que profere, o sentimento de impunidade geral, a frequente mediatização dos processos e tantos outros males que não me parece necessário aqui referir, pois o diagnóstico há muito que está traçado.

Aqueles que trabalham diariamente nos tribunais e aqueles que a eles recorrem sabem bem o significado da chamada “crise da Justiça”.

Acredito seriamente que funcionando bem o sistema de Justiça é possível acabar com a “crise económica”, a “crise social”, a “crise de valores e princípios” ou a “crise de confiança” que os portugueses actualmente sentem.

É bom, por isso, que se discuta o estado da Justiça.

Os holofotes têm, todavia, sido dirigidos para os processos Casa Pia, Apito Dourado, Fátima Felgueiras, Bragaparques e caso Maddie, para citar alguns, e para questões que envolvem o segredo de justiça, as escutas telefónicas ou o mapa judiciário.

Raramente, nos artigos de opinião e nos debates, vejo discutir outros temas que também interessam à Justiça.

Julgo que seria útil trazer à discussão outros temas, aparentemente de menor importância, que são cruciais para um melhor funcionamento da Justiça, como é o caso das custas judiciais.

No dia 1 de Setembro de 2008 irá entrar em vigor o Decreto-lei n.º 34/2008, de 26 de Fevereiro
, que aprova o regulamento das custas processuais.

Reconheço que o diploma vem introduzir melhorias que são de louvar relativamente ao regime anterior, como a diminuição do valor das custas no caso de serem usados meios electrónicos ou o tratamento diferenciado dos litigantes em massa, mas nem por isso posso deixar de reflectir sobre as implicações do mesmo no acesso à justiça e aos tribunais.

Compreendo o princípio do pagador utilizador e que através das custas judiciais se procure moralizar e racionalizar o recurso aos tribunais, mas as custas judiciais não podem de modo algum servir para financiar o Estado e muito menos para diminuir as garantias de quem necessita de recorrer ao sistema judicial.

Não é aceitável que através de taxas de justiça elevadas se procure dificultar os recursos e as acções de “especial complexidade”. A medida em si só contribui para que os que têm menores recursos financeiros fiquem prejudicados nos seus direitos de acção e defesa, já que os que podem com facilidade recorrer aos tribunais continuarão a litigar independentemente do valor que forem obrigados a pagar.

Também não é aceitável - e esse problema já resultava do anterior código das custas judiciais – que o valor cobrado pelos tribunais seja manifestamente desproporcionado em relação ao serviço prestado. Pergunto como é que uma simples cópia de um auto de inquirição que tenha apenas duas páginas pode custar doze euros?

O acesso à justiça e aos tribunais só será verdadeiramente universal se as custas dos processos não forem de tal forma elevadas e desproporcionadas que afastem do sistema aqueles que ainda assim têm alguns rendimentos para suportar custas, mas não podem beneficiar do apoio judiciário.


Compete ao Estado assegurar a todos, sem discriminação, o acesso ao direito e à Justiça com qualidade, organizando o serviço em função da procura.

Um regulamento de custas processuais diferente, mais justo e equilibrado, que não tivesse como principal objectivo a diminuição dos processos pendentes nos tribunais, ajudaria certamente a alcançar esse resultado.

Melhor era possível!

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Intercultural(idades)

