Num artigo publicado na revista “Comunicação e Linguagens” nº 21/22, editada pela Faculdade de Ciências e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, o prof. Wilson Gomes, socorre-se dos conceitos de mundo tangível e mundo media para nos explicar as formas como apreendemos o mundo nas sociedades modernas. Assim, enquanto o mundo tangível se refere aos fenómenos ocorridos no espaço físico e social em que cada indivíduo se integra, o mundo media remete-nos para os acontecimentos ocorridos para além do espaço natural que cada um habita, e que nos chega através dos meios de comunicação. Na medida em que os acontecimentos são cada vez mais globais e menos locais, é a mensagem mediática que ganha relevância e fornece o quadro de valores necessário à convivência social nas sociedades modernas, conclui o prof. Wilson.
Lembrei-me deste artigo a propósito desta notícia brutal que, em pleno século XXI, não nos pode deixar de chocar e envergonhar. Afinal nós sabemos e preocupamo-nos com tudo o que o mundo media nos faz entrar todos os dias pela casa adentro. Ele é o Tony Carreira, que depois de se tornar o mais bem pago da sua editora, acaba com um casamento de 15 anos; ele é o Ronaldo, que depois de despachar a Nereida, vai seduzir miúda para o Cabo; ele é a plástica da Júlia Pinheiro; ele é o novo amor de Clara de Sousa; ele é a preocupação dos espanhóis com a depressão e a magreza de Letizia; ele é… uff, que canseira!
E de tão cansados esquecemo-nos de olhar à nossa volta e ver o mundo tangível que nos circunda, repleto de dramas reais de abandono, de solidão, de miséria. Na sociedade individualista em que vivemos, perdemos a noção de serviço pelo bem comum. Não sabemos nem queremos saber o que se passa no nosso concelho, na nossa freguesia, no nosso bairro e nem sequer… no nosso prédio. Pelo menos até ao dia em que o nosso mundo tangível nos entra pela casa adentro através do mundo media. Mas nesse dia já é tarde demais. Pelo menos para os que acabam de partir. Porque nós estamos sempre a tempo de rever as nossas prioridades.
E de tão cansados esquecemo-nos de olhar à nossa volta e ver o mundo tangível que nos circunda, repleto de dramas reais de abandono, de solidão, de miséria. Na sociedade individualista em que vivemos, perdemos a noção de serviço pelo bem comum. Não sabemos nem queremos saber o que se passa no nosso concelho, na nossa freguesia, no nosso bairro e nem sequer… no nosso prédio. Pelo menos até ao dia em que o nosso mundo tangível nos entra pela casa adentro através do mundo media. Mas nesse dia já é tarde demais. Pelo menos para os que acabam de partir. Porque nós estamos sempre a tempo de rever as nossas prioridades.
1 comentário:
Parabéns pelo texto, sensível, right to the point.
Mas discordo de uma coisa: não vivemos numa sociedade individualista! Vivemos numa sociedade colectivista, egoista, no pior dos sentidos, no sentido de que todos esperamos que o Estado Social resolva, e esquecemo-nos das nossas responsabilidades. Ser individualista é acreditar que as responsabilidades minhas não podem ser delegadas!
Um forte abraço,
Ângelo Ferreira
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