sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Vaticano, Mortalidade Infantil e Angola

por Nuno Frazão

Terminou no passado dia 15 de Novembro, a XXIII Conferência Internacional promovida pelo Pontifício Conselho para a Pastoral da Saúde, sobre o tema "A pastoral no cuidado das crianças doentes".

A conferência, que começou na quinta-feira, 13 de Novembro, no Vaticano, teve como base de trabalho os seguintes critérios: "realidade, pensamento e acção”.
No primeiro dia, o objectivo foi diagnosticar a situação mundial; no segundo dia, foi tempo de pensar e rezar sobre as várias perspectivas de responder ao problema ( com participações muito interessantes de diferentes representantes de outras religiões ao nível das suas visões metodologias - hindu, muçulmana e budista); finalmente no terceiro dia, procuraram-se encontrar soluções e prioridades. Estas soluções e prioridades surgiram através da demonstração de projectos, todos eles bastante inovadores no seu impacto social na vida das crianças.


A Dra Kezevino Aram, Fundadora e Directora do Shanti Ashram, associação de intervenção social na India, representante hindu no seminário, e Vice-moderadora do Conselho Mundial das Religiões pela Paz, reconheceu e agradeceu à Igreja por esta ser a resposta a 80% dos cuidados básicos de saúde na Índia. Salientou ainda, que esta ajuda acontece principalmente nos locais onde existem menos condições e menos respostas às necessidades de saúde das populações.

A situação actual é assustadora e segundo o Cardeal Barragán “a cada ano, 4 milhões de bebes morrem com menos de 26 dias de vida. Dois milhões e meio são portadores da AIDS, transmitida pelos pais e cerca de 14 milhões são órfãos por causa desta doença.
Dois milhões de crianças estiveram envolvidos em conflitos armados, sendo 6 milhões hoje inválidos; cerca de dez milhões foram atingidos por minas anti pessoais e recentemente foram recrutadas mais de 300.000 crianças para exércitos.”

Por curiosidade, Portugal tem das mais baixas taxas de mortalidade do mundo, em contraste com Angola tem uma das mais altas taxas de mortalidade. Foram convidados para estarem presentes nesta Conferência, especialistas do mundo inteiro e a Sra. Ministra da Saúde Portuguesa, foi a única representante governamental máxima da Saúde.

Foi muitas vezes referido o problema da obesidade do hemisfério norte face à subnutrição do hemisfério sul; este é um contraste problemático não só da saúde como da educação das crianças dos países mais desenvolvidos. O Cardeal Barragán referiu ainda que “muitas crianças e adolescentes são abandonados e deixados aos seus instintos. A atmosfera em que vivem é dominada pela Internet e a televisão. O controlo sob os programas de televisão ou o Internet não existem, e navegam livremente sem qualquer tipo de apoio e guia moral. O comércio sexual, a pedofilia, a violência nas escolas, os crimes, etc., são fenómenos desta atmosfera, cada vez mais em expansão. De acordo com dados do ISTAT, em muitos países uma criança na idade escolar terá visto 15.000 horas da televisão e terá assistido a cerca de 18.000 homicídios num ambiente caracterizado pela violência, pela droga e pelo sexo.”

O Santo Padre, reconhecendo a importância da reflexão e desejando o efeito da tomada de consciência da opinião pública insistiu “no dever de reservar às crianças todas as atenções necessárias para seu desenvolvimento físico e espiritual harmonioso. (e) Se isto vale a pena para todas as crianças, ainda mais tem o valor para aquelas que estão doentes e carentes de tratamento médico especializado.”
Manifestou a sua preocupação no envolvimento dos cuidados com as crianças, por parte das famílias, médicos, operadores sociais e sanitários. O Santo Padre referiu ainda que a intervenção médica se encontra perante escolhas difíceis no que diz respeito às formas de tratamento. Mencionou a necessidade de se alcançar um equilíbrio justo entre a insistência e a desistência terapêutica; só assim será possível assegurar que os tratamentos escolhidos estão adaptados às necessidades reais e resistir à tentação do experimentalismo.
E lembrou que não é supérfluo insistir que cada intervenção médica deve estar sempre impelida para a realização do verdadeiro bem para a criança, considerado a sua dignidade como pessoa humana de plenos direitos.

O Santo Padre aconselhou a todos que tudo se deve centrar num tratamento com base no amor e carinho pela criança, com o fim de poder ajudá-lo a enfrentar o sofrimento e a doença, nunca esquecendo que tudo começa antes do nascimento.

Lançou o desafio a todos os presentes, com a mesma preocupação do Cardeal Barragán: perante as diversas condições de desequilíbrio, devemos participar activamente no apoio resolutivo a estes irmãos mais pequenos. E terminou com o seguinte agradecimento: “ expresso a apreciação viva para aqueles que investem as suas energias pessoais e recursos materiais ao seu serviço (das crianças).”

Entre Março a Abril o Santo Padre vai a Luanda, onde não deixará de fazer alusão à situação das crianças e à oportunidade de investir energia pessoal e recursos materiais ao combate à mortalidade infantil em Angola.
A Ministra da Saúde de Portugal mostrou muito interesse em poder colaborar nesse apoio, sendo agora o momento certo para preparar e traduzir em verdadeiro serviço este desejo, publicamente manifestado, de colaborar com a Igreja.”

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Adopção e Educação

por Diogo Pipa

No recente I Congresso Internacional de Adopção, realizado em 19/20 Novembro uma das frases mais ouvidas foi, como não podia deixar de ser, o “superior interesse da criança”. Como realçava e muito bem o Juiz Conselheiro Dr. Laborinho Lucio, a adopção começou por tratar de cuidar de uma criança para a familia e, hoje em dia, procura-se uma familia para a criança.

Consequência da afirmação clara dos direitos da criança, plasmados na Convenção sobre os Direitos da Criança de que se comemorou agora mais um aniversário. (20 de Novembro de 1959).

Na luta já longa que opõe Ministério da Educação e Professores, os alunos têm sido relativamente marginalizados, tal como os pais, como se não fizessem parte da Escola. Parece que são apenas um adereço, sendo o verdadeiramente importante essa coisa monstruosa chamada Ministério da Educação, os Sindicatos dos Professores, a avaliação, as burocracias e as demais politiquices.

Isto fez-me lembrar o conceito da adopção: Superior interesse da criança.

Ora, se na Educação houvesse tal conceito, ele seria o de superior interesse do aluno.

E daí podia-se partir para outras prioridades. Em conjunto com os pais, esses sim, os primeiros e mais importantes educadores. A este propósito seria bom ler a entrevista que Frances Kelly, conselheira europeia para a educação, deu ao Público em 14.11.08 (P2, pg 10, 11), em que fala sobre a Nova Zelândia, país que tem excelentes resultados na Educação. O título diz quase tudo:

“Aqui são os pais que mandam nas escolas.”

Por cá, não se exige tanto por agora. Mas que era bom para lá caminhar, lá isso era.

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quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Patriotismo lusitano: caso de Dr. Jekyll & Mr. Hyde

Toda a gente ainda tem bem na memória as imagens de patriotismo durante as últimas grandes competiçðes internacionais de futebol com as bandeiras nas janelas, os portugueses a apoiar e a seguir incondicionalmente a nossa Selecção. O nosso patriostismo e amor ao País eram nestes eventos um dos mais exacervados. Somos então os melhores e os maiores e temos os melhores produtos do Mundo. Temos orgulho em ser Português. Não se compreende porque é que não se encontram e se vendem os nossos bens no estrangeiro já que eles são de muita boa qualidade.
Há claramente uma comunicação externa muita positiva e que deveria ser um trunfo e uma vantagem para nós.

No entanto, dentro de casa, no dia-a-dia, passa-se exactamente o oposto por mais estranho que isso pode parecer. Senão vejamos alguns factos que muita gente já viu, ouviu e leu:

- Quando há uma boa estatística e classificação para nós, ficamos logo desconfiados. Deve haver um erro qualquer porque isso não é possível. Quando é o contrário já é normal. Estamos no nosso lugar que é na cauda da Europa.
- As boas notícias e empenhos estão sempre no fim dos telejornais e fala-se rapidamente disso. Há um "medo" de falar em sucessos.

- Os produtos e produçðes nacionais são de fracas qualidades e são conotados como produtos de feira. No oposto, os estrangeiros são sempre melhores e mais chiques. Vestir italiano ou francês, dá mais classe que vestir lusitano. Isso obriga por exemplo, os nossos fabricantes de calçados e de têxteis a transportar os seus produtos para Italia, dar um pequeno retoque para poder ter a indicação "Made in Italia", mudar para um nome não português, para finalmente os vender mais caros (custo de transportes e aduaneiros) em Portugal com mais sucesso. Sem isso não se vendiam os produtos "Fabricado em Portugal".

Há portanto claramente uma comunicação interna muita negativa que para ser sincero não entendo. Eu não compreendo essas duas atitudes e mentalidades contraditórias.

Eu tenho isso sim uma certeza: isso é muito prejudicial para Portugal porque numa organização (empresa, clube, etc...) quando temos duas comunicaçðes (interna e externa) que não são as mesmas, normalmente essa entidade não vai muito longe porque a mensagem não passa e não vende.
Para bem visualizar essa situação, imagina que você é um forasteiro e o seu amigo português convida-o em casa dele. A mãe dele lhe oferece uma docaria regional dizendo que é muito bom. Mas ao mesmo tempo, diz ao filho para não comer porque é de fraca qualidade, vai lhe fazer mal e é mau para ele. Eu não sei o que faria, mas eu recusava porque se é mau para o nacional também é mau para o estrangeiro.

Para um Portugal melhor e melhor é possível, temos de mudar rapidamente de atitude. Este pensamento negativo sobre os nossos produtos por exemplo está só nas nossas cabeças e não relecte a realidade.

Eu vivo no estrangeiro e não tenho problemas nenhum em dizer que sou Português. Tenho orgulho da minha terra e das minhas origens. Tento sempre que possível comprar produtos "Fabricado em Portugal" em território nacional e não tenho complexo algum em vestir roupas e calçado lusitano. Para mim, isso dá-me mais valor e já me disseram que os meus sapatos eram lindos.