Recentemente uma amiga minha mostrou-me umas fotografias do Jardim de Infância que coordena. De imediato se destacava a diversidade de origens das crianças. Um autêntico “melting-polt”de menin@s sorridentes, criando, brincando, interagindo. Diverti-me ao ouvir os nomes e alcunhas, os comentários às conversas que as educadoras procuram estimular aproveitando esta mais valia *“Somos todos diferentes uns dos outros e ainda bem!”. De repente, lembrei-me da preparação de um teatro, há umas décadas atrás. Éramos uns vinte e tal miúd@s a pesquisar o atlas, a ouvir músicas em linguagens “estranhas”, a imitar trajes tradicionais e a vivenciar outros ritmos. A apreender distintas possibilidades de ver. A reinventarmo-nos outros. Interessante, sem dúvida, mas uma proximidade só da imaginação, um “faz-de-conta”. Pelo contrário, para as crianças deste Jardim de Infância - incluída num típico bairro portuense carenciado - a aprendizagem intercultural é uma realidade diária. Reflexo de mudanças estruturais profundas dentro de uma comunidade. Da necessidade de criar uma relação construtiva e positiva com o mundo envolvente. Nós fabulávamos povos e culturas exóticas, este menin@s partilham entre si hábitos familiares - como lanches com variados paladares - cantam as suas canções de embalar, explicando significados; recontam a terra dos seus pais, já não em primeira voz mas com a carga emocional do que vão ouvindo. Um território simultaneamente distante mas intimo nos afectos que vão definindo a sua identidade. Quem sabe o que resultará desta convivência… Certo é que esta geração já “experimenta” um mundo com múltiplas maneiras de ser, de fazer ou de dizer as coisas. Talvez assim se vá concretizando a ideia que *“aceitar e valorizar a diversidade humana é um dos traços essenciais da nossa civilização”.

* Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada

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Leituras

O Lado Oculto dos Políticos
(Pedro Lombra no DN)

«Talvez pudéssemos no futuro passar a escolher os políticos de outra forma: não comparando o que cada um revela, mas ponderando os seus lados ocultos.»

Janus
(Maria José Nogueira Pinto no DN)

«Tudo isto reforça a exclamação de García Márquez: temos hoje tanta informação, mais do que alguma vez pensámos ser possível e, contudo, quase nunca sabemos a verdade.Porque como diz Rushdie, quando a imagem e a ilusão se tornam as bases da política, percebemos que quase todos são idólatras e já não existem muitos iconoclastas.»

Novo Curso de Medicina na Universidade do Algarve (Público)
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Política telefonista

Vivemos num país onde a quase totalidade (mais de 90%) da dinâmica empresarial corresponde a pequenas (ou muito pequenas) e médias empresas. Além disso, são elas que empregam e permitem o sustento da maioria dos portugueses. Em Portugal, grande parte da criação de riqueza e de emprego está assente em dinâmicas empresariais de pequena dimensão, muitas vezes familiares.
A nossa economia depende, e dependerá cada vez mais, não de milagres, mas da iniciativa dos portugueses, do seu grau de empreendedorismo, da coragem de correr riscos, da criatividade e capacidade de inovação, da dedicação ao trabalho. Já estaremos todos a pensar: ora, isso são boas notícias, porque os portugueses, em regra, e no devido contexto, são empreendedores, criativos, trabalhadores. Mais, nos quatro cantos do mundo, para onde emigraram, costumam ser trabalhadores apreciados e empresários de sucesso.
Há, no entanto, no nosso país, muitos aspectos a modificar – desde logo ao nível da qualificação dos portugueses –, para que o contexto seja apropriado ao desenvolvimento económico e social, ao progresso que todos desejamos. As apostas necessárias para criar um ambiente favorável ao progresso podem ser muitas e complexas, mas uma é notória e urgente: exigir um Estado árbitro, isento, rigoroso e transparente. Um Estado menos jogador (intervencionista), que vicia e altera permanentemente as regras do jogo, e que, vez sem conta, sob a desculpa de estar a intervir para nosso bem, não se percebe que interesses beneficia.
Assim, ganha enorme relevância, para a actividade económica livre e concorrencial – a única que serve aos cidadãos –, o desempenho da Justiça e da Administração Pública, seja central ou local.
Há umas semanas atrás, no programa Prós e Contras, o Dr. Basílio Horta, presidente da Agência Portuguesa de Investimento, que tem entre as suas missões a captação de investimento estrangeiro, disse, vangloriando-se das conquistas recentes da API, e procurando elogiar o governo, que o Primeiro-Ministro e o ministro da Economia se tinham empenhado pessoalmente em muitos dos casos, tendo chegado a fazer telefonemas para desbloquear “constrangimentos burocráticos”1. Disse-o como se essa fosse tarefa para os principais responsáveis pelo nosso governo. Fantástico. Certamente que, entre os que assistiam, muitos terão aplaudido essa discriminação positiva em favor do desenvolvimento do país. Eu não.
Um dos males da nossa democracia, pouco madura, reside na necessidade dessas intervenções, desses telefonemas a desbloquear “situações”. O pior é que a maioria dos cidadãos ou empresários não têm a quem telefonar. Aquilo que acontece ao nível do governo, acontece também a todos os níveis da Administração Pública por aí abaixo – há quem consiga esse vantajoso grau de proximidade com o poder, mas a grande maioria não o consegue. Além de que esse é um modelo abjecto.
A par com essa mania de tirar o chapéu aos grandes e aos compadres, há todo um tecido empresarial, de iniciativa, de trabalho, que não merece sequer o menor respeito: apenas o acesso a uma administração simples, eficiente, imparcial, que evite a necessidade de telefonemas especiais.
De que valem a “empresa-na-hora” e o tão pregado “pensamento positivo”, se depois há uma fileira de “pequenos poderes” espalhados por múltiplos organismos, que tão difícil tornam a iniciativa a um potencial empresário?
Sem a isenção da Administração Pública e dos seus responsáveis, sem a simplificação de procedimentos, e sem uma Justiça actuante e célere, acessível a todos, os empreendedores cairão em desânimo e abdicarão. Ficará apenas o deserto do favorecimento aos grandes investimentos - nalguns casos de rentabilidade questionável - e ao pequeno compadre.
É a hipoteca do nosso futuro. É a cegueira política, que permite que a árvore esconda a floresta.
Ângelo Ferreira
[publicado no jornal Diário de Aveiro, edição de 22 de Julho de 2008]
1. apesar de tudo, e em abono da pessoa, Basílio Horta dizia em 14.11.2005 que a intervenção do estado na Economia devia ser «Intervenção com o intuito de eliminar barreiras, não de gerir».

