domingo, 24 de agosto de 2008

Um olhar sobre a pobreza (parte II)


Portugal enfrenta um quinto ano de crescimento lento. A inflação e a alta de juros têm colocado ainda mais famílias em dificuldade. E uma parte significativa da classe média, já se encontra muito endividada e com elevados gastos em áreas como a energia, a educação e a saúde. Agora começou também a ficar sem dinheiro para pagar todas as contas. Os mais pobres, mesmo mantendo o seu rendimento, ficaram ainda com mais dificuldades em garantir a satisfação de necessidades básicas. Para eles, contudo, o que terá certamente mais custado terá sido o impacto da subida de preços nos bens alimentares. Bens essenciais como o pão, o leite, o arroz, massas e ovos registaram durante o último ano subidas de preços superiores a 10 por cento, encurtando ainda mais os orçamentos familiares mais baixos de Portugal. Em 2008, de acordo com os dados da Comissão Europeia, Portugal vai completar o terceiro ano consecutivo de redução dos salários médios reais, a primeira vez que tal acontece desde pelo menos 1980. Creio que já vai crescendo a consciência de que na nossa sociedade ainda vigoram alguns estereótipos que impedem que a superação da pobreza e das suas causas possam ser uma só realidade tangível. E parece não restar qualquer dúvida que uma melhor escuta dos pobres poderá ajudar a dissipar tais estereótipos. É, pois necessário que os pobres tenham verdadeira oportunidade para expressarem as suas vivências, dificuldades, aspirações e potencialidades. A eles devem ser dada oportunidade de ganharem visibilidade como sujeitos de direitos e deveres de cidadania. Dai a CNJP pretender convocar pobres e não-pobres para uma reflexão conjunta com vista à desconstrução dos preconceitos acerca da pobreza e, por essa via, contribuir para fomentar uma cultura de justiça, de solidariedade e de coesão social. Ao promover esta audição pública, é intenção da CNJP reunir na mesma mesa as pessoas que vivem ou viveram situações de pobreza e os responsáveis pelas políticas públicas e pelas organizações de solidariedade social, investigadores, e gente da cultura e da comunicação social. Para além da mobilização dos necessários recursos no sentido do reforço das políticas sociais, necessário se torna inscrever a erradicação da pobreza em todas as políticas públicas, a começar pela política macroeconómica, as políticas de emprego e de formação profissional, transportes e demais serviços de utilidade social, habitação e urbanismo, saúde, educação ou cultura. Eis um exemplo na sociedade civil de uma boa prática que visa contribuir para o combate a pobreza: reconhecer a pobreza como uma violação dos direitos humanos, definindo-se «um limar de pobreza» que «sirva de referência obrigatória à definição e à avaliação das políticas públicas» para combater o fenómeno em Portugal. Ainda assim, como diz a CNJP, ficará a descoberto uma área da maior importância, a saber: vencer a barreira do desconhecimento e do preconceito entre pobres e não-pobres, sendo certo que estes condicionam o êxito dessas políticas. Também o Movimento Esperança Portugal, como movimento político que é defende a justiça solidária, a inclusão e coesão, à escala local e global, num tempo de desigualdades persistentes e inadmissíveis. Defende uma política da esperança, para vencer os desafios presentes e futuros. É um partido de valores humanistas e com um objectivo mobilizador, num tempo instável e incerto. Protagoniza um projecto de diálogo, para a unidade na diversidade, num tempo plural e fracturado. Muitas das questões antigas permanecem, século após século, ainda que muitas vezes com figurinos diferentes. Apesar dos recursos disponíveis serem cada vez maiores e da tecnologia ser mais desenvolvida verifica-se que a persistência da pobreza, a desigualdade de oportunidades, a exploração do ser humano e a guerra continuam na agenda deste novo século, com igual – ou mesmo maior – urgência que no passado. O conhecimento profundo que temos hoje dos problemas da humanidade interpela-nos como nunca, e exige de nós uma resposta de justiça solidária, de criação de riqueza para todos e de uma cultura de paz.

JMCM

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