Encerramos este ciclo lançando um olhar ao futuro aqui e agora: Portugal 2008 e para a frente.
Procurámos no post anterior perceber como chegámos aqui e como a Irlanda está onde está. Olhando o Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) veremos que ele reflecte muitas das nossas aprendizagens mas também as dos outros países europeus nos ultimos vinte anos. O QREN é um documento que reflecte uma visão europeista da posição de Portugal no mundo e constrói não só um sistema que pode conduzir à acção mas também uma narrativa mobilizadora à sua volta. Significa isto que é perfeito? Longe disso. A perfeição em política é necessáriamente o resultado do debate e negociação em esfera pública. Como quisemos chamar a atenção no nosso primeiro post a propósito das tomadas de posição do PSD, a questão não é técnica mas política.
No período de 2007 a 2013 a atribuição financeira prevista a Portugal com o objectivo convergência ultrapassa os 20 mil milhões de Euros. Como vamos usar estes recursos?
Qual o papel do governo e da oposição, das empresas, dos cidadãos, no bom uso destes recursos? Na resposta está contido um desígnio nacional. Nenhum relatório técnicamente inatacável, e não existe tal coisa, pode legitimar um déficit de debate relativamente a opções que vão definir não só a nossa vida mas também o futuro dos nosso filhos. Por isso a questão é politica e não técnica não querendo com isto dizer que não decorra de sólidas e inteligíveis, do ponto de vista público, argumentações técnicas e ciêntificas.
Globalmente os desafios que se colocam estão contextualizados na mudança de paradigma da sociedade humana que está vertida na Agenda de Lisboa. Esta mudança radical que nos conduz àquilo a que chamamos Sociedade do Conhecimento trouxe com ela muitas razões de esperança mas também mais injustiças e novas formas de segregação espacial e social. A velocidade das mudanças exige que os países e as pessoas se adaptem muito rápidamente a novas e inesperadas realidades: “que apanhem a onda ou apanhem com a onda”. Exemplo disso são a evolução duma esfera financeira cada vez mais global e desmaterializada que “liberta” da dimensão material e até económica está produzir agitações inesperadas que afectam profundamente a economia mundial; a formidável concentração de recursos das cidades; ou a crise que estamos vivendo associada à subida em flecha dos preços de energia que afecta todo o modelo económico.
Ao governo impõe-se resolver o paradoxo de aplicar os instrumentos da política que abraça a mudança investindo nos sectores de esperança e ao mesmo tempo proteger os sectores mais recuados do impacto da onda, o que significa dar tempo para os mais lentos se adaptarem ou morrerem. De modo que se coloca uma questão clássica da economia: sendo os recursos escassos por definição, onde investir? no crescimento da economia ou na coesão social e territorial?
Nos dois. O desenvolvimento de Portugal exige, como vimos, mudanças estruturais profundas só essas mudanças nos permitem enfrentar uma conjuntura cada vez mais instável, inesperada e fora de controlo dos Estado-Nação. Que mudanças são essas?
São mudanças ao nível da relação que nós portugueses como consumidores, empresários, empreendedores, produtores, criadores e cidadãos temos com o nosso território e a nossa história com os nossos recursos materiais, culturais e simbólicos. Com os nossos valores. A economia trata exactmente da optimização dos recursos que estão à nossa dísposição. Essa grande tarefa é de todos, o que significa que ninguèm pode ficar para trás. Esta afirmação não é o corolario lógico da nossa paixão pela justiça mas o reconhecimento de que só a diversidade gera criatividade e o desafio não é ajustar as pessoas ao deserto do pensamento único e da política iluminada mas a criação de contextos de participação política, económica e social à escala de todo o território.
Os dados que temos sobre a evolução da chamadas Industrias com base no conhecimento na Europa dizem-nos que são os países de maior coesão social e territorial que lideram o crescimento nestes sectores e aqueles, como Portugal onde a coesão é menor que perdem terreno. No curto, como no médio e longo prazo, o desenvolvimento passa inevitávelmente pela sincronização da criação de riqueza, justiça social e territorial e respeito pela Natureza.
Em 4 de Março de 1941 Hannah Arendt escrevia assim numa carta a Karl Jaspers: “Não sei o que é o mal absoluto mas parece-me que tem algo a ver com os seguintes fenómenos: declarar os seres humanos superfluos como seres humanos- não a sua utilização como instrumentos, o que não afecta a sua humanidade mas sómente fere a sua dignidade de homens, mas torná-los superfluos se bem que eles sejam seres humanos”
sábado, 12 de julho de 2008
III. Que Futuro?
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