sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Vaticano, Mortalidade Infantil e Angola

por Nuno Frazão

Terminou no passado dia 15 de Novembro, a XXIII Conferência Internacional promovida pelo Pontifício Conselho para a Pastoral da Saúde, sobre o tema "A pastoral no cuidado das crianças doentes".

A conferência, que começou na quinta-feira, 13 de Novembro, no Vaticano, teve como base de trabalho os seguintes critérios: "realidade, pensamento e acção”.
No primeiro dia, o objectivo foi diagnosticar a situação mundial; no segundo dia, foi tempo de pensar e rezar sobre as várias perspectivas de responder ao problema ( com participações muito interessantes de diferentes representantes de outras religiões ao nível das suas visões metodologias - hindu, muçulmana e budista); finalmente no terceiro dia, procuraram-se encontrar soluções e prioridades. Estas soluções e prioridades surgiram através da demonstração de projectos, todos eles bastante inovadores no seu impacto social na vida das crianças.


A Dra Kezevino Aram, Fundadora e Directora do Shanti Ashram, associação de intervenção social na India, representante hindu no seminário, e Vice-moderadora do Conselho Mundial das Religiões pela Paz, reconheceu e agradeceu à Igreja por esta ser a resposta a 80% dos cuidados básicos de saúde na Índia. Salientou ainda, que esta ajuda acontece principalmente nos locais onde existem menos condições e menos respostas às necessidades de saúde das populações.

A situação actual é assustadora e segundo o Cardeal Barragán “a cada ano, 4 milhões de bebes morrem com menos de 26 dias de vida. Dois milhões e meio são portadores da AIDS, transmitida pelos pais e cerca de 14 milhões são órfãos por causa desta doença.
Dois milhões de crianças estiveram envolvidos em conflitos armados, sendo 6 milhões hoje inválidos; cerca de dez milhões foram atingidos por minas anti pessoais e recentemente foram recrutadas mais de 300.000 crianças para exércitos.”

Por curiosidade, Portugal tem das mais baixas taxas de mortalidade do mundo, em contraste com Angola tem uma das mais altas taxas de mortalidade. Foram convidados para estarem presentes nesta Conferência, especialistas do mundo inteiro e a Sra. Ministra da Saúde Portuguesa, foi a única representante governamental máxima da Saúde.

Foi muitas vezes referido o problema da obesidade do hemisfério norte face à subnutrição do hemisfério sul; este é um contraste problemático não só da saúde como da educação das crianças dos países mais desenvolvidos. O Cardeal Barragán referiu ainda que “muitas crianças e adolescentes são abandonados e deixados aos seus instintos. A atmosfera em que vivem é dominada pela Internet e a televisão. O controlo sob os programas de televisão ou o Internet não existem, e navegam livremente sem qualquer tipo de apoio e guia moral. O comércio sexual, a pedofilia, a violência nas escolas, os crimes, etc., são fenómenos desta atmosfera, cada vez mais em expansão. De acordo com dados do ISTAT, em muitos países uma criança na idade escolar terá visto 15.000 horas da televisão e terá assistido a cerca de 18.000 homicídios num ambiente caracterizado pela violência, pela droga e pelo sexo.”

O Santo Padre, reconhecendo a importância da reflexão e desejando o efeito da tomada de consciência da opinião pública insistiu “no dever de reservar às crianças todas as atenções necessárias para seu desenvolvimento físico e espiritual harmonioso. (e) Se isto vale a pena para todas as crianças, ainda mais tem o valor para aquelas que estão doentes e carentes de tratamento médico especializado.”
Manifestou a sua preocupação no envolvimento dos cuidados com as crianças, por parte das famílias, médicos, operadores sociais e sanitários. O Santo Padre referiu ainda que a intervenção médica se encontra perante escolhas difíceis no que diz respeito às formas de tratamento. Mencionou a necessidade de se alcançar um equilíbrio justo entre a insistência e a desistência terapêutica; só assim será possível assegurar que os tratamentos escolhidos estão adaptados às necessidades reais e resistir à tentação do experimentalismo.
E lembrou que não é supérfluo insistir que cada intervenção médica deve estar sempre impelida para a realização do verdadeiro bem para a criança, considerado a sua dignidade como pessoa humana de plenos direitos.

O Santo Padre aconselhou a todos que tudo se deve centrar num tratamento com base no amor e carinho pela criança, com o fim de poder ajudá-lo a enfrentar o sofrimento e a doença, nunca esquecendo que tudo começa antes do nascimento.

Lançou o desafio a todos os presentes, com a mesma preocupação do Cardeal Barragán: perante as diversas condições de desequilíbrio, devemos participar activamente no apoio resolutivo a estes irmãos mais pequenos. E terminou com o seguinte agradecimento: “ expresso a apreciação viva para aqueles que investem as suas energias pessoais e recursos materiais ao seu serviço (das crianças).”

Entre Março a Abril o Santo Padre vai a Luanda, onde não deixará de fazer alusão à situação das crianças e à oportunidade de investir energia pessoal e recursos materiais ao combate à mortalidade infantil em Angola.
A Ministra da Saúde de Portugal mostrou muito interesse em poder colaborar nesse apoio, sendo agora o momento certo para preparar e traduzir em verdadeiro serviço este desejo, publicamente manifestado, de colaborar com a Igreja.”

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