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Quinta da fonte

Tenho acompanhado com alguma distância a questão que se levantou com o tiroteio entre a comunidade cigana e negra que coabita um bairro social de Loures. Têm surgido as contaminações ideológicas do costume e parecem-me, como quase sempre, exactamente isso: contaminações que relativizam e desviam do essencial.
Acabei de ler um artigo de fernanda câncio com quem partilho (de vez em quando acontece) a posição. Sem dispensar a leitura integral (convém mesmo ler o resto para não perder todo o contexto) permitam-me destacar o seguinte:

" (...) é intolerável, do ponto de vista de qualquer pessoa com sentido de justiça, seja de esquerda, direita ou do raio que a parta, que alguém que se esforça a trabalhar viva em piores condições que alguém que não o faz e recebe o rendimento social de inserção. e essa realidade é demasiado frequente para ser alegremente ignorada ou tratada como um mito urbano.

significa isso que as políticas sociais são erradas e devem ser anuladas, como parece propor rui ramos (e digo parece porque na verdade ele não se compromete com o propor seja o que for)? não, não e não. creio nas vantagens de um sistema redistributivo e os dados existentes há décadas no mundo inteiro demonstram que esse sistema funciona — e funciona com vantagem para a comunidade, além da vantagem oferecida aos beneficiários. tem perversões? tem, claro. é preciso olhar para elas de frente, aceitando que existem, e tentar diminui-las.

o assistencialismo que faz crianças intratáveis das pessoas crescidas, oferecendo-nos espectáculos como o das famílias ciganas da quinta da fonte ou o dos moradores em fúria do bairro do aleixo (porto) é um erro. e surge tanto mais como um erro quanto há todos os dias gente a ter de sair de casas compradas a preços histéricos por não conseguir pagar as prestações ao banco enquanto em bairros sociais há quem não pague a renda há mais de 10 anos ou venda a chave a um primo enquanto recebe o rsi, tem uma antena meo na janela, três telemóveis topo de gama e se queixa de não ter esquentador para dar banho quente às crianças (e não estou a inventar). não é admissível que isto se passe, e tem de ser possível encontrar respostas e soluções para isto. (...)"


