sexta-feira, 25 de julho de 2008

Esperança, verdade e rigor

É fundamental que uma proposta de Esperança assente numa abordagem da realidade com Verdade. Uma esperança assente em mentiras ou versões grosseiramente distorcidas da realidade desfaz-se rapidamente e a desilusão repetida ameaça toda a esperança.

A situação económica do país e a situação financeira do estado são graves, não só por causa da conjuntura internacional mas também por causa do modelo de desenvolvimento adoptado em Portugal nas últimas décadas, mais baseado em infraestruturas e em estatísticas educativas do que numa real melhoria da educação.

Como se isto não bastasse e perante a situação actual, é preocupante que o governo queira apoiar a esperança numa repetição deste modelo, quando a necessidade das novas infraestruturas é muito discutível.

A superficialidade da argumentação que defende as novas obras tenta tirar partido de uma tendência para desvalorizar os aspectos técnicos, por serem considerados menos nobres ou por se imaginar que qualquer decisão política pode sempre ser sustentada num estudo correcto. Ora isto não corresponde à verdade.

O processo da Ota foi para mim um grande sinal de esperança pois não me recordo de, na nossa democracia, a opinião pública, aliada às posições públicas dos técnicos, ter forçado um governo a travar uma decisão que seria desastrosa para o país.

Infelizmente o governo tenta repetir a ideia em obras sem suficiente justificação. E a sugestão de que se trata de investimento privado é simplesmente incorrecta. Só o seria se os riscos fossem corridos essencialmente pelos privados e tudo indica que não será assim, porque se prevê que estes investimentos não possam dar lucro.

Perante a divergência com a Europa, repetimos o modelo que nos trouxe aqui, só que agora em maior escala e com uma menor necessidade de mais infraestruturas. Um pouco como aquelas famílias que, quando deixam de ter dinheiro para pagar um empréstimo, contraem outro a uma taxa de juro superior, para pagar as mensalidades do primeiro.

As propostas políticas ao eleitorado podem e devem ter em conta a verdadeira situação do país e do estado e a partir desta definir as prioridades, não abdicando da construção de uma sociedade mais justa, equilibrada e melhor para todos.

É necessário ponderar e justificar bem os sacrifícios que são pedidos aos portugueses. É necessário que o rigor orçamental e eventuais sacrifícios adicionais em áreas como a saúde, a educação e a segurança social sejam acompanhados por um rigor ainda maior em áreas como os gastos (e outros compromissos) em mais obras públicas.

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