Por exemplo a pouco tempo tudo o que era produção fictícia portuguesa era muito mal visto. Só a brasileira era boa. No entanto eu preferia sempre ver nacional. Hoje já temos majoritariamente produçðes lusitanas na televisão.

Jorge Lourenço

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Escola Adolfo Portela

O Movimento Esperança Portugal (MEP), partido do qual faço parte, tem vindo a realizar um conjunto de visitas e encontros com diversas entidades e pessoas para conhecer com maior profundidade a realidade do país e, com maior acuidade, preparar a sua proposta política a apresentar aos portugueses em 2009.
No âmbito de um périplo pelo distrito que o núcleo de Aveiro organizou na passada sexta-feira, com o presidente do partido, Dr. Rui Marques, tivemos a oportunidade de visitar a Escola Secundária Adolfo Portela, em Águeda. Este encontro teve dois objectivos principais: conhecer a realidade da escola, os desafios, as dificuldades que se lhe colocam e, ao mesmo tempo, identificar os factores de sucesso que lhe permitiram, nomeadamente, a melhoria mais significativa, a nível nacional, nos resultados obtidos nos exames do 12.º ano, considerando o ano que passou face ao ano 2007.
A Escola Secundária Adolfo Portela obteve, assim, o 1.º lugar no “Ranking MEP das Escolas 2008”, que assenta, não apenas no resultado absoluto nos exames do ano em causa, mas no diferencial de melhoria relativamente ao ano anterior, valorizando, a partir de um prisma diferente do habitual, o esforço que permitiu a evolução alcançada.
Desta forma, a visita teve igualmente o objectivo de entregar ao Conselho Executivo da escola um prémio que simboliza esse outro olhar, sublinhando a importância desse desígnio para Portugal de, nos mais diversos sectores, olhando o ponto de partida, procurar melhorar permanentemente o desempenho.
Do encontro com o Conselho Executivo da escola ficou clara a angústia que os professores sofrem com a excessiva carga burocrática, agravada por este governo, com tendência para os desgastar e afastar da actividade essencial: educar.
Tenho dito que é o centralismo no seu esplendor, procurando-se, a partir de um gabinete em Lisboa, tudo normalizar e controlar. Um modo de estar que revela o ambiente de desconfiança que se vive em Portugal. Temos medo da liberdade, porque desconfiamos e porque não temos sido capazes de responsabilizar as escolas pela qualidade do serviço que prestam, mas também os pais e os alunos. É um modelo que se presta a deixar a responsabilidade sem dono e sem ambição, sempre acantonada na desculpa da condição social dos alunos, como se os pobres fossem menos inteligentes.
Voltando à Escola Adolfo Portela, a equipa dirigente identificou, como um dos principais pressupostos para o sucesso do processo de ensino-aprendizagem, o esforço, partilhado pela restante comunidade docente, em centrar as atenções do trabalho na sala de aula e nos estudantes. Um ensinamento de quem sabe, que alguns teimam em não aprender. O processo de educação tem estar centrado nos alunos, mas também nos professores, e nos pais.
Outro factor de sucesso, que revela clarividência, pende-se com o esforço continuado em manter um ambiente escolar amigável, limpo, organizado. Os exemplos são diversos, ficando aqui alguns sintomáticos: manter os quartos de banho limpos e em tão boas condições quanto os dos professores; uma cantina acolhedora e com boa e diversificada comida, onde almoçam também os professores, depois de esperar pela sua vez na fila, como qualquer aluno; salas de aulas limpas e acolhedoras, sem riscos nas mesas. Parece pouco? Não é. Assim mudam radicalmente os comportamentos. Qualidade gera qualidade, num ciclo de desenvolvimento.
Além de tudo, não podia faltar a disponibilidade dos professores para ajudar os alunos fora do contexto das aulas e a organização de actividades circum-escolares, que envolvam também as famílias – faz toda a diferença. É uma escola humanizada, que envolve e responsabiliza.
Foi ainda destacada a vantagem de um corpo docente estabilizado. E deverá realçar-se a relevância de uma equipa dirigente coesa, determinada e com uma ambição e projecto próprios, apesar das dificuldades e entraves à sua actuação. Soma-se o facto de que, sendo reduzido o reconhecimento das actividades de gestão e sendo avultadas as responsabilidades, não se torna apetecível essa exigente missão.
Os professores que constituem o Conselho Executivo, num projecto iniciado há já treze anos, têm o saber de experiência feito, apostando na melhoria permanente. Porém, dizem, tudo seria melhor se tivessem mais liberdade e autonomia. E porque não também quanto ao processo de avaliação? Porque não uma maior responsabilização das escolas, distinguindo-se as boas das menos boas e das más?
E que melhor avaliação do seu trabalho do que aquela que é feita pelos resultados dos estudantes, pelo ambiente que se respira e pelo aumento da procura que levou a escola a ter de pedir autorização para abrir mais turmas?

Ângelo Ferreira
Publicado no jornal Diário de Aveiro de 24/11/2008
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Legenda e créditos das fotografias:
1. Escola Secundária Adolfo Portela (ESAP)/ESAP
2.Presidente do MEP, Dr. Rui Marques, entrega troféu a Presidente da Escola Adolfo Portela, Professor Henrique Coelho/ ESAP
3. Entrega de prémios aos melhores alunos da ESAP/ESAP

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quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Esperança religiosa cristã e esperança política : possibilidades de diálogo sem indesejáveis confusões? (II)


















Ainda assim, muitos perguntarão, como ter/ser Esperança num mundo e numa sociedade onde no quotidiano abunda uma espécie de carrossel enlouquecido de desgraça e infelicidade, como que prestes a entrar na última viagem: fomes, guerras, catástrofes, o holocausto, o aquecimento global e a escassez de recursos e na literatura e no cinema, um cometa que se aproxima da Terra em rota de colisão….

Não será isto “sinal” de que o mundo e a civilização tal como o conhecemos não estará a chegar ao seu fim?

Não faltam profetas da desgraça, como sabemos, que vaticinam o fim dos tempos, do universo e da humanidade.

As angústias e tentações

Para além do “mistério” perante a incerteza do futuro, creio que o sentimento dominante é o medo de um amanhã que pode não nascer, e que está na origem de uma brutal ansiedade humana que convoca como forma de superação deste mal-estar a tentação do recurso à magia, à adivinhação, aos saberes ocultos e iniciáticos, a uma religiosidade difusa, uma multiplicidade de alienações que, no fundo, transformam a esperança num fatalismo insuperável.

Como a maioria de nós não possui acesso ao código (secreto) que contêm a suposta chave de leitura dos enigmas do mistério da existência humana, capaz de ler e revelar a verdade toda e plena, compreendo perfeitamente que, para muitos, o melhor talvez seja mesmo viver o hoje, sem nada esperar (de bom ou de mau) que aconteça, sem expectativas de qualquer espécie.


A finalidade das coisas, á procura de um sentido para o real


Então não será de perguntar se o fim deste estado de coisas caótico, do efémero, da dúvida, do contingente quotidiano de cada ser humano, terá um sentido que seja descortinável e aponte para algo que seja como que uma porta de saída no meio da escuridão em que está mergulhado o túnel da nossa existência?

Não temos uma resposta assente numa qualquer indiscutível evidência científica.

Apenas nos basta sermos confortados pela certeza essa sim real, de que há uma força interior, um impulso vital em cada um de nós, que nos leva a abrir portas e janelas, que nos faz caminhar para um encontro de todos com todos os que vivemos implicados na construção da cidade global que é nossa.

Não será essa a finalidade das coisas, a esperança? Esperar que as coisas cheguem ao seu fim, isto é, à sua finalidade, ao seu objectivo: no caso da fé cristã, ao encontro com Cristo, fonte de toda a Esperança; no caso, do Homem, na sua dimensão de “animal político”, empenho e compromisso na construção de uma cidade mais humana, mais justa e solidária, que não deixa ninguém para trás, numa palavra, uma cidade MELHOR.

O cristão é convidado a adoptar uma atitude de serena espera(nça) nesse encontro com o Transcendente encarnado na pessoa de Cristo, um “Reino dos Céus” que já veio e chegou, mas que não se consumou em plenitude( parusia), que conduz a que ninguém fique dispensado de estar vigilante ( «não sabeis o dia nem a hora») e preparado para responder ao encontro sem temores, porque a espera promete felicidade e não condenação, salvação e não inferno.

Melhor é sempre possível

E ao Homem- cidadão o que lhe resta esperar? Como a esperança se dirige a todos os cidadãos, a todos é pedido que convoquem de viva voz a assembleia de cidadãos para criar e/ou reforçar a coesão que dará a indispensável unidade à comunidade que se quer construir: a todos se pede que venham e tragam o que de melhor são capazes de fazer ao serviço da máxima realização da felicidade pessoal que nos leva novamente a acreditar, que vale a pena o compromisso pelo bem-comum, num movimento de solidariedade, numa resposta aos “sinais dos tempos” pois “Melhor é sempre possível”, desde que o queiramos com vontade e determinação e sejamos capazes de pôr os meios para alcançar tal desiderato.

Elemento comum da virtude (a força interior)

Creio que há aqui um elemento comum á esperança cristã e à esperança política que pode conduzir á construção de uma ponte comum de diálogo e compromisso: em ambos os casos a esperança apresenta-se como uma força interior que leva á acção e á transformação do mundo e da humanidade, porque se tem a consciência que vale a pena meter as mãos á obra em prol de um futuro melhor.

Criados para amar numa fraternidade universal, os cristãos depositam a sua Esperança no Amor, no encontro com Cristo; criados para construir a cidade da justiça e da solidariedade, os cidadãos aventuram-se, “militam”, comprometem-se em mudar a vida e transformar o mundo pacificamente, dando resposta ás angústias que os inquietam.


Uma possível síntese, sem confusões: uma sociedade da confiança

Talvez se possa aspirar a realizar uma síntese da politica com a mística, do militante e do contemplativo, superando a falsa dicotomia entre o «religioso-contemplativo”, e o “militante-comprometido”, pois só a autêntica contemplação leva ao outro, ao «próximo como absoluto», através do «outro-em si-mesmo», «Deus absoluto».