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Perdemos a noção de serviço pelo bem comum

Num artigo publicado na revista “Comunicação e Linguagens” nº 21/22, editada pela Faculdade de Ciências e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, o prof. Wilson Gomes, socorre-se dos conceitos de mundo tangível e mundo media para nos explicar as formas como apreendemos o mundo nas sociedades modernas. Assim, enquanto o mundo tangível se refere aos fenómenos ocorridos no espaço físico e social em que cada indivíduo se integra, o mundo media remete-nos para os acontecimentos ocorridos para além do espaço natural que cada um habita, e que nos chega através dos meios de comunicação. Na medida em que os acontecimentos são cada vez mais globais e menos locais, é a mensagem mediática que ganha relevância e fornece o quadro de valores necessário à convivência social nas sociedades modernas, conclui o prof. Wilson.
Lembrei-me deste artigo a propósito desta notícia brutal que, em pleno século XXI, não nos pode deixar de chocar e envergonhar. Afinal nós sabemos e preocupamo-nos com tudo o que o mundo media nos faz entrar todos os dias pela casa adentro. Ele é o Tony Carreira, que depois de se tornar o mais bem pago da sua editora, acaba com um casamento de 15 anos; ele é o Ronaldo, que depois de despachar a Nereida, vai seduzir miúda para o Cabo; ele é a plástica da Júlia Pinheiro; ele é o novo amor de Clara de Sousa; ele é a preocupação dos espanhóis com a depressão e a magreza de Letizia; ele é… uff, que canseira!

E de tão cansados esquecemo-nos de olhar à nossa volta e ver o mundo tangível que nos circunda, repleto de dramas reais de abandono, de solidão, de miséria. Na sociedade individualista em que vivemos, perdemos a noção de serviço pelo bem comum. Não sabemos nem queremos saber o que se passa no nosso concelho, na nossa freguesia, no nosso bairro e nem sequer… no nosso prédio. Pelo menos até ao dia em que o nosso mundo tangível nos entra pela casa adentro através do mundo media. Mas nesse dia já é tarde demais. Pelo menos para os que acabam de partir. Porque nós estamos sempre a tempo de rever as nossas prioridades.

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quarta-feira, 23 de julho de 2008

a participação política dos portugueses: principais obstáculos

“The best argument against democracy is a five-minute
conversation with the average voter”


