Dignificar a acção política e os seus próprios intervenientes, é algo que carece ser encarado de forma séria e urgente. Todos sabemos a imagem que o público em geral tem acerca da “família política” e a forma como encara a sua acção (temo que a expressão “família” não esteja bem empregue). Tal como o P. António Vieira dizia que os políticos do Brasil conjugavam o verbo “roubar” em todos os tempos, modos e pessoas, receio que também a maioria dos nossos concidadãos (percepcionando uma realidade com mais 350 anos em cima e com o devido enquadramento na sociedade portuguesa contemporânea), corrobore dessa opinião mantendo-a, por isso, bem viva. Diria mesmo que a prática se generalizou, inclusive, à conjugação de outras expressões verbais. O “mentir”, o “enganar”, o “iludir” e por aí fora, passaram a fazer parte do léxico reinante.
Esta imagem pouco abonatória da classe política em geral, e em muitos casos distorcida da realidade, tem repercussões evidentes na forma como encaramos o presente, como olhamos o futuro, como percepcionamos os desafios e arriscamos a mudança. A descredibilização a que está acometida a política e os seus actores nada trás de vantajoso para a “classe”. Num Estado de Direito democrático onde a participação cívica dos cidadãos se torna determinante, este sentimento generalizado, negativo, pessimista, impele a canoa rumo ao abismo. A sofrer desta maleita, teremos um Estado frágil e tribunos, quiçá, menos responsáveis, conscientes, idóneos. A exigência e a responsabilidade devem constar do vocabulário e das práticas de todos os cidadãos, sem excepção. Só com esta rotina que se conseguirá rigor e credibilidade nesta matéria.
Esta má imagem advém, entre outras coisas, de um complexo emaranhado de realidades, mais ou menos subjectivas, postas aparentemente, e em parte, em causa pelos comportamentos e posturas que se generalizaram.
Creio estarmos de acordo que o problema é potenciado tanto pelos cidadãos “comuns” como pelos próprios políticos. Se os primeiros pecam, muitas vezes, por abdicarem de participar, de ter uma voz activa e de relegarem as suas responsabilidades para outros como se nada tivessem a ver com o assunto, os segundos actuam, não poucas vezes, como que se estivessem no Olimpo, detentores da verdade absoluta, quais entes impolutos capazes de pensar e agir pela consciência colectiva. Não de deve, no entanto, desvalorizar as devidas excepções. Já basta um Estado suficientemente pesado, burocrático, muitas vezes ineficaz e ineficiente, do que ter também alguns iluminados que subestimam tanto as capacidades dos outros como se demitem dos seus deveres.
As imagens a que por vezes assistimos na nossa Assembleia da República, do comportamento dos parlamentares, denunciam, por si só, este estado de coisas. Não se compreende o porquê de tanta inflamação, manifestação e reboliço, dos impropérios generalizados.
A consulta das actas do órgão máximo da nossa democracia será o bastante para se perceber como isto está enraizado. Já não bastava ouvir tais apartes pela televisão, como o registo solene de tais despautérios se materializa, incompreensivelmente, em tão importante documento. Será assim possível credibilizar-se a política?
Como diria o Rei gentio Agamenão, citado pelo P. António Vieira no Sermão do Bom Ladrão,
“Qui non vetat peccare, cum possit, jubet"
(Quem, podendo, não impede o pecado, ordena-o)
Haverá dúvidas?
Miguel Oliveira
quinta-feira, 7 de agosto de 2008
“Qui non vetat peccare, cum possit, jubet”
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