Tarefa difícil, sem dúvida, na acção quotidiana, contudo, afigura-se tão urgente quanto necessária, pois os mais frágeis, os mais pobres e os mais excluídos da civitas não podem mais ser deixados para trás.

Aventura espiritual e compromisso político, sem confusões, com motivações e finalidades diversas, mas até certo ponto convergentes - viver em comum, em paz e justiça, poder trilhar um caminho comum, numa sociedade pacífica e solidária que a todos convida a sentar á sua mesa.

È que, de facto, não há soluções, há caminhos, e como diz o poeta, o caminho se faz caminhando …. confiando uns nos outros, acrescentámos nós.

JMCM

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MEP no Alto Minho.

Esta semana, o MEP realizou um encontro com a população de Viana do Castelo para apresentar as suas propostas e deixar desafios a todos para participarem nesta mudança.

Do diálogo que surgiu, após a apresentação realizada pelo Rui Marques, salientam-se os seguintes pontos:
- A mudança começa com grupos pequenos que vão crescendo e alterando o ambiente que nos rodeia;
- Acreditar que está nas nossas mãos, nas mãos de cada um de nós, a capacidade de fazer melhor.
- Este projecto precisa de tempo, mas também é o momento para começar a caminhada.

Juntos acreditamos que Melhor é Possível.

Esta foi a mensagem que passou na comunicação social da região:

Novo partido: MEP apresentou-se em Viana do Castelo

Written by Ivone Marques ;Nov 26, 2008 at 12:00 AM


À semelhança do que tem vindo a fazer em todo o país, o MEP – Movimento Esperança Portugal, apresentou-se também em Viana do Castelo. Trata-se de um novo partido, liderado por Rui Marques, e que pretende incutir um carácter “humanista” ao cenário político português. Na moção de orientação estratégica para 2009, Rui Marques classifica o PS como "o partido do Estado", o PSD como "o partido do mercado" e define o MEP como "o partido da sociedade civil". Por isso, diz que o MEP é uma alternativa que pretende “afirmar a política da esperança”.

A eleição de "dois a quatro deputados" nas próximas legislativas é o objectivo do Movimento Esperança Portugal. O MEP vai concorrer em listas próprias a todos os círculos eleitorais. Vai também participar nas Eleições Europeias e, por agora, vai apenas avançar com uma pequena intervenção nas Eleições Autárquicas, considerando que "não é realista" preparar em menos de um ano propostas a 308 municípios. Posicionando o MEP "ao centro" no espectro político português, Rui Marques afirmou que a criação do partido foi ditada pelo descontentamento com o Governo de uma forma geral e distancia-se do PS e do PSD. A necessidade de maior coesão e justiça social é uma das principais prioridades do Movimento Esperança Portugal, afirma Rui Marques, salientando que a diferença entre os mais ricos e os mais pobres é superior à média dos países europeus. Quanto aos destinatários da "mensagem de esperança do MEP" e potenciais eleitores, Rui Marques afirma-se convicto de que serão "os cidadãos que estão descontentes com a situação actual", com o Governo e com os partidos da oposição.


http://www.radiogeice.com/site_radio/index.php?option=com_content&task=view&id=6348&Itemid=42
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por Rui Ivo Lopes



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segunda-feira, 24 de novembro de 2008

É DIFÁCIL!

Observar as crianças a crescer é das melhores coisas que há no Mundo. E quando se trata dos nossos filhos adquire um sabor especial.
A sua alegria contagiante e o modo como encaram cada nova descoberta constituem para nós fonte de esperança e inspiração.
Já todos observámos como, quando os pequenos seres metem uma ideia na cabeça, insistem até obterem o que querem… ou darem cabo da nossa paciência. Quando não conseguem de uma maneira, descobrem outra. Se não dão a volta à mãe, vão pedir ao pai e vice-versa.
Ver crianças pequenas fazer puzzles é para mim uma lição: com um empurrão inicial, doses suficientes de autoconfiança, concentração, esforço e determinação, avançando por tentativa e erro, as peças vão-se encaixando. No início é mais difícil, mas depois é cada vez mais rápido e no fim até parece que foi fácil.
A minha filha mais velha recebeu um pequeno puzzle no seu primeiro aniversário. Dias depois, como já o fazia de cor, experimentei virar as peças ao contrário. Não se atrapalhou: como não tinha desenhos, decorou a forma de cada peça e rapidamente voltou a fazê-lo com a mesma rapidez.
Quando a do meio se iniciou nestas lides – ainda o Barack Obama era um desconhecido – costumava dizer: “A Inês consegue!” E quando passou para os puzzles de 500 peças, adoptou como lema uma frase que eu lhe disse num momento de desânimo: “Nunca se desiste!”
A mais nova, que ainda vai nos de 100 peças, mas para quem não há impossíveis, olha para um jogo novo e diz: “É DIFÁCIL!”. No início, corrigi-a. Depois deixei de o fazer, pois percebi que é ela que tem razão: com a continuação, tudo o que começa por ser difícil, acaba por se tornar fácil, se lhe dedicarmos tempo, afecto, esforço e dedicação.
Tal como nos jogos infantis, também no nosso trabalho, na vida em geral e na política em particular, os grandes desafios consistem em conceber o inconcebível, acreditar no que ninguém viu, simplificar o complicado e realizar o que parecia impossível.
E tudo fica mais fácil quando ousamos, como dizia Ghandi, “Ser a mudança que desejamos ver”
É este o desígnio do MEP!

Gonçalo Rebelo Pinto
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sábado, 22 de novembro de 2008

Assassinado há 45 anos

John F. Kennedy [29 Maio 1917 – 22 Novembro 1963]

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sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O estado da Esperança em Portugal, segundo "Os Contemporâneos"


RTP 1 - 20-11-2008
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Europeana tem mais de dois milhões de obras


A biblioteca multimédia online da Europa, "Europeana", está acessível desde dia 20 de Novembro ao público, que através da Internet poderá aceder a mais de dois milhões de obras dos 27 Estados-membros da União Europeia

Lusa

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quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Assumir o erro é aprender

O ambiente na Educação está excessivamente deteriorado, nomeadamente com o relacionamento entre professores e ministério a atingir o nível mais baixo das últimas décadas. Se não houver mudanças urgentes, daí poderão advir feridas profundas no nosso desenvolvimento social e económico, muito difíceis de sarar.
Este governo habituou-nos à estratégia do confronto para avançar. Isso poderá ser tomado como coragem para enfrentar interesses, o que não é sempre verdade. Por vezes é autismo, teimosia, arrogância e incapacidade de reconhecer o erro.
Validar o erro como parte integrante da aprendizagem é, aliás, uma das maiores dificuldades da nossa educação (muito ao contrário dos anglo-saxónicos). O habitual, por cá, é que quem erra é burro e quem discorda não presta ou é inimigo.
Se não se mudar a atitude de todos face à Educação (e à vida), assumindo-a como central, dando-lhe a liberdade criadora de que necessita urgentemente, em vez do centralismo patético que temos, confiando nos professores e nas comunidades, assim como exigindo a todos rigor e responsabilidade, colocando as famílias e os alunos no centro das decisões, não sairemos do nosso grave atraso estrutural.
O ambiente de guerra entre Ministério e professores constitui, a par com a falta de liberdade e responsabilidade no sistema educativo, o maior obstáculo a uma escola melhor.
Não há fórmula que permita o sucesso “perdendo os professores”, mas “ganhando os pais”. Também não é possível ganhar o futuro se não formos capazes de romper com corporativismos atávicos. É fundamental reconstruir pontes entre famílias/estudantes/sociedade, estado, e professores. É urgente edificar um clima de confiança.
Os professores devem estar mobilizados para cumprir o objectivo de termos escolas de qualidade, que constituam uma diversificada e inovadora oferta pedagógica, que permitam um diversificado leque de escolhas consoante os interesses, qualidades e dificuldades individuais, criando-se assim uma verdadeira igualdade de oportunidades. Uma oferta determinada pela procura, e não contrário. Uma oferta marcada pela harmonia, pela exigência, pelo rigor e pela persistência, beneficiando dos apoios e incentivos necessários para o esforço adicional (programas de recuperação) a desenvolver com alunos com dificuldade.
É urgente apostar decisivamente no binómio autonomia/responsabilidade das Escolas, com grande liberdade na concepção e desenvolvimento do seu projecto educativo, com larga margem no modelo de gestão curricular, de recrutamento de recursos humanos e materiais, garantindo uma avaliação externa rigorosa face aos objectivos gerais contratualizados. Deve eliminar-se o excesso de regulamentação da actividade das Escolas e dos professores. É necessário libertar a actividade da Escola e dos professores confiando na capacidade de cumprirem a sua missão, adequando as respostas a cada contexto.
Urge aumentar também a liberdade de escolha das famílias e dos estudantes e o acesso a uma multiplicidade de opções que melhor os realizem, independentemente da zona de residência ou da personalidade jurídica da escola. Isso trará novas exigências aos professores, mas também um mundo de oportunidades.
É muito importante sublinhar que há muito de bom a acontecer todos os dias nas nossas Escolas e que os responsáveis por esse sucesso são, em grande medida, os nossos professores. É preciso confiar mais nas suas capacidades e exigir-lhes resultados. Eles serão capazes de nos surpreender.
Aquilo que se passa com este ministério, nomeadamente com a avaliação, é exemplar de um caminho sem hipóteses de sucesso. Os professores são essenciais e deverão fazer parte das mudanças necessárias. Não é fácil, e nem todas as mudanças agradarão a alguns interesses instalados, mas, com coragem e equilíbrio, com partilha de responsabilidades, é possível fazer muito melhor.
O governo deve assumir o erro e aprender com ele.
Ângelo Ferreira
(Publicado na edição de 18/11/2008 do Diário de Aveiro, com a seguinte nota: Sou membro do partido Movimento Esperança Portugal, www.mep.pt)

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“Mentalidade de condomínio fechado”