Winston Churchill
A crise de participação política e o correspondente "adormecimento" da democracia são desafios actuais e importantes para o decisor politico. Todos os anos, estatísticas e estudos comprovam aquilo que é do conhecimento de todos: a apatia generalizada dos portugueses na participação política.
Neste primeiro "post" decidi fazer uma análise pessoal da visão do eleitor médio, procurando perceber quais são os obstáculos para a sua participação política. Esta análise resulta da observação de todos os dias, do que leio nos jornais, no que vejo no metro a caminho do trabalho e no que sinto das conversas de café. Procuram espelhar o cidadão médio, aquele para quem se destina as medidas politicas.
A enunciação não pretende carregar mais o pessimismo em torno do cidadão português. Pretende sim, através da sua sistematização e reconhecimento, servir de ponto de partida para opções políticas futuras em matéria de participação dos cidadãos.
A enunciação dessas caracteristicas está acompanhada de pequenas frases típicas dos portugueses que procuram reforçar a ideia subjacente.
(i) "Já tenho problemas que cheguem!" ( a preocupação com as condições económicas e sociais do dia-a-dia)
O avanço das democracias, da tecnologia e das relações sociais, trouxe um boom de preocupações e ocupações diárias. Em Portugal vive-se demasiado afixiado com problemas relativos do dia-a-dia. Com o pagamentos da água e da electricidade. Com o vencimento dos impostos e contribuições. Com a renda da casa e com as despesas da família. Com o trabalho e o salário. Com o desemprego e com a inflação nos bens de primeira necessidade. Com os problemas de heranças, separações ou conflitos familiares. Com o nascimento, crescimento e educação dos filhos. Com os familiares mais velhos, já em situação de doença ou de incapacidade. Com os bens a consumir, com a moda em vigor de acordo e com “modus vivendi” publicitários. Com a vida social dos outros e com as pequenas novelas do dia-a-dia. Em suma, o português é na generalidade um ser que carrega todos os dias o peso da sua sobrevivência, deixando pouco ou quase nenhum espaço para hetero-preocupações ou para o interesse no “bem-comum”. Essas matérias, ficam pois, irremediavelmente nas mãos de homens-doutos (professores, investigadores, interessados) ou nas mãos daqueles cujo dinheiro ou tempo, permite afastar por momentos a vida “comezinha” e dedicar-se à causa pública.
(ii) "gosto daquele político, fala bem e é bonito!" (o sentimentalismo latino)
Pela sua natureza latina o eleitor português projecta a sua intervenção política de uma forma apaixonada. São as pessoas, são os acontecimentos, são os eventos, são os aspectos mais banais da vida política que interessam. Não é o conteúdo, não é o fim a que se destinam as políticas, mas é o sentimento que provocam que o faz agir ou não agir. É uma regra da democracia portuguesa: aquilo que não toca no coração, não impele à participação. Basta atentar por exemplo, a países nórdicos ou de cultura anglo-saxónica para perceber a “frieza” como é vivido o fenómeno político, mais centrado nos reais e problemas sérios do que na parte mais exterior da movimentação política.
(iii) "vamos andando, contando os tostões..." (a acomodação à situação de segurança, justiça e bem-estar relativos)
Em geral, a sociedade portuguesa tem garantidos os mínimos relativos nas áreas de segurança, justiça e bem-estar. Há por isso um certo “adormecimento geracional”, quanto ao valor dessas conquistas milenares. E havendo essa pouca consciência histórica desses passos, há um correlativo desinteresse/indiferença, quanto à manutenção e evolução desses valores para a sua geração e para as gerações seguintes. Diria, usando uma expressão forte, que falta ao cidadão português desafios de valores, batalhas éticas, confrontos com os bens correntes garantidos. Há insegurança, mas não tanta que provoque manifestações, há injustiça mas não tanta que impele as pessoas a intervir na sociedade, há fome, mas não tanta que chegue “á porta de casa das pessoas” e lhes altere o correr do dia-a-dia. O cidadão médio português vive relativamente afligido, mediamente preocupado, mais ou menos consciente das injustiças. Vive no cinzento da ignorância da sociedade. Como refere Philippe Schmitter, professor do Instituto Universitário Europeu numa recente entrevista ao Diário de Notícias “seria melhor para o futuro da democracia que houvesse uma ameaça séria a esta, porque isso traria o ímpeto para a reforma da própria democracia”.
(iv) "estamos na cauda da Europa!" (pequenez geográfica interior)
Poderá parecer um pouco bizarra, esta constatação, mas parece-me haver uma clara correlação, entre a dimensão geográfica do país e o cidadão que nela vive. No fundo aquilo que o filósofo José Gil indica muito oportunamente como sendo o “síndroma de Liliputh”: “o português revê-se no pequeno, vive no pequeno, abriga-se e reconforta-se no pequeno: pequenos prazeres, pequenos amores, pequenas viagens, pequenas ideias (…), pequenos projectos (repulsa instintiva pelos projectos a médio e a longo prazo”. Toda esta pequenez provoca a não envolvência na dimensão da polis, da grandeza da cidade, do “overview”. Toda esta mediocridade geográfica é apenas uma ilusão de poder e um engano sobre a participação activa.

