Que o mundo é interdependente não restam dúvidas. Para o bem, e para o mal. É um facto sobre o qual temos vindo a ganhar consciência, fazendo-nos inclusivamente perceber a exigência de ter que ser também solidário, independentemente das razões humanitárias. Creio que foi sobretudo a “razão da Terra” que começou por nos alertar para esta situação, denunciando a incompatibilidade entre o seu modelo (paradigma de evolução da biosfera) sustentado harmoniosamente através de sistemas complexos interdependentes e solidários, e o modelo da socioesfera – paradigma de crescimento assente na exploração ilimitada dos recursos disponíveis para ganhos de produtividade também sem limites. E o paradoxo está precisamente aqui: a exploração é ilimitada, mas os recursos não o são, ou pelo menos não têm a capacidade de se regenerar ao ritmo com que são utilizados ou estragados.
Por outro lado, os desequilíbrios que constatamos na distribuição da riqueza à escala nacional reproduzem-se e acentuam-se quando passamos à escala global. A “necessidade” de produzir mais gastando o menos possível leva os países mais ricos a optar pela mão-de-obra barata existente nos países mais pobres, independentemente das consequências que essa opção possa ter no mercado de trabalho, acentuando clivagens sociais ou gerando anticorpos culturais. Estas tendências só podem ser invertidas se as empresas introduzirem os impactes negativos – sociais, culturais e ambientais - das suas estratégias de desenvolvimento económico na avaliação dos resultados. Porque o mundo é interdependente, não podemos continuar a gerir e a avaliar os sistemas de organização da socioesfera em circuitos fechados – economia, sociedade, ambiente, educação, cultura…. – as opções de gestão e a avaliação de resultados também carecem ser integradas e solidárias.
É preciso aprender a compatibilizar as duas esferas. Sem solidariedade, num mundo que é efectivamente interdependente, independentemente da nossa vontade, o mundo dos homens avança, como uma avalanche imparável, para o abismo da autodestruição.
Maria de Assis
Movimento Esperança Portugal
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