O nosso líder falou uma vez de algo a que chamou “mentalidade de condomínio fechado” e isso marcou-me muito.
Cada vez sinto mais que as pessoas vivem no singular e esquecem-se que as coisas só fazem sentido quando divididas com os outros. Esquecem-se que aquilo que tem valor é o que é sentido e vivido no plural e que quanto mais damos aos outros mais temos para dar.
Hoje entristece-me ver as pessoas a viverem avulso, a pensarem sempre na primeira pessoa do singular e a esquecerem que a nossa essência é viver e sentir em grupo.
Há pouco tempo soube de uma pessoa que foi agredida dentro de um meio de transporte público, à hora de ponta, e ninguém pestanejou para a ajudar ou simplesmente para a consolar. Pergunto-me se as pessoas se esquecem do bom que é chegar a casa e ter conhecido alguém novo? Deitarmo-nos à noite e saber que alguém nos sorriu e que não nos vai esquecer por termos contribuído para melhorar o seu dia? Saber que em momentos de aflição apareceu quem nos ajudasse a ultrapassá-los?
Acredito que todos aqueles que param para nos ajudar a levantar quando tropeçamos, que nos indicam o caminho com toda a paciência quando estamos perdidos, que nos perguntam se estamos bem , nos sorriem dentro do metro e param para nos mudar o pneu do carro, se sentem tão grandes e tão no auge da sua humanidade.
Foi este pensamento que me chamou para o MEP porque além de eu saber que melhor é realmente possível, sei que em grupo posso contribuir de uma forma muito mais forte. E sei principalmente que a politica é de todos, que Portugal é de todos e que temos sempre de pensar no plural porque aquilo que somos é composto por todas as pessoas que cruzam os nossos dias. E, por isso, o mais importante da minha vida são as pessoas e o seu bem-estar e é nelas que acredito.

Inês Teixeira-Botelho
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A propósito de educação, pontes e esperança…

“Escola da Ponte”, o nome revela o seu espírito.
Com mais de 30 anos de existência, hoje podemos observar o seu sucesso, pela equipa que fez uma utopia tornar-se numa escola pública de referência nacional e internacional.
Para quem não conhece a Escola da Ponte fica em Vila das Aves, concelho de Santo Tirso, a cerca de 30 km da cidade do Porto.
“Cruzei-me” com esta escola por ter filhos pequenos, sonhos de educadora e vontade de encontrar uma escola para os meus filhos e para mim.
Fui, por curiosidade, ao lançamento de um livro, cujo autor, José Pacheco, escreveu, inspirado no projecto educativo que desenvolveu ao longo da vida e que se chama “Escola da Ponte – Formação e Transformação em Educação”.
Percebi que É possível!
A Escola da Ponte prova como através do conhecimento se chega a realizações.
Nesta escola a ponte é feita entre todos.
A lógica é de participação.
Começou por promover a educação inclusiva num projecto educativo onde o amor se associa à responsabilidade e o conhecimento é adquirido num clima de solidariedade.
Os alunos organizam-se em grupos heterogéneos, pensam, projectam e a avaliação é feita consoante o ritmo de cada um.
Os professores, designados como “orientadores educativos” proporcionam a reflexão num clima de auto-formação responsável e são a fonte de informação, de partilha, de afecto, de segurança.
O órgão máximo da Escola é a assembleia de Pais, cujas decisões são vinculativas.
Outra característica que me fascinou foi a função da música clássica no dia-a-dia, não apenas pelo estímulo à concentração, como pelo desenvolvimento do sentido estético e conhecimento musical.
É evidente tratar-se de uma escola que investe na felicidade.
A autonomia e a responsabilidade são princípios ao nível do desenvolvimento do projecto educativo, quer na sua concepção como execução.
Não é uma escola que respeita a diferença, é uma escola diferente no seu sentido universal, no sentido de cada um ser único e irrepetível e a diferença uma virtude de todos.
Há promoção do diálogo, da comunicação, da solidariedade e assim se procura desenvolver uma cultura de cooperação.
Uma escola de e para “fazedores de pontes”.
Isto é tudo aquilo em que acredito!
Surpreendeu-me, num clima de tanto desgaste e massacre em relação á educação, encontrar uma “escola da ponte”.
Talvez porque como cidadã todos os dias assisto a conflitos e acho urgente olhar para exemplos como esta escola e conseguir ver que a realidade não é o “copo meio vazio”.
Acredito que em Vila das Aves, Santo Tirso exista um óptimo exemplo e que a diferença é sempre relativa à luz daquilo que cada um de nós vê como verdade ou como igual.
Acredito, também, que criticas sejam feitas a este projecto…mas os mensageiros de utopias estão sujeitos a elas e mais que isso agradecem, pois a análise crítica provoca conhecimento, mudança e isso é fundamental em toda a construção.
Para mim, para o meu País gostava que autonomia, responsabilidade, inclusão, diálogo e pontes fossem a base da educação e que aqui ninguém ficasse de fora.
Bem hajam fazedores de pontes, criadores de utopias e executores de afectos!

JMC
Movimento Esperança Portugal
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quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Pormenores democráticos

(Espelho falso, René Magritte , 1928)


Quando a 31 de Março de 1976, depois de um demorado processo de discussão foi aprovada a primeira Constituição democrática pós Estado Novo, longe estariam os cerca de 230 deputados presentes, de imaginar que passados 32 anos, aquela “ideia de democracia” ainda estaria em vigor. De facto, durante esse período – o mais longo período democrático ininterrupto de sempre – Portugal conseguiu implementar e amadurecer o seu sistema democrático, quer através do reforço do equilíbrio institucional de poderes, quer ainda na implementação de garantias, direitos e deveres para todos os cidadãos. Hoje, quando perguntados sobre a democraticidade do seu país, poucos deverão ser os portugueses que afirmam convincentemente que não vivemos nesse tipo de sistema. Constitucionalmente, diria que a resposta está consonante, visto que nela estão consagrados os pilares fundamentais de uma democracia: direitos fundamentais, separação de poderes, direitos eleitorais, controlo democrático e direitos económicos e sociais. Mas, será assim do estrito ponto de vista da realidade? Será assim quando atentamos aos pormenores da democracia? Infelizmente, diria que não.
Portugal sofre hoje, provavelmente da mesma “doença” dos países ditos ocidentalizados: a incapacidade de transição de princípios e valores previstos na Constituição e na Lei – e ditos democráticos – para simples comportamentos e práticas do dia-a-dia. Nos dias que correm não é difícil encontrar exemplos corriqueiros mas ilustrativos:

1. Em quase todos os jornais on-line, existe um espaço abaixo de todas as notícias, onde os leitores têm a oportunidade de registar os seus comentários. Constata-se contudo, que esses espaços em vez de serem utilizados para o aprofundamento e discussão dos temas subjacentes, mais não são que espelhos da inutilidade dos seus participantes – maioritariamente anónimos - que trocam impunemente insultos racistas, clubísticos, políticos e de outra espécie/ordem. Num país que consagra a liberdade de expressão e que sanciona penalmente as ofensas à honra não se compreende que admita a existência deste tipo de espaços onde a impunidade e a irresponsabilidade abundam.
2. No âmbito da chamada “simplificação administrativa” ou simplex, cada Ministério dispõe actualmente de uma linha telefónica única – dita verde – para responder a dúvidas, questões e inquietações dos utentes. Tal funcionalidade parecia evidenciar uma aproximação às práticas comuns comerciais de “apoio ao cliente” que permitem a este, de um modo eficaz e célere ver respondidas as suas questões. Constata-se contudo, da realidade, que esta linha mais não é que a antiga linha “maquilhada” de verde. Do outro lado da linha, mantém-se a mesma demora e a mesma ignorância na resposta às perguntas colocadas. Num país que define como prioritária a aproximação entre a Administração e o utente não se admite a implementação de programas “fantoche”.

Poderíamos mostrar com muitos mais exemplos, como Portugal ainda vive longe das suas consagrações constitucionais. É urgente que, os princípios, os valores, os ideais, desçam definitivamente à realidade, percorram a vivência societária e influenciem definitivamente os actos, os projectos e as decisões. É necessário, como propõe, Freitas do Amaral, implementar um “programa de execução integral da Constituição” que preencha os ideais dos constitucionalistas e concretize no dia-a-dia a verdadeira democracia.
A democracia, mais do que nunca, precisa de preocupar com os pormenores. Porque é neles, que vive, o cidadão comum – o verdadeiro fim daquele sistema.

Bernardo Cunha Ferreira

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M de Obama, MEP, Mudança e Marques

por Diogo Pipa

É natural que nestes dias o tema Obama Presidente seja o mote para as mais diversas escritas.
Esta é mais uma, a juntar a tantas outras que já nos disseram muito, sempre com o horizonte da esperança e da mudança como pano de fundo.
Posto isto e pegando no título deste post , um dado logo ressalta: Barack “History” Obama não tem a letra M nas suas iniciais. Então porquê o M de Obama?
M poderia ser o de Martin Luther King. Ou o de Mahatma (Grande Alma) Ghandi. Ou mesmo o de Nelson Mandela.
Porque Obama segue a linha destes três grandes. Na luta pela plena democracia, pela igualdade, o respeito pelos adversários e, last but not the least, pela firme convicção de que construindo pontes, ouvindo, alcançará melhores resultados para o seu país e para o mundo.
Com todos e não contra todos e pelo primado dos direitos humanos de que a recente confirmação da intenção de encerrar a base de Guantanamo é um primeiro e feliz exemplo.
Mas o “M” de Obama é, à escala nacional, o M de MEP.
Obama construiu a sua vitória com base em duas ideias fortes: Esperança e Mudança.
Ora, Mudança e Esperança são exactamente os dois grandes designios do MEP. Se virmos bem, MEP = Partido da Esperança + Mudança.
O “M” também poderia ser de Rui Marques, presidente do MEP. Isto porque, à semelhança de Obama, fez aquilo que muitos de nós portugueses, dizemos repetidamente, uns em voz alta outros em surdina, mas que não deram o primeiro passo: é preciso algo novo no País, é preciso e urgente mudar o estado das coisas. É preciso tentar entrar pela porta estreita que os partidos têm fechado não só a pessoas, mas a ideias, a a diferenças, à mudança e à esperança.
E quem se está a juntar no MEP?
Nas devidas proporções e ressaltadas as devidas diferenças, aqueles que, em conjunto com muitos outros, deram a vitória a Obama e, muito importante, os novos “comunicadores”, fazendo uso da internet como a mais ágil e sábia forma de comunicar e todos aqueles que querem mudar para melhor e têm esperança que, com o seu contributo, pequeno que seja, isso seja possivel.
Olhando o “velho” espectro politico português dificil será encontrar nalgum partido as sementes lançadas nos EUA. Um novo partido entretanto surgiu. Ventos de mudança e sinal dos tempos. Apanhemos o comboio. Uma nova época está a chegar.
Change has come to America, he said.
A mudança chegará a Portugal. Com o MEP.