v) "alguém há-de fazer!" (a incapacidade de “inscrição”)
Refere o filósofo José Gil, que uma característica muito marcante da sociedade portuguesa e do seu cidadão médio é a incapacidade para inscrever, para deixar uma marca, para se envolver preenchendo o mundo que o rodeia com a sua presença: “Em Portugal nada acontece (…) nada se inscreve (…) na história ou na existência individual, na vida social ou no plano artístico”.
Este fenómeno, para o autor, resulta de um longo período de Estado Novo “que ensinou a irresponsabilidade, reduzindo-nos a crianças, crianças grandes, adultos infantilizados (…), recusando ao individuo a capacidade e a liberdade para se inscrever” (inscrever no sentido de “acção, afirmação, decisão, com as quais o individuo conquista a autonomia e sentido para a sua existência”). Resulta também de um clima interiorizado de “medo” como filho legítimo da prudência, o medo como hipertrofia que adormece a acção, o medo que inibe a criatividade e ambição, o medo como subavaliação das capacidades, o medo como incapacidade para suportar a realidade.
vi) "talvez dê!" (temperamento lusitano)
É um factor extremamente variável, este que agora apresento. Não é directamente uma causa da falta de participação política, mas quando existe resulta em extremo num cepticismo e num enclausuramento participativo. Resulta do temperamento lusitano. De características emocionais e racionais tipicamente portuguesas que desembocam na inacção. Falo do queixume, da lógica vitimista, falo do ressentimento com expressão tão evidente na inveja, falo da “chico-espertice” portuguesa, do “carapau de corrida”, do “nacional-porreirismo”. Falo da lógica da “fuga á lei” e à normatividade. Falo do oportunismo, da preguiça e do laxismo. Falo do provincianismo, falo do “parecer, mais do que do ser”. Enfim, de tudo o que desvirtua, desvia, desorienta e aparenta. De coisas naturais na génese humana, mas curiosamente mais frequentes na génese lusitana.

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terça-feira, 22 de julho de 2008

A justiça vence (quase) sempre. É só uma questão de paciência.


Foi capturado Radovan Karadzic, um dos maiores responsáveis dos crimes de guerra na Bósnia, depois de anos a monte. É acusado, entre outros crimes, da matança de 7500 bósnios muçulmanos em Srebrenica. O Tribunal Penal Internacional (TPI) tem assim mais uma vitória, ao conseguir que vá a julgamento este ex-líder da República Sérvia da Bósnia.

Este facto constitui um importante sinal de esperança. A afirmação da justiça, à escala global, que é capaz de tocar os maiores responsáveis de crimes contra a humanidade, onde quer que estejam, representa um importante avanço civilizacional.

Igualmente importante é o facto dessa perseguição ser feita dentro dos limites da lei e respeitando as suas regras essenciais, ainda que com criminosos. Nesse sentido, o TPI representa a antítese de Guantanamo da era Bush, ou mesmo de operações de liquidação de alvos por parte de outros serviços secretos ocidentais. O mundo ocidental não pode, nem deve hesitar no caminho que deve escolher. Há que defender a via de quem acredita numa justiça com regras, que defende e procura ressarcir as vitimas, mas o faz com respeito pelos direitos dos arguidos, com penas justas e aplicadas com rigor. Sobretudo, de quem não confunde justiça com vingança.

Fica claro, também, que o tempo corrige muitas injustiças. Que ninguém se consegue esconder para sempre e que, mais tarde ou mais cedo, vencerá a verdade dos factos. Umas vezes, levando os acusados a tribunal, ainda em vida. Outras, ficando condenados na História, em páginas de iniquidade, ainda que nunca tenha passado por um tribunal.
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Leituras

Multiculturalismo (Francisco José Viegas no A Origem das Espécies)

Nota: as sugestões de leituras feitas no âmbito dó tema "Leituras" não são mais do que isso, sugestões de leitura. Não revelam nenhuma concordância minha com os textos, nem especial gosto pelos seus autores. Nalguns casos sim, noutros não, mas isso é comigo. Neste contexto do blog, são apenas sugestões para reflexão e nada mais.

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O MEP não vende aventais...

Do Blog de Paulo Pedroso (PP) (http://bancocorrido.blogspot.com/) retiramos uma estranha lição. Com toda a informação disponibilizada pelo MEP o ex-ministro fixa-se nos aventais... E onde nós todos descobrimos um convite para um almoço de amigos, PP vê a necessidade de discorrer sobre os novos movimentos que querem ser partidos num país que os não aceita... Como nos ensinou o passado... Olhe que não... olhe que não...
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É cada vez mais difícil ser pago a tempo e horas!

