sexta-feira, 31 de outubro de 2008

A esperança é a maior urgência dos nossos dias

A esperança é a maior urgência dos nossos dias, justamente quando os nossos dias parecem prometer um longo inverno.

Ao inventário das alterações climatéricas, ao cenário da instabilidade geopolítica, ao glossário das causas da fome e da pobreza, vem juntar-se o iminente colapso financeiro de um mercado global volátil, frágil, invisível como a mão que o embala.

A todo o instante, somos confrontados por especialistas em vaticínios sombrios. A toda a hora, cresce a ameaça de ver ruir empresas, empregos, poupanças. A cada momento, vemos com algum despeito, potências emergentes que, quais fidalgos falidos, continuamos a etiquetar como novos-ricos.

Ter esperança parece hoje mais insensato. Não é politicamente correcto nem se mostra prudente ficar de fora do coro de finados – dos que lamentam e dos que celebram o ocaso do capitalismo financeiro, dos que suplicam e dos que replicam o regresso do Estado. Correcto é saber prever e quem desce prevê melhor a queda do que a maneira de se levantar do chão.

Ter esperança não é ficar à espera de cair. Ter esperança é ousar, é criar, é despertar a capacidade humana – a nossa própria capacidade de homens e mulheres. É saber ler na História. Não numa História feita de gráficos e de ciclos, mas no grande livro da História: o engenho de homens e mulheres como nós que souberam ter esperança. Ter esperança não é remar contra a maré. Não é procurar soluções gastas, muito menos encontrar culpas e culpados.

Esperança é empenho, é inconformismo, é porventura alguma rebeldia nos gestos e palavras, mas sobretudo na acção. O caminho político da esperança não se faz pelo mal menor nem pela exclusão de partes. O caminho da esperança reclama, de cada um de nós, renunciar ao cativeiro do medo. O caminho da esperança liberta.

O medo mais insidioso é talvez o que estranhamente julgamos ser conforto. É o medo de todos os medos a que chamamos sistema como um circuito de leis – escritas ou por escrever - que determina inexoravelmente cada hora, cada minuto do que se passa. O sistema de partidos, o sistema económico, o sistema de governo, o sistema de educação, o sistema judiciário, os sistemas instalados, a quem devotadamente atribuímos, com alívio das consciências, tudo o que vai mal ou que vai ser pior ainda. O sistema de que nada esperamos, mas que nos consola poder deixar ficar cada vez mais na mesma. Dá-nos a segurança da expiação.

O Movimento Esperança Portugal nasce de um grupo de inconformados. De inconformados com o nosso próprio conformismo. Não somos revolucionários nem revoltados. Acreditamos que não é preciso mudar tudo para mudar muito. Não somos extremistas. Acreditamos que mudar sem rupturas ajuda a conservar o que de bom nos foi legado. É nesse sentido que podemos afirmar nos radicais, por nos revermos na raiz humanista que inspirou o que de melhor encontramos nos portugueses por todo o mundo e nos estrangeiros que connosco fizeram e fazem Portugal.

Não é difícil ser comentador e voltar a adormecer. É demasiado fácil ser profeta da desgraça e quase querer que ela aconteça. É tranquilizante não se atrever com medo do ridículo. Nascer pequeno faz todo o sentido. O que seria de um partido novo que surgisse já grande, crescido e gordo? O surgirmos como um novo partido dá-nos a frescura de nos sentirmos em odres novos e de sentirmos estar nas nossas mãos deitar mãos à esperança.

André Folque

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