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terça-feira, 18 de novembro de 2008

Ideias para a mudança na educação

Com estes pontos soltos, que passo agora a escrever, quero sobretudo deixar a minha ideia de como muitas formas de fazer política podem ser alteradas.
Aqui ficam concretas (mas escritas de forma muito livre, e sem preocupação da construção de frases) o que penso:

Ninguém devia trabalhar mais que 8 horas diárias e quem tem família constituída (mulher e/ou filhos) alguns dias até deveria só trabalhar 6 horas para poder estar mais tempo com eles.
Cada casal tem a liberdade de colocar os filhos na escola onde quer, acabando com o grupo de escolas.
Todas as pessoas que frequentem a escola nas suas mais diversas modalidades (primária, básica, secundária, superior) terá sempre uma ajuda por parte do estado conforme os rendimentos de cada agregado familiar (não deixar ninguém para trás), numa óptica de haver oportunidades para todos.
Estes subsídios seriam cortados a partir do momento que um aluno chumbasse de ano.
Cada aluno passará progressivamente mais tempo na escola.
Assim na primária passará 4 horas na escola, tendo o resto do tempo para estar com a família ou para se dedicar a outras artes.
No básico passará para 4 a 6 horas.
No secundário para 6 a 8 horas.
No ensino superior terá 4 horas diárias de aulas, e o resto do tempo será para investigação na área dentro da escola de ensino ou sempre que se justifique fora (algo que falta abundantemente no nosso ensino superior).
Em relação ao ensino superior, é inacreditável que num país tão pequeno como Portugal hajam centenas de universidades.
Em alguns países nórdicos, as universidades nem chegam a 25.
E alguém coloca dúvidas ao sucesso do seu ensino.
É pois da mais especial importância que se fechem e reestruturem os locais de ensino superior em Portugal.
Para Portugal bastaria haver à volta de 18 universidades em Portugal continental, desde que houvessem sinergias entre elas, numa cultura de pontes.
Cada professor só pode ser colocado no seu distrito de residência, acabando assim com a constante movimentação a dos mesmos de distrito em distrito, não dando muitas vezes a estabilidade necessária para a sua família.
É fundamental iniciar uma fiscalização séria às escolas, mas sobretudo às de ensino superior. (e ainda mais as universidades privadas. A sua forma de existência deve ser ponto para discussão séria. Há casos alarmantes!!!)
É ao longo de todo o ensino secundário que se deve ir avaliando os alunos, e se os mesmos têm capacidade para entrarem nas faculdades e não colocar esta decisão apenas nos exames nacionais.
Nenhum aluno deveria entrar para a universidade com média inferior a 13 no ensino secundário.
Quem conclui o ensino superior sem nunca ter chumbado em nenhum ano de escola deve ter entrada directa no mundo de trabalho. Se tal não acontecesse está-se a reconhecer que a formação a nada serve de prático para o aluno, na sua vida futura de trabalhador… e pode começar também por aqui a desmotivação para a frequência na escola.
Deve haver avaliação e fiscalização constante por parte de entidades da responsabilidade do estado. E que as suas conclusões tenham efeitos práticos.

Bruno de Jesus
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Primum non nocere

Já havia dificuldades sérias na Saúde e na Educação em Portugal quando o actual governo tomou posse, mas havia muita coisa boa a funcionar.

O governo de José Sócrates abordou ambas as áreas de modo simples: atacar violentamente os profissionais da área, apontando-os como os responsáveis dos problemas, e tentando virar contra eles a restante população.

Os resultados em ambas as áreas são péssimos. Na saúde parece que não se resolveu nenhum problema e que se criaram outros novos. Na educação foi iniciado um processo cujas consequências devastadoras se verão ao longo dos próximos anos.

Tem havido demasiados políticos em Portugal que pensam que o poder que lhes é confiado pelos votos é um poder absoluto, não sujeito a nenhuma ética ou deontologia. Assim, quando decidem que querem fazer uma reforma, pensam que tudo lhes é permitido.

Ora quem tem o poder de intervir para melhorar a sociedade deveria prestar atenção à máxima usada em medicina que dá o título a este post: primum non nocere (primeiro, não prejudicar). Dada a complexidade dos sistemas da saúde e da educação, a prudência recomendaria a quem quer melhorar os sistemas que desse passos pequenos de cada vez. Em particular uma reforma deve ser ponderada para avaliar se o que se vai pôr em causa não é desproporcionado em relação ao que se pode vir a ganhar.

Infelizmente não é claro que a intenção das reformas na área da saúde tenha sido a de melhorar os serviços. Tem havido demasiada promiscuidade entre ministros da saúde e empresas de grandes grupos privados com grandes investimentos feitos na área da saúde.

Já na educação o problema parece ser mesmo um excesso de confiança em si próprios e de arrogância dos responsáveis.

Em ambos os casos são os serviços públicos a perder qualidade e utentes, e os serviços privados a receber cada vez mais utentes. Em ambos os casos são os mais pobres que perdem serviços de qualidade e não têm capacidade de recorrer aos novos serviços dos privados.

Dito de outro modo: "muito ajuda quem não atrapalha" e na saúde e na educação este governo de José Sócrates tem sobretudo atrapalhado.
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segunda-feira, 17 de novembro de 2008

MEP Minho na imprensa.


Para que todos possam consultar um dos artigos, que sairam hoje na imprensa de Braga, sobre a actividade de divulgação do MEP, que se realizou ontem nesta cidade.

Novo partido político apresentado em Braga

MEP quer valorizar sociedade civil

O Movimento Esperança Portugal (MEP), o 16.º e, por isso, o mais novo partido no país, está apostado em valorizar a sociedade civil, acreditando que cada membro pode contribuir para a construção da cidadania.
O MEP, que foi ontem apresentado publicamente em Braga no decorrer de um magusto, tendo o responsável do núcleo do Minho salientado que este é um partido humanista, personalista, cujo lema é “Melhor é Possível”, acredita que vai ser possível eleger entre dois a quatro deputados nas próximas eleições legislativas."
Texto, José Carlos Ferreira

Publicado em Diário do Minho: http://www.diariodominho.pt/noticia.php?codigo=33835

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MEP em Acção no Minho.


Mais de meia centena de pessoas juntaram-se em Braga para conhecerem melhor o MEP.

Após o acolhimento, iniciamos a apresentação da razão de existir do MEP, pelo Vice-presidente Ângelo Ferreira, que fez uma bela palestra muito esclarecedora.

Depois de todos ficarmos a conhecer as prioridades do MEP, seguiu-se uma troca de opiniões e questões levantadas pelos participantes sobre a situação politica portuguesa e a participação das pessoas.

Para concluir esta apresentação o Ângelo Ferreira e a Margarida Neto reforçaram a necessidade de um partido diferente, que construa pontes e que inclua todos os cidadãos num Portugal Melhor.

Para terminar este evento, juntamo-nos todos á volta das castanhas assadas e em ambiente informal trocaram-se experiências de vida e desejos de sucesso ao MEP.

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sexta-feira, 14 de novembro de 2008

A minha escola

por Celina Rodrigues

Salgueiros é a pequena aldeia do concelho de Vinhais, distrito de Bragança, onde vivi desde os 4 até aos 17 anos, aí frequentei a escola primária num edifício minúsculo, tinha uma sala de convívio, uma sala de aulas, que era comum às 4 classes, e duas casas de banho em que a das raparigas era de uso exclusivo da professora Ana Maria, e a nós alunos, meninos e meninas, pertencia-nos a dos rapazes.

Éramos em média 3 alunos por classe, cada classe tinha uma mesa ou duas, à medida que passávamos de ano avançávamos para a mesa seguinte, a progressão era também a esse nível.
Na mesma sala com 4 classes a professora Ana Maria conseguia por toda a gente a trabalhar no seu nível sem grandes complicações, havia um ou dois alunos com problemas de mau comportamento mas que a professora geria de forma exemplar.

Quando vinha um tal Director, que não sabíamos muito bem quem era, toda a gente dava o seu melhor porque a professora estava a ser avaliada, até os meninos mal comportados colaboravam.
Relembro esta parte da minha vida porque nesse tempo, convém referir que estávamos nos anos 80, apesar das várias carências e dificuldades, os problemas eram resolvidos através do diálogo construtivo entre nós, os nossos pais e a professora Ana Maria.

Os tempos mudaram e hoje em dia parece que ninguém se entende, é o braço de ferro entre o Ministério da Educação e os professores e são os alunos que, depois de agredirem com ovos a Sra. Ministra, fecham várias escolas a cadeado chegando a ser necessária a intervenção de forças policiais.

Não tenho filhos, mas se um dia os tiver e for necessário escolher, prefiro que estudem numa escola com menos recursos e com mais “Educação”.

Ainda tenho esperança.


