quarta-feira, 18 de março de 2009

Leitura: "Portugal arrisca-se a ser um cheque sem cobertura por causa do endividamento"

Para si, o endividamento é o maior factor de preocupação?
A minha principal preocupação é que a economia se desenvolva, que se retome o crescimento em Portugal, e o problema é agravado por este endividamento.
Se crescermos nos próximos 10 anos ao mesmo ritmo que a UE - o que não tem acontecido -, a dois por cento ao ano, com estes níveis de crescimento de endividamento, a cada ano, estamos a comer meio ponto percentual ao PIB. Quer dizer que, daqui a 10 anos, estamos cinco pontos mais pobres do que a Europa e vamos regressar aos níveis com que entrámos para a CEE.
O que tem falhado?
Há um problema muito grave em Portugal nos últimos anos. Não há um documento estratégico, um pensamento estratégico. Há excelentes economistas portugueses, em universidades estrangeiras, que podiam colaborar para um documento desta natureza.
Os grandes projectos públicos de investimento não estimulam a economia?
Quando se constrói uma auto-estrada, um aeroporto, o que se pensa é que o benefício do projecto é todo o emprego e as matérias-primas que se empregam quando se vai construir. Ora, isto é o custo do projecto. Nenhum empresário vai fazer uma fábrica e dizer que o benefício de fazer a fábrica foi construí-la e colocar lá as máquinas.
O benefício do projecto de uma fábrica é o rendimento que essa fábrica depois vai gerar: vai vender e vai ter as suas receitas e os seus lucros. Esse rendimento líquido vai ter de pagar os custos. Esta lógica de fazer grandes projectos porque vai gerar emprego é uma lógica invertida. O que interessa é o rendimento adicional que se vai gerar em Portugal.
Não acredita no rendimento adicional do novo aeroporto?
É uma questão de bom senso. No novo aeroporto, coloco os custos de construção de um lado, do outro vejo se vou gerar rendimentos suficientes, porque há aqui um custo de oportunidade: esses recursos estão colocados no aeroporto, não caem do céu, e com esses recursos podia construir outras coisas, complexos turísticos, fábricas, escritórios etc.
(Ler toda a entrevista do Abel Mateus, ex-presidente da Autoridade da Concorrência no Público online)
Eu já tinha alertado desse grande "monstro" que afecta o nosso País no meu artigo precedente. Em Setembro 2008, a nossa dívida externa representava 90% do PIB (Produto Interno Bruto). Segundo as estatísticas, nos finais de 2008, já era de 106% do PIB e essa percentagem não para de crescer com o tempo. E tempo de pegar o "touro" pelas cornas. Devemos mudar essa tendência suicidária agora. Devemos mudar de maneira urgente o nosso modelo.
Nesse período de grande crise e de grande perigo, temos de produzir e executar agora um plano estratégico de modernização e de desenvolvimento sustentável que deve envolver todos os elementos vitais na nossa Nação porque a execução desse mesmo plano exigirá a colaboração de todos. Para cada sector de actividade, deve ser associado a administração responsável, os especialistas e técnicos mais qualificados e os representantes dos sindicatos professionais (operários, quadros e empresários). Eles deverão definir os objectivos e estarão encarregados de os atingir. Teremos preciso de um "Jean Monnet" português para coordenar tudo isso.
Só o interesse colectivo e o Bem Comum deveráo estar em mente das pessoas.
Só a união de todos os Portugueses dentro e fora do País pode ajudar.
Eu acredito num Portugal melhor porque eu sei que, nós Portugueses, somos capazes se quisermos. Melhor é Possível.

2 comentários:

João D Menezes disse...

E agora convencer disso os nossos governantes e toda essa rede de oportunístas que nada mais pensam senão no seu interesse individual!!!

Só mudando o esquema parlamentar e de governo/eleição em Portugal, que promova a renovação efectiva e incentive à reestruturação do sector produtivo de Portugal.

Anónimo disse...

Caro João,

Espero que esteja bem. Muito obrigado pela sua mensagem e comentários.

Os cidadãos tem uma palavra a dizer no futuro de Portugal. A mudança deve passar por eles mas para isso, temos de os informar e alertar. E o nosso dever.

Temos de facto rever o modelo e iniciar um plano de modernização e de desenvolvimento sustentável. Não podemos continuar a ter uma productividade das mais baixas da Europa que é muito negativo para a nossa produção, competitividade e exportaçðes. Temos de reestruturar o nosso sector produtivo. Estou de acordo consigo.

Cumprimentos,

Jorge Lourenço