Soubemos nos últimos dias da forma amiga como a Câmara Municipal de Lisboa trata alguns dos seus munícipes oferecendo-lhes um tecto por renda simbólica. Serão as outras câmaras do país assim tão simpáticas? Espero, sem sombra de certeza, que não.
Estaremos eventualmente perante uma outra dimensão de habitação social, muito peculiar, resultante da bondade humana de parte da nossa classe política.
O apoio solidário, através do estado, aos mais necessitados é muito importante para ser confundido com os expedientes referidos. A assistência às pessoas (famílias) mais carenciadas, nomeadamente com alojamento condigno, deve ser vista como base para uma vida saudável, criando condições basilares para uma autonomização e para uma fuga à pobreza.
O caso das casas de Lisboa, atribuídas a políticos, jornalistas, gente das artes e outros profissionais de elevado gabarito é ilustrativo de um paradigma de actuação de parte da nossa classe política. Este mecenato político de critério nebuloso revela-nos a sórdida promiscuidade de alguns gestores dos recursos públicos, que são de todos, com aqueles que, vestindo o suposto manto da independência, os vão promovendo publicamente e, assim, ajudando-os a manterem-se no poder.
Incrível é observar uma multidão de gente “inteligente” defendendo, mais ou menos timidamente, é certo, que o caso não é motivo para tanto alarido e que os problemas do país não passam por aí. Há até quem queira fazer passar a ideia de que tudo é perfeitamente normal, porque todos os partidos o fazem, porque sempre foi assim, como a prática de uma asneira a legitimasse.
É verdade que temos muitos e mais complexos problemas. Mas é mais verdade ainda que muito do que está errado na matriz do nosso (sub) desenvolvimento decorre deste modelo de actuação política, em que o estado é abusado por aqueles que elegemos para servir. A dimensão do orçamento público resulta, dizem-nos, da necessidade de promover justiça social, igualdade de oportunidades, coesão. Mas depois, bem vemos como se actua, sorvendo recursos, tantas em vezes em benefício dos partidos e dos políticos, das empresas que os financiam, dos amigos, de familiares. Entretanto, aqueles que verdadeiramente precisam de apoio não o têm. E isto é que é trágico.
O sinal que o estado passa, o estímulo, é para que encostemos a cabeça no seu ombro “amigo”, e adormeçamos sem o questionar. Essa amizade tem um preço alto, que passa pelo silêncio, pela subserviência, pela dependência. O estado instrumentalizado que temos não gosta de críticas, de perguntas incómodas, de discordância.
Se olharmos à recém criada lista de credores do estado, percebemos facilmente o clima de medo que está criado. Apenas três entidades tiveram coragem de ali colocar o seu nome. Todas as outras instituições ou empresas, a quem o estado, no conjunto, deve muitos milhões de euros, pagando tarde e a más horas, preferiram remeter-se ao prudente silêncio. O seu grau de interferência na sociedade, na vida das pessoas, na economia é de tal ordem que nos conduz a uma fatal dependência, a uma deteriorante incapacidade e a um medo castrador da nossa liberdade, dos nossos direitos (e deveres).
Quem tiver a ousadia de questionar quem reina põe-se a jeito como alvo a abater. Quem souber meter o pé seguro nesse caminho de servidão talvez se veja recompensado pelo “mecenato político”.
Todos já teremos ouvido dizer, a propósito de cumplicidades convenientes, que «uma mão lava a outra e as duas lavam a cara». O problema é quando o espelho continua a mostrar a cara suja.
O futuro exige-nos que lutemos por um estado forte, pessoa de bem, capaz de garantir as suas funções primordiais e o apoio solidário aos que realmente precisam.
Estaremos eventualmente perante uma outra dimensão de habitação social, muito peculiar, resultante da bondade humana de parte da nossa classe política.
O apoio solidário, através do estado, aos mais necessitados é muito importante para ser confundido com os expedientes referidos. A assistência às pessoas (famílias) mais carenciadas, nomeadamente com alojamento condigno, deve ser vista como base para uma vida saudável, criando condições basilares para uma autonomização e para uma fuga à pobreza.
O caso das casas de Lisboa, atribuídas a políticos, jornalistas, gente das artes e outros profissionais de elevado gabarito é ilustrativo de um paradigma de actuação de parte da nossa classe política. Este mecenato político de critério nebuloso revela-nos a sórdida promiscuidade de alguns gestores dos recursos públicos, que são de todos, com aqueles que, vestindo o suposto manto da independência, os vão promovendo publicamente e, assim, ajudando-os a manterem-se no poder.
Incrível é observar uma multidão de gente “inteligente” defendendo, mais ou menos timidamente, é certo, que o caso não é motivo para tanto alarido e que os problemas do país não passam por aí. Há até quem queira fazer passar a ideia de que tudo é perfeitamente normal, porque todos os partidos o fazem, porque sempre foi assim, como a prática de uma asneira a legitimasse.
É verdade que temos muitos e mais complexos problemas. Mas é mais verdade ainda que muito do que está errado na matriz do nosso (sub) desenvolvimento decorre deste modelo de actuação política, em que o estado é abusado por aqueles que elegemos para servir. A dimensão do orçamento público resulta, dizem-nos, da necessidade de promover justiça social, igualdade de oportunidades, coesão. Mas depois, bem vemos como se actua, sorvendo recursos, tantas em vezes em benefício dos partidos e dos políticos, das empresas que os financiam, dos amigos, de familiares. Entretanto, aqueles que verdadeiramente precisam de apoio não o têm. E isto é que é trágico.
O sinal que o estado passa, o estímulo, é para que encostemos a cabeça no seu ombro “amigo”, e adormeçamos sem o questionar. Essa amizade tem um preço alto, que passa pelo silêncio, pela subserviência, pela dependência. O estado instrumentalizado que temos não gosta de críticas, de perguntas incómodas, de discordância.
Se olharmos à recém criada lista de credores do estado, percebemos facilmente o clima de medo que está criado. Apenas três entidades tiveram coragem de ali colocar o seu nome. Todas as outras instituições ou empresas, a quem o estado, no conjunto, deve muitos milhões de euros, pagando tarde e a más horas, preferiram remeter-se ao prudente silêncio. O seu grau de interferência na sociedade, na vida das pessoas, na economia é de tal ordem que nos conduz a uma fatal dependência, a uma deteriorante incapacidade e a um medo castrador da nossa liberdade, dos nossos direitos (e deveres).
Quem tiver a ousadia de questionar quem reina põe-se a jeito como alvo a abater. Quem souber meter o pé seguro nesse caminho de servidão talvez se veja recompensado pelo “mecenato político”.
Todos já teremos ouvido dizer, a propósito de cumplicidades convenientes, que «uma mão lava a outra e as duas lavam a cara». O problema é quando o espelho continua a mostrar a cara suja.
O futuro exige-nos que lutemos por um estado forte, pessoa de bem, capaz de garantir as suas funções primordiais e o apoio solidário aos que realmente precisam.
Melhor é possível, é necessário e é urgente!
Ângelo Ferreira
Publicado no jornal Diário de Aveiro de 14/10/2008
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