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quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Ainda o BPN- algumas ideias soltas

Não trabalho na área financeira, mas a minha formação é em Gestão e sou naturalmente sensível ao impacto de todos estes acontecimentos. Na verdade, todos acabamos por ser, pelo menos na medida em que tem preenchido os noticiários…

Das muitas coisas que têm sido ditas e escritas, há algumas que me têm feito pensar, e que aqui deixo como reflexões “em progresso”:

1- O problema das contas do BPN: é bom ter presente que a nacionalização do BPN tem como objectivo conter o problema, mas em si mesma, não o resolve. Na verdade, e apesar do financiamento do Estado, via CGD, de 800 milhões de euros, o problema das contas do banco lá está para ser encarado, e, espera-se, resolvido, pela nova gestão;

2- O problema da regulação do sistema bancário (ou por outras palavras, novo elefante na sala): por mais explicações que Vítor Constâncio dê, e por mais que outras vozes se levantem em defesa do Banco de Portugal (o Presidente da Associação Portuguesa de Bancos, João Salgueiro disse hoje que “a polémica à volta do caso BPN tem tido um aproveitamento político”, desvalorizando as críticas à volta do trabalho de supervisão, e afirmando que casos destes estão sempre a acontecer e é impossível detectá-los a todos e que o problema está na prevenção), fica o desconforto, repetido no caso do BCP, de que esta instituição não actua, prevenindo ou remediando, como exigido pela dinâmica dos intervenientes no mercado. Também aqui, se espera que alguma coisa aconteça, no sentido da revisão do modelo de supervisão ou, no mínimo, no agravamento das sanções dos prevaricadores, como defendia o Editorial do DE, por António Costa*.

3- A mensagem de que o crime -mesmo que de “white collar”- não compensa: parece-me fundamental que se conduzam os processos de investigação e de acusação neste tema, de maneira que sejam efectivamente responsabilizados e punidos os gestores e/ou accionistas que tenham tido um papel activo na “falência” do banco. Porque enquanto compensar, haverá sempre incentivo a prevaricar.

4- Finalmente uma palavra para quem trabalha no BPN! Desde o domingo em que foi anunciada a nacionalização, que me fazia uma enorme confusão não ver uma palavra dirigida a quem trabalha no banco- se houve para os clientes, para os gestores, para os accionistas, para o Banco de Portugal, para o Governo…Francisco Bandeira, novo presidente do Conselho de Administração do Banco, garantiu aos 1800 trabalhadores do BPN que fará o que for necessário para que não se confunda a seriedade dos trabalhadores com a dos que "praticaram os actos que têm vindo a público" e disse ainda que a sua equipa chega ao BPN animada de "forte determinação para devolver a credibilidade e a motivação ao banco e a todos os que nela trabalham". Finalmente!

Este assunto está longe de estar encerrado, e ainda fará “correr muita tinta”. Por um lado, ainda bem. É sinal de desconforto, e com o desconforto vem a necessidade de mudança que nos leva a ser melhores, também enquanto sociedade.

*http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/editorial/pt/desarrollo/1183293.html
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quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A participação é condição para uma verdadeira inclusão (ou como a Dª Conceição começou a realizar um sonho)

«o que mais me custa é sentir de noite as cobras, os lagartos e os ratos»

A partir de 2001, a European Anti-Poverty Network promove encontros europeus cuja filosofia subjacente é a de “dar voz, às pessoas que normalmente não a têm, em quase nenhuma circunstância”. Nesse contexto, a Rede Europeia Anti-Pobreza / Portugal procura incrementar, no contexto nacional, iniciativas de cariz semelhante. Desde 2007 têm sido desenvolvidos encontros regionais entre pessoas em situação de pobreza e responsáveis de várias áreas (Saúde, Educação, Emprego, Protecção Social, Autarquias,…) O que se pretende fundamentalmente é promover a discussão – e a participação – dessas pessoas de forma a poderem pronunciar-se sobre as medidas de política social que afectam directa ou indirectamente a sua vida quotidiana.

Este ano, para o Encontro da Região Centro, realizado a 10 de Outubro, experimentou-se implementar um processo de auscultação prolongada no tempo que se concretizou através do recurso à metodologia photovoice (combinando uma abordagem centrada na comunidade com a fotografia e a voz numa tentativa de dar expressão visual à consciência social, os participantes foram convidados a fotografar algo de positivo e de negativo que traduzisse a sua relação com os serviços públicos).

É aqui que surge a figura da Dª Conceição, participante de um dos Encontros. A imagem acima é da sua autoria e mostra a sua realidade tendo confessado no encontro que ... «o meu maior sonho é conseguir ter uma casa com mais condições, maior, e poder ter os meus filhos comigo». Decorrente da visibilidade mediática do Encontro, a Dª Conceição foi convidada a dar seu testemunho para uma reportagem televisiva transmitida no Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza (17 de Outubro).

A Dª Conceição habita(va) em situações completamente degradantes perto de Coimbra tendo beneficiado até Setembro de 2008 de 180€ /mensais atribuídos pelo Rendimento Social de Inserção. A Dª Conceição já trabalhara para a Caritas de Coimbra, gosta de fazer trabalho de costura encontrando‑se neste momento a frequentar um curso de formação para a inclusão em desenvolvimento pessoal e social, promovido pela Figueira Viva. A coragem em testemunhar o seu caso (re)alertou a Câmara para a situação que deu início a um projecto de recuperação da habitação (e ainda recebeu uma máquina de costura oferecida pelo canal de televisão).

Quem trabalha na área da solidariedade social sabe que os resultados das suas actividades não são visíveis no imediato (até porque frequentemente o que se pretende mudar são atitudes e comportamentos estruturais – o que pode levar gerações). Mas por vezes há pequenos sinais de que o esforço de ajudar os outros a concretizar os seus sonhos vale mesmo a pena. Sinais esses que nos dão alento para continuar a trabalhar num futuro melhor para as imensas "Dªs. Conceição" que ainda existem.

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terça-feira, 11 de novembro de 2008

Na margem de um velho caderno

Estávamos em 1958, mais de uma década depois do fim da II Grande Guerra. A fome abrandava um pouco a ira com que nos castigara e começava, lentamente, a autorizar a construção de um futuro melhor. Mas estávamos ainda longe de o adivinhar. Os tempos, teimosamente difíceis, exigiam imaginação e largueza de espírito, que completassem, à falta de melhor, o vazio dos estômagos com a matéria dos sonhos. Os pobres antigos, que eram a grande maioria da população, sabiam, repartindo a pobreza e o que mais, aquecer os corações de esperança. Fazia-se banquete de um “pouco-mal-me-chega”.
Recordo com saudade o meu avô que, sentando à lareira, com os netos em redor, era um contador de histórias inacreditáveis, aventuras insólitas que inventava sob os nossos intensos olhares de espanto e as sombras que dançavam nas paredes de adobo, animadas pelo fogo da lareira, que cozia uma “água-de-couves” em panela de ferro. Na penumbra daquela cozinha, no silêncio nocturno da aldeia, aprendia-se a sonhar, a ouvir, a pensar para lá da nossa curta geografia e parca condição.
Era o mês do S. Martinho e chovia que Deus a dava. O céu pesava sobre os meus pequenos ombros no caminho de casa mais do que o habitual. O caderno da segunda classe tinha acabado. Tinha de pedir outro à minha mãe e não sabia como fazê-lo. Quando lho disse, ela sabiamente me fez ver o espaço que existia nas margens, que eram sempre uma boa tábua de salvação para pobre nadador.
Dias depois não houve solução. Nem margens, nem dinheiro para outro caderno. A mãe mandou-me falar com a professora, para mo dar da caixa escolar, que para alguma coisa eu a pagava. A professora negou-mo com base na alegação final de que o meu pai estava em África e por isso era rico. Dito e feito, afinal, naquela altura, quem podia ajuizar melhor que a senhora professora?
O meu pai lá continuava a “enriquecer” por África, enganado por um familiar, e a minha mãe a trabalhar de sol a sol na cerâmica, a carregar tijolo para sustentar os filhos, quatro, e comprar umas calças, que certamente só cá existiam, para enviar ao pai pelo correio, com uns tostões nos bolsos.
O mês havia sido muito chuvoso, o que nem sempre era bom para o corpo e quase sempre era mau para a alma. Mas a humidade trazia também os míscaros, que além de gratuitos, sabiam muito bem. Era uma festa procurá-los nos pinhais ali perto, uma autêntica diversão da criançada. Enquanto isso, lá íamos apanhando uma lenha perdida, umas pinhas, e agulhas, para acalorar as histórias do avô e a sopa da avó.
Dezembro foi um mês frio. Talvez pareça hoje impossível, mas de manhã as terras e os caminhos estavam brancos de neve, a água gelada nas poças, a cara cheia de cieiro e os dedos a arder de frieiras. Eu já tinha umas tamancas de madeira, cobertas na frente com pele, mas alguns iam com os pés nus para a escola e voltavam descalços para casa. Naqueles momentos, embora estivesse calçada, o frio entrava-me pelos olhos até à alma. Ainda hoje sinto arrepios quando penso nisso.
Gostava muito de aprender. Além de que escola era melhor do que lavar a roupa no tanque, cozinhar e cuidar dos meus irmãos mais novos. Infelizmente, porém, nem sempre podia dedicar mais tempo à primeira. Além disso, não tinha livro e estudava à luz da vela. Não me esqueço daquele frio da sala de aula, que parecia não afectar a professora, que ia dando a aula sentada junto a um aquecedor e tomando chá que trazia numa garrafa termo. Ainda sinto o aroma da banana que ela saboreava para nosso “entretimento” e, quem sabe, como estratégia para mantermos nela a concentração. Lá que resultava, isso resultava.
O Natal estava a chegar e, com ele, uma enorme e regeneradora felicidade. As crianças aguardavam, com uma ansiedade tão inocente quanto forte, a vinda do menino Jesus. É que, além de anunciar a chegada de um ano novo e seguramente melhor, ele deixaria, pela calada da madrugada de 25, nas tamancas junto à lareira, presentes para os que se tinham portado bem no ano que findava. Nessa manhã, que ainda era noite, corri para junto da fogueira para me deslumbrar com o brilho cintilante de 3 cigarros de chocolate, 5 bombons recheados, 5 nozes e 5 figos secos.
Hoje, na mesma aldeia, há uma fartura que faz esquecer aqueles tempos, e ainda bem. No entanto, se a maioria das pessoas parece ter de tudo, sempre há quem tenha algumas coisas de mais e outras de menos. Valerá a pena pensar nisto?

Ângelo Ferreira
(Publicado na edição de 11/11/2008 do Diário de Aveiro)

Nota: encontrei esta história escrita nas margens de um velho caderno, o que me deu muito jeito, pois não tinha assunto para a crónica de hoje.