Mil milhões de facturas por ano não são liquidadas na Europa; 25 biliões de euros é o custo adicional que a comunidade empresarial europeia tem de suportar anualmente como consequência das facturas pendentes de pagamento; 55,5 dias é a média de atraso no pagamento de facturas no Velho Continente e os governos são os piores pagadores. O Estado português tarda, em média, a pagar aproximadamente o dobro de dias relativamente aos seus congéneres europeus.

Muito sumariamente estas são algumas das conclusões do último relatório relativo aos hábitos de pagamento de 25 países em 2007, onde se incluem a maior parte dos membros da União Europeia. O estudo foi elaborado pela Intrum Justitia, multinacional europeia especializada na gestão de serviços de crédito.

Apoiada nestes dados, a Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE) acaba de criar o projecto “Compromisso Pagamento Pontual a Fornecedores”, a que já aderiram cerca de 20 empresas e que tem como objectivos criar um ciclo virtuoso na vida económica portuguesa e proteger a sã concorrência. Pretende-se desta forma evitar “que muitas pequenas e médias empresas vivam situações desesperadas de tesouraria e caiam mesmo em situação de falência devido a incumprimento de terceiros”.

Depois do Governo ter aprovado em Fevereiro o “Programa Pagar a Tempo e Horas” – embora ainda sem resultados muito animadores – e no momento em atravessamos uma grave crise económica, este é sem dúvida um bom contributo da sociedade civil para ajudar à resolução de um problema sério, que afecta três em cada quatro empresas portuguesas e que se agrava todos os anos.

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segunda-feira, 21 de julho de 2008

Em papel...



"Investigadores da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa desenvolveram os primeiros transístores com papel, uma descoberta que pode permitir a criação de sistemas electrónicos descartáveis a baixo custo."



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Leituras

Retrógrados e passadistas
(João Carlos Espada no Expresso)

As razões por que não podemos desistir
(Nicolau Santos no Expresso)

Casamentos 'gay', o debate e a estupidez
(Henrique Monteiro no Expresso)
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Cidadania Sénior

Hallelujah!


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Leituras & Comentários

Como vencer a crise e fazer amigos
(Correia de Campos no Diário Económico):
«Teremos que bater a todas as portas para fazer negócio, Venezuela, Brasil, Magreb, Angola, a todos os países que nos comprem aquilo que melhor sabemos produzir, obras públicas, telecomunicações, nichos de tecnologia, vinhos e outros regalos. Aproveitar a diplomacia cultural para exportar consultorias sobre o modelo das nossas reformas, na administração, na educação, na segurança social, na saúde. Fazer amigos, ganhar cumplicidades pessoais é um bom investimento para exportação.»
Embora compreenda a importância económica das relações com os chamados países emergentes, alguns dos quais referidos neste texto de Correia de Campos, parece-me que devem ser tidas em conta outras vertentes da diplomacia, nomeadamente a defesa, hábil e sensível, de certos valores. Não somos professores de ninguém, é verdade. Mas também não podemos conduzir o nosso comportamento nos Negócios Estrangeiros apenas pelo que dita a barriga.
Irão condena nove a morte por apedrejamento
(Sol):
«Sob o código penal iraniano, os homens condenados por adultério devem ser enterrados até a cintura antes de ser apedrejados. As mulheres são enterradas até a altura do peito. As pedras não devem ser grandes o suficiente para matar a pessoa de forma instantânea.»
Devemos defender uma política externa orientada pelo estabelecimento de pontes entre sociedades, países, que se pautam por diferentes culturas ou modos de vida, independentemente das raças e religiões, e admitindo diferenças nos regimes democráticos. Mas há coisas que ferem a mais básica condição humana, merecendo todo o nosso repúdio.
Não estamos livres, como sabemos, de críticas. Contudo, os telhados de vidro da nossa imperfeição, deixam ver, para quem quer, diferenças substanciais. Há coisas, como as que esta notícia evidencia, que denotam uma desumanidade assustadora.
Independentemente das opções ideológicas, fujamos à formatação que elas normalmente fazem, e pensemos nas pessoas concretas.
Ângelo Ferreira

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Cicatrizes do Abandono

Diariamente sair de casa a ouvir um filho agarrado ás pernas a dizer : “fica comigo” é terrível…
Imaginemos agora aquelas Mães que saiem de casa numa manhã e se despedem dos seus filhos, tendo no pensamento a incerteza de quando os voltarão a ver, a cheirar, a sentir….

