Não trabalho na área financeira, mas a minha formação é em Gestão e sou naturalmente sensível ao impacto de todos estes acontecimentos. Na verdade, todos acabamos por ser, pelo menos na medida em que tem preenchido os noticiários…
Das muitas coisas que têm sido ditas e escritas, há algumas que me têm feito pensar, e que aqui deixo como reflexões “em progresso”:
1- O problema das contas do BPN: é bom ter presente que a nacionalização do BPN tem como objectivo conter o problema, mas em si mesma, não o resolve. Na verdade, e apesar do financiamento do Estado, via CGD, de 800 milhões de euros, o problema das contas do banco lá está para ser encarado, e, espera-se, resolvido, pela nova gestão;
2- O problema da regulação do sistema bancário (ou por outras palavras, novo elefante na sala): por mais explicações que Vítor Constâncio dê, e por mais que outras vozes se levantem em defesa do Banco de Portugal (o Presidente da Associação Portuguesa de Bancos, João Salgueiro disse hoje que “a polémica à volta do caso BPN tem tido um aproveitamento político”, desvalorizando as críticas à volta do trabalho de supervisão, e afirmando que casos destes estão sempre a acontecer e é impossível detectá-los a todos e que o problema está na prevenção), fica o desconforto, repetido no caso do BCP, de que esta instituição não actua, prevenindo ou remediando, como exigido pela dinâmica dos intervenientes no mercado. Também aqui, se espera que alguma coisa aconteça, no sentido da revisão do modelo de supervisão ou, no mínimo, no agravamento das sanções dos prevaricadores, como defendia o Editorial do DE, por António Costa*.
3- A mensagem de que o crime -mesmo que de “white collar”- não compensa: parece-me fundamental que se conduzam os processos de investigação e de acusação neste tema, de maneira que sejam efectivamente responsabilizados e punidos os gestores e/ou accionistas que tenham tido um papel activo na “falência” do banco. Porque enquanto compensar, haverá sempre incentivo a prevaricar.
4- Finalmente uma palavra para quem trabalha no BPN! Desde o domingo em que foi anunciada a nacionalização, que me fazia uma enorme confusão não ver uma palavra dirigida a quem trabalha no banco- se houve para os clientes, para os gestores, para os accionistas, para o Banco de Portugal, para o Governo…Francisco Bandeira, novo presidente do Conselho de Administração do Banco, garantiu aos 1800 trabalhadores do BPN que fará o que for necessário para que não se confunda a seriedade dos trabalhadores com a dos que "praticaram os actos que têm vindo a público" e disse ainda que a sua equipa chega ao BPN animada de "forte determinação para devolver a credibilidade e a motivação ao banco e a todos os que nela trabalham". Finalmente!
Este assunto está longe de estar encerrado, e ainda fará “correr muita tinta”. Por um lado, ainda bem. É sinal de desconforto, e com o desconforto vem a necessidade de mudança que nos leva a ser melhores, também enquanto sociedade.
*http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/editorial/pt/desarrollo/1183293.html
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Ainda o BPN- algumas ideias soltas
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