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Sessão de apresentação/esclarecimento em Algueirão, Mem Martins e Mercês

Pelas 21h30 começou a sessão de esclarecimento na Escola Visconde Juromenha.Perante uma plateia, de aproximadamente, 60 pessoas, o presidente do partido (Rui Marques) apresentou-nos um pequeno trabalho em que procurava transmitir a ideia que ao longo dos tempos melhor foi possível, que hoje melhor é possível.Usando um quadro presente na assembleia da república (que nos mostra um momento de naufrágio vivido por portugueses ao tentarem transpor o Cabo das Tormentas), foi estabelecendo várias metáforas com o momento actual do país e da nossa intervenção.

Depois de explanada a apresentação em traços gerais daquilo que o MEP pretende ser para na sociedade civil portuguesa, foi “aberto um espaço” para perguntas da plateia.A essas perguntas o nosso presidente foi sempre respondendo, tendo em vista o que o MEP pretende.Já depois de encerrada a sessão houve oportunidade para falar com os que assistiram à apresentação do MEP para a população de Algueirão, Mem-Martins e Mercês.Na sua maioria, o sentimento foi positivo, tendo como principal tónico, esta política da esperança vir na melhor das alturas.

Por outro lado, houve ainda gente que disse ter dúvidas do continuar este projecto sem se desviar um milímetro do que o MEP defende actualmente.Creio que a semente foi lançada nesta terra, mas agora falta trabalhar a mesma.Pois muitos ficaram até com a ideia que de facto pode estar aqui uma solução, mas precisam de ser mais “espicaçados” para de facto rever neste, o seu projecto. No fim da sessão houve ainda um pequeno “comes e bebes” para quem quisesse retemperar o estômago.

Bruno de Jesus
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segunda-feira, 10 de novembro de 2008

O PREÇO DO INCUMPRIMENTO

Já ninguém dúvida que a crise financeira e económica chegou para ficar. O que não se sabe é quando é que a crise vai acabar.

Avizinham-se tempos difíceis para as famílias e para as empresas, maior desemprego e, consequentemente, maiores tensões sociais. A diferença entre os mais pobres e os mais ricos tende a acentuar-se e quem paga normalmente a factura é a classe média.

A taxa de incumprimento dos empréstimos bancários tem vindo a subir e cada vez mais as empresas não conseguem pagar a tempo e horas. Deixam de pagar aos trabalhadores, aos fornecedores e por fim ao Estado. Os pedidos de insolvência, como tem vindo a ser noticiado, aumentam diariamente.

Os bancos, na actual conjuntura financeira, apesar das descidas das taxas de juro de referência do Banco Central Europeu, emprestam cada vez menos dinheiro a um preço mais elevado, com receio do risco de crédito mal parado.

O Estado não consegue dar o exemplo. Exige muito e cumpre pouco. O programa “pagar a tempo e horas” revelou-se um fracasso, com reflexos altamente negativos para toda a economia nacional, como aliás quase todos os partidos da oposição incluindo o MEP têm vindo a denunciar.

O sistema judicial não funciona adequadamente, entupido com acções judiciais para cobrança de dívidas, quer do Estado, quer das empresas ou dos particulares, tendo-se tornado o calvário dos credores que pretendem reaver os seus créditos.

Perante a falta de liquidez do sistema financeiro, facilmente se conseguem hoje em dia depósitos a prazo com remunerações na ordem dos 6% e, no mercado de obrigações, assiste-se a taxas de retorno com baixo risco superiores a 10%, em várias das principais empresas portuguesas.

Neste cenário, era natural que as taxas de juros legais e a taxa supletiva de juros moratórios relativamente a créditos de que sejam titulares empresas comerciais fossem actualizadas para rapidamente desincentivarem o incumprimento.

Actualmente, a taxa de juros legais é de 4% e não é revista desde 2003 (Portaria n.º 291/2003, de 8 de Abril).
A taxa supletiva de juros moratórios relativamente a créditos de que sejam titulares empresas comerciais é, no segundo semestre de 2008, de 11,07% (Aviso n.º 19995/2008 da Direcção Geral do Tesouro, publicado no Diário da República, 2.ª Série, n.º 134, de 14 de Julho).

Mas o Estado, designadamente o governo através do Ministério das Finanças e da Justiça, que é quem tem competência para alterar aquelas taxas, sendo o principal devedor, não está interessado em alterar esta situação, até porque cobra taxas de juros de mora de 1% ao mês!

Não admira assim que o Estado, as empresas e os particulares, todos queiram pagar fora de horas e prefiram esperar que os credores recorram aos tribunais. Quanto mais tarde pagarem as suas dívidas, menor será o preço do bem adquirido ou serviço prestado. A excessiva morosidade do sistema judicial, permite a quem não cumpre financiar-se a médio/longo prazo à custa dos seus credores, sem contratos, sem aprovações e sem garantias de reembolso. Com alguma sorte, a dívida é renegociada antes do julgamento.

O preço do incumprimento tornou-se nos últimos anos demasiadamente barato em Portugal.

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A OPORTUNIDADE DE MUDAR


Numa sociedade livre e racional a mudança ocorre quando se verificam fundamentos para tal.
É uma verdade inquestionável. Ou talvez não!
Um modelo pode manter-se válido por longos períodos de tempo. É o que se tem verificado no mundo ocidental nas últimas décadas. Com oscilações, ciclos, crises e tudo o mais. Mas sem alterações estruturais de grande monta.
Este equilíbrio económico deu origem a um equilíbrio social, pois as partes não tem incentivos a mudar. As empresas, e especialmente os grupos económicos têm crescido exponencialmente e a grande maioria da classe trabalhadora e pequenos empresários têm também conseguido ver as suas condições de vida melhorar de uma forma sustentada. Tudo isto é excelente e catapultou o mundo ocidental e os seus cidadãos para um nível de vida que era inimaginável em meados do século passado.
O que me preocupa é a percepção de que este modelo já não está em equilíbrio. E já não está em equilíbrio há alguns anos. E que a parte mais forte, os grandes grupos económicos e financeiros, fruto de uma melhor percepção da realidade global e maior capacidade de actuação, e com o apoio de algum poder político que conseguem cativar, têm estado sistematicamente a alterar as regras do modelo, impedindo que a outra parte, a esmagadora maioria dos indivíduos disso se aperceba.
Ao longo da última década temos assistido a sinais de aviso oriundos das mais diversas áreas: o ambiente tem vindo a degradar-se de uma forma insustentável; as garantias que o estado social tem vindo a apregoar não estão mais asseguradas; a massificação da educação não consegue garantir as mesmas oportunidades para todos; os direitos e liberdades fundamentais estão cada vez mais garantidos apenas ao nível teórico, mas não na prática, o fosso entre os mais ricos e os menos ricos têm vindo a acentuar-se.
Mais recentemente, a crise no mercado financeiro, com origem no mercado imobiliário, acaba com o sonho de todos sermos proprietários de uma casa, e as suas consequências na economia real vão também por algum tempo reduzir o direito ao emprego, pelo menos para um previsível muito numeroso grupo de pessoas.
Neste momento, a percepção das falhas do modelo existente são reais. Em breve as dificuldades serão sentidas por todos nós. Simultaneamente, a percepção que temos do poder dos grandes grupos económicos está a tornar-se mais clara e podemos ver as suas fraquezas.
Em suma, o modelo está em desequilíbrio e esse facto não é mais ocultável.
Apesar dos esforços conjugados de todos os governos ocidentais, não há garantias de que a situação anteriormente vigente possa ser reposta.
A oportunidade para a mudança está aqui e agora. É hoje o tempo para a realizar. E acho que não sou o único que vê isso - CHANGE / YES WE CAN.
Se conseguirmos ser cada um de nós mais um elemento a pender a balança para a mudança, se tivermos a audácia de arriscar aquilo que temos (erradamente) apreendido como garantido e aceitarmos a possibilidade de um mundo melhor para todos, se abandonarmos a lógica do politicamente correcto e lutarmos por uma lógica do eticamente correcto, se acreditarmos que o futuro pertence a todos nós e a todas as gerações futuras e não apenas a alguns poucos de nós hoje, então, estamos preparados.
O último ingrediente, e aquele que poderá ser o catalisador da mudança, chama-se esperança. É a esperança que nos dará força. É a esperança que nos fará acreditar.
Não tenho a certeza que futuro está reservado para mim, para os meus filhos, para a humanidade. Mas tenho a esperança que a mudança nos leve a um mundo melhor.
Talvez não seja materialmente melhor. Mas será um mundo com futuro.
Talvez não seja um mundo em paz e estável, mas terá os alicerces para no futuro o ser.
Talvez não seja um mundo justo, multicultural e global, mas certamente tenderá para isso sem excluir ninguém.
E certamente será um Mundo mais verdadeiro e honesto do que aquele que temos hoje. Um mundo onde terei mais orgulho em viver e educar os meus filhos.