Lembrei-me de 2 mulheres que eternamente estarão no meu coração…a Rosa e a Ivone…

A Rosa, minhota de corpo e alma, viúva, Mãe de 3 rapazes que, sozinha, um dia se viu sem jantar para os filhos e tomou a decisão….ir ter com a cunhada que vive em Luxemburgo e lhe garantiu arranjar um bom emprego.
Numa manhã lá foi ela…despediu-se dos três filhos e prometeu-lhes muitos brinquedos.
Todos os dias estes 3 irmãos jantam, andam na escola e têm brinquedos…mas não têm o beijo da noite…

A Ivone, Cabo-verdiana, que aos 24 anos também se viu sozinha, sem jantar para a sua família e nesse dia ganhou a coragem para partir….
Na manhã da partida, a filha mais nova da Ivone tinha 4 meses e ainda estava a ser amamentada. No mesmo dia a Ivone chegou a Portugal.

Estas decisões por amor e de Mães lutadoras têm consequências a longo prazo…
O aumento das separações, dos divórcios, da desintegração familiar deixou muitas Mães sós e sem meios para sustentar e criar os filhos.
Os baixos salários e o aumento do desemprego são outras das causas para a crescente migração feminina e com ela aumentam os problemas associados à falta das Mães junto dos filhos - as cicatrizes do abandono.
As Mães suportam a dor de abandonarem os seus filhos, lutam para trabalhar arduamente e enviar dinheiro e os filhos ficam com uma cicatriz emocional pois não compreendem. As Mães sentem frequentemente rejeição por parte dos filhos e estas relações ficam com danos por vezes irreparáveis.

Portugal, surgiu recentemente (em Fevereiro de 2008), num relatório da Comissão Europeia como o segundo País com maior risco de pobreza infantil, significa que uma em cada cinco crianças portuguesas está exposta ao risco da pobreza, o que faz de Portugal o País, a seguir à Polónia, onde as crianças são mais pobres ou correm maior risco.
A nossa taxa de pobreza é escandalosa e francamente pouco interessa se já foi pior (em relação a 2005 piorou!)…é péssima… e enganemo-nos a pensar que são números.
Cada dia que passa esta realidade transmite-se a uma geração e é essa geração que está em perigo todos os dias.

E, se a pobreza poderá não significar automaticamente risco para as crianças, há perigos evidentes: o abandono escolar, a menor disponibilidade dos Pais, a desestruturação familiar, a alimentação deficiente, etc.

A pobreza pode provocar o afastamento das famílias e muitas crianças correm o risco de ficar sem o beijo da noite.
Problemas de afecto geram consequências de difícil reparação.

Voltando à Ivone….
A filha mais nova sempre teve sérios problemas de saúde: de alimentação, crescimento (com 4 anos vestia roupa para crianças com 1 ano de idade), linguísticas, entre outros problemas.
Finalmente, quando a menina tinha 6 anos, Ivone conseguiu reunir condições para os filhos se juntarem a ela em Portugal.

Dois meninos deliciosos, hoje, têm o beijo da noite.

Conheci-os mal chegaram a Portugal no ano passado.

Encontrei-os a semana passada…. Não quis acreditar na mudança que 1 ano junto da Mãe provocou…estavam TODOS irreconhecíveis.
A Ivone extrovertida, o rapaz muito alegre e a menina….ENORME! Já não tem problemas de saúde, cresceu tanto que já está dentro dos parâmetros normais e é boa aluna!

Percebem as consequências?

(nota: os nomes referidos no texto são fictícios)


JMC
Movimento Esperança Portugal
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