Exames do 9ª ano: uma boa medida. A Português e Matemática, valorizando duas disciplinas fundamentais. Valem apenas 30% da nota final, garantindo um bom equilíbrio entre a avaliação do que foi feito ao longo do ano e a prova final. São uma boa forma de preparar os estudantes para a vida, também ela cheia de exames, sob as mais variadas formas.
Devem ser levados a sério pelos alunos. E são-no. Um aluno “regular” tem brio, quer sair-se bem nos exames, prepara-se para eles, mesmo que não sejam decisivos ou que nem sequer lhe possam a vir influir na nota final.
Assim contado é uma peça do puzzle do nosso sistema educativo que faz sentido.
Tudo se inverte quando se resolve “facilitar” nos exames. E não vale a pena fazer discursos cor-de-rosa sobre o tema: por muito que se tenha investido na Matemática (é sobretudo essa que está em causa), não se sobem, num ano, vários valores nas médias sem exames “adequados” para esse efeito.
Não falo do que ouvi dizer ou do que li nos jornais: a realidade entrou-me dentro de casa. Uma aluna do 9 ºano chega a casa a contar que na sua sala de aula, ao fim de cerca de uma hora de exame, os alunos olhavam uns para os outros porque todos tinham terminado o seu exame de matemática. A prova durava uma hora e meia, com tolerância de meia hora! A um aluno do 3ºano (9 anos) coloco oralmente um problema do exame do 6º ano: em dois minutos dá-me a resposta, sem precisar sequer de papel e lápis.
No 12º ano, em que está em causa a entrada na Universidade, o caso é ainda mais grave.
Que mensagem estamos a passar aos nossos alunos?
Que não vale a pena esforçarem-se! Mais: com exames destes o Estado goza com o esforço que os alunos fizeram, com o tempo que se dedicaram a estudar, a puxar pelas suas capacidades.
E note-se: brinca não só com os bons alunos mas igualmente com os maus alunos, contribuindo para que cresçam na mentira.
Exames assim não são apenas graves do ponto de vista da instrução que (não) estamos a dar aos nossos alunos.
Mais do que isso, representam uma inversão dos valores que lhes devemos transmitir.
Em vez da Verdade, a Mentira. Em vez do Esforço, a Facilitação. Em vez da Exigência para que cada um dê o melhor de que é capaz, o nivelar todos por baixo, pedindo apenas os mínimos.
Acredito, apesar de tudo, que o “vírus” dos “exames suaves” não contaminou a maioria dos nossos professores que continuam a ser bem mais exigentes do que as provas finais. Por isso mesmo os alunos comentaram que os testes ao longo do ano não “tinham nada a ver com os exames”. Cabe-nos a nós, pais, estimular essa exigência. Se o fizermos, deixa de compensar politicamente trabalhar para as Estatísticas.
Compensará, isso sim, trabalhar por uma escola com condições para que cada um, na sua diferença, desenvolva todas as suas capacidades. Uma escola que não deixe ninguém à sua sorte e que invista em todos e cada um dos alunos. Mas isso, obviamente, não tem nada a ver com falsear avaliações, ou mesmo evitar fazê-las, para que tudo pareça bem. São temas a que voltarei.
a propósito...
quinta-feira, 17 de julho de 2008
EDUCAR NA VERDADE OU NA MENTIRA?
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