Miguel Martins dos Santos
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sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Quando os forasteiros dão o exemplo…

Tenho carta há quase 30 anos e conduzo regularmente em Lisboa. Até ao ano passado, nunca tinha chocado contra ninguém, nem deixado que alguém batesse num carro conduzido por mim.
No entanto, no espaço de alguns meses, o meu carro esteve envolvido em quatro acidentes sem gravidade, nenhum dos quais por minha culpa. O mais recente aconteceu na véspera do MEP apresentar as suas “52 Razões de Esperança”, uma das quais refere a diminuição de 50% no número de mortos por acidente de viação desde 2000 e outra a diminuição de 41% no número de infracções ao Código da Estrada entre 2005 e 2007.
No ano passado, fui abalroado pela esquerda por uma habitante local, por sinal muito bem vestida, que vinha distraída a fazer inversão de marcha e a olhar para o lado errado e me arrancou o pára-choques traseiro. Disse-lhe que a tinha visto e tinha tentado fugir, mas que não tinha conseguido. Respondeu enfadada, que não tinha a certeza de ter culpa e acrescentou que, se eu a tinha visto, tinha obrigação de ter parado (!). Enfim, a companhia de seguros dela achou que eu não tinha qualquer culpa e lá me pagou o arranjo.
Meses depois, outro toque: alguém fez marcha-atrás contra o meu carro, que eu tinha acabado de estacionar e de onde saíra um minuto antes. O condutor, também apessoado e habitante local, ficou muito aborrecido porque não deu por eu estacionar e fez marcha-atrás sem olhar, mas lá preenchemos a declaração amigável e tudo ficou resolvido com um pára-choques novo.
Em Agosto passado, outro acidente: uma carrinha de entregas ao domicílio do Continente que seguia à minha frente parou repentinamente e começou a fazer marcha-atrás para facilitar o estacionamento a outra viatura, por sinal em local proibido. Eu vinha atrás, parei e ainda toquei a buzina, mas não fui suficientemente rápido a engatar a marcha-atrás, tão surpreendido fiquei com a manobra. Pumba: mais um capot amolgado. Pensei logo no pior:
- “Se me calha um habilidoso que queira distorcer a realidade, aproveitando-se da circunstância de eu estar por trás, estou tramado”. Para prevenir, pedi logo a dois transeuntes locais que fossem minhas testemunhas, caso o outro condutor não assumisse a culpa do sucedido. De imediato se escusaram, alegando que estavam com pressa. Sendo assim, pedi-lhes o contacto telefónico, mas seguiram o seu caminho, dizendo que ir a tribunal dava muito trabalho. Dei por mim a rosnar qualquer coisa como “Deus queira que um dia não precisem que alguém testemunhe a vosso favor…”
Felizmente o condutor era um imigrante São-Tomense, extremamente educado, que se desfez em desculpas, explicando que só tentou facilitar o estacionamento ao outro e não me viu, por ser uma carrinha de caixa fechada. Lá assumiu a culpa, preenchemos mais uma declaração amigável e a situação lá se resolveu com dois dias de oficina.
- “Desta já me safei” – pensei aliviado, mas fiquei a remoer na recusa dos transeuntes:
- “Onde chegou o egoísmo e a descrença no nosso sistema de justiça…” Este é um dos problemas mais graves da nossa jovem democracia: o mau funcionamento da justiça conduz ao alheamento progressivo dos cidadãos e à diminuição, na prática, do respeito pelos nossos direitos, liberdades e garantias.
Mas o meu carro deve andar azarado, porque no mês passado, ao chegar ao local onde o tinha deixado estacionado de manhã, junto ao passeio mas já perto de uma curva, vejo o pára-choques da frente no chão.
- “Pronto, desta vez é que vou entrar em despesas…” – pensei. Mas fiquei mais aliviado quando vi, entalado no vidro da porta, um cartão de visita dos vinhos “Monte do Limpo”, de Monsaraz, com os contactos do responsável pelo sucedido, José Paulino. Tinha escrito: “Fui eu que dei um toque no seu carro. Agradeço que ligue para mim, para pagar os prejuízos”. Telefonei e atendeu-me uma voz com sotaque alentejano. Pediu desculpa, e explicou-me, que tinha guinado para fugir de outro carro e tocado de raspão no meu pára-choques da frente, arrancando-o do seu encaixe.
Agradeci a cortesia de ter deixado o cartão de visita, referindo que, apesar de ter feito apenas o que está correcto e a sua obrigação, infelizmente, nos tempos que correm, isso nem sempre acontece. Respondeu que era a sua forma de estar na vida, referindo de forma tranquila e educada, que, apesar do carro estar estacionado perto da curva, a culpa tinha sido dele. Disse-lhe que passaria pela oficina, a ver como poderiam fazer a reparação da forma mais barata possível e que depois lhe ligaria de volta.
Fui à oficina e felizmente, apesar do aparato, tudo se resolveu com boa vontade e uma hora de mão-de-obra (29 €). O meu carro é velho e achei que, dadas as circunstâncias, não se justificava a pintura do pára-choques. Como combinado, liguei e deixei uma mensagem no atendedor de chamadas, a dar as boas notícias. Recebo de volta um SMS, com o seguinte texto: “Boa noite Sr. Gonçalo. São 23h e ouvi agora a sua mensagem. Como é tarde não liguei para não incomodar. Agradeço que envie o seu NIB para eu transferir um pouco mais do que os 29 €, que acho pouco para o transtorno que lhe causei.”
Esta mensagem alegrou o meu dia e ainda a tenho guardada no meu telemóvel.
Uns dias depois liguei ao Sr. Paulino. Agradeci a mensagem, informei-o que estava fora de questão aceitar qualquer pagamento adicional e propus-lhe que, em vez de me pagar, teria o maior gosto em que nos encontrássemos da próxima vez que viesse a Lisboa, para poder conhecê-lo pessoalmente e, se quisesse, me trouxesse umas garrafas do seu bom vinho alentejano. Disse-me que não era todos os dias que se encontrava alguém tão colaborante como eu e aceitou de bom grado.
Temos a obrigação de transmitir a esperança de que somos herdeiros e de ajudar a construí-la à nossa volta.
Não sei se é coincidência, mas tenho ido mais vezes às compras ao Continente. Mas sei que, cada vez que abrir uma garrafa do Sr. Paulino, me vou lembrar de contar estas histórias e dizer a quem na circunstância me acompanhar que ainda há portugueses honrados e imigrantes africanos simples e trabalhadores que nos dão lições de civismo.

Gonçalo Rebelo Pinto
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O Nosso Desafio enquanto Fonte de Esperança

A marcha é dura pois! Os obstáculos parecem intransponíveis... e lento é o caminhar.

Assim foi, e continuará a ser de certo, a caminhada de Barack Hussein Obama até conseguir imprimir uma mudança real na democracia americana. Democracia esta, que fortemente ambiciona ser uma fonte inspiradora para todos os outros povos e nações. É muito interessante o facto de, ele (Barack) ter vindo a apelar, discurso após discurso, a este enorme desafio que é a união de pessoas de idade, sexo, raça, estrato social, religião ou de cor política diferentes. Este apelo à união dá-se em torno de um só objectivo, que é aliás comungado por todos (americanos e não só), o de sonhar que é possível ir mais além – aquilo que os americanos intitulam: “the american dream”.

Num tom firme e expressivo, Barack desperta as consciências e abre o baú da história da América; a mesma (América) que outrora acreditou e teve grande visão para enfrentar passo a passo as barreiras da segregação racial e da grande depressão económica (no início dos anos 80), e dos conflitos militares (guerra fria) e diplomáticos (com a ex-URSS). A mesma que conseguiu o feito notável de chegar até à Lua e ir para além dela, e que consegue dar passos de gigante na investigação biomédica (recordo que é o país que recebe mais prémios Nobel nos vários quadrantes científicos). Assim, Barack nas suas mensagens quer fazer crer aos americanos, que este espírito lutador, unificador e empreendedor não está morto neste tempo de crises consecutivas (financeira, económica, alimentar, energética, social, global,...) mas antes adormecido em cada americano.

A sua audácia leva-o a encarnar o farol da esperança, o “beacon of hope”.

Este foi um dos ícones do artista Shepard Fairey
que se tem celebrizado ao longo de toda
a campanha eleitoral de Barack Obama

Barack escolhe a Esperança ao invés do medo. Apela à Unidade ao invés da divisão.

A repetição vezes sem conta desta mensagem teve (e tem!) o poder de mobilizar novos eleitores, e em particular: os independentes, os republicanos, os jovens, os afro-americanos, os índios nativos americanos, os hispânicos e outras comunidades imigrantes, e os que trabalham na América rural (personificada pelos estados da Carolina do Norte, Iowa, Indiana, Wisconsin, etc) e na cosmopolita (Nova Iorque, Califórnia, Washington, Illinois, etc). Este facto foi sobejamente confirmado pelo voto popular, e também pelas inúmeras sondagens à boca das urnas.

E, aqueles que ridicularizavam e menosprezavam a mensagem da Esperança acabaram por se esvair na caminhada exigente que é a de construir uma democracia mais perfeita: “Porque sempre soubemos que a Esperança não é um optimismo cego. Não é ignorar a enorme tarefa futura ou os obstáculos que se deparam no nosso caminho. Não é sentarmo-nos nas linhas laterais ou evitar uma luta. A Esperança é algo que está dentro de nós, que insiste, apesar de toda a evidência em contrário, de que algo melhor nos aguarda, se nós tivermos a coragem de a alcançar, de trabalhar por ela e de lutar por ela.” (discurso de Barack Obama em Des Moines, no estado do Iowa, depois de ganhar as eleições primárias neste estado no dia 3 de Janeiro do corrente ano; traduzido por João NAR Ferreira)

Este desafio da Esperança lançado por Barack Obama é também, sem margem para dúvidas, um desafio global que nos é feito a nós enquanto cidadãos, e ao MEP enquanto movimento catalizador da Esperança. O nosso passado histórico é repleto de batalhas ganhas e outras perdidas, mas apesar das quedas e da melancolia que nos assiste, nós lusitanos, portugueses sempre nos reerguemos e jamais nos conformámos com factos aparentemente consumados.

Tal como outros o fizeram... também Tu podes acreditar pois, que és fonte de Esperança, e veículo inspirador na construção de um Portugal mais perfeito e duma Europa mais solidária e inclusiva. A chave mestra para uma democracia ideal está no quão for possível todos trabalharmos juntos para atingir esse objectivo comum, que é acreditar que no amanhã é possível fazer mais e melhor.

O tempo urge! Há que mobilizar todos (familiares, amigos, colegas, etc) para uma democracia mais participativa!

Como??

Repetindo com firmeza a mensagem da Esperança, que convida todos a sair do pessimismo e conformismo, e enfrentar as dificuldades com perseverança, bom senso, honestidade, generosidade, fraternidade e responsabilidade.

É esta mensagem que virá ao de cima, e que já está em marcha aqui também em Portugal!! A nossa jornada poderá até ser longa e o nosso trabalho árduo; contudo, lá bem no fundo dos nossos corações, sabemos que a mudança está ao nosso alcance e que estamos preparados para juntos fazermos melhor.

Agora! Já! Aqui! Dá lugar à acção!

Contribui para o Movimento Esperança Portugal!

As tuas ideias e/ou propostas podem fazer a diferença! Acredita!

Melhor é e será sempre possível!


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