sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Estado servidor

por Rui Marques, no jornal "Sol"


E se, em vez de “funcionários públicos”, tivéssemos “servidores públicos”?

Não, não se trata de uma simples questão de nomenclatura. É muito mais do que isso. Trata-se de um afloramento simbólico da revolução cultural que o Estado precisa: transformar cada agente seu num verdadeiro servidor da causa pública e dos seus concidadãos.

Essa renovação do entendimento da missão do Estado tem como condição essencial a mobilização dos seus recursos humanos para esta nobre tarefa. Isso exige uma liderança inspiradora, que seja capaz de colocar cada servidor público, à sua escala, como líder da mudança.

O Estado existe, pois, para servir. É fundamental recuperar a centralidade do conceito de “serviço público”. De uma forma clara, há que assumir, por exemplo, que o Sistema Nacional de Saúde só existe para servir utentes e a saúde pública, ou as escolas para formarem estudantes ou, ainda, as repartições públicas para servirem os cidadãos e as instituições.

Importa que se faça reflectir esta filosofia, quer na atitude dos servidores públicos, quer na organização do Estado. Mais do que a lógica de organigrama clássico, em pirâmide, a partir de centros de poder verticalizados, o Estado deve procurar soluções organizativas em função dos problemas dos cidadãos, das empresas e das organizações.

Entre as múltiplas expressões do Estado-servidor, sublinho quatro: a soberania, a garantia, a proximidade e a confiança.

Indiscutivelmente, o Estado é servidor da comunidade quando exerce, com competência e rigor, as funções de soberania - da justiça à defesa, da diplomacia à cobrança de impostos - nas quais é insubstituível.

O Estado é servidor da comunidade quando se assume como garantia de dignidade de vida a todos os portugueses. Assim, o Estado deve garantir acesso à educação, à saúde e à justiça, bem como o benefício das prestações de um sistema de solidariedade social ou ainda os serviços públicos de água, energia e saneamento básico, de comunicações e de transportes públicos. Independentemente de ser ou não o prestador destes serviços, o Estado tem de os garantir sempre, em todo o território, segundo os princípios da universalidade e da equidade.

O Estado é servidor quando se torna próximo. O Estado majestoso, distante e de acesso difícil, não faz sentido no nosso tempo. Devemos ter um Estado que se torne efectivo, acima de tudo, no contexto de proximidade, mas cultivando sempre a subsidiariedade, onde a sua intervenção não se deve substituir à Pessoa e à comunidade, no exercício das suas responsabilidades e na expressão dos seus direitos.

Finalmente, o Estado é servidor quando, por regra, confia nos cidadãos e nas instituições. Há que ter claro que o que justifica o desenvolvimento sustentável de algumas nações é, acima e antes de tudo, o serem sociedades de confiança, onde se conjugam a liberdade, a autonomia e a responsabilidade. Para isso, o Estado deve ser o primeiro a cultivar e reforçar os vínculos de confiança nos cidadãos e nas organizações.

Precisamos de um Estado capaz de vencer os enormes desafios do século XXI. E só o pode fazer, se for verdadeiramente um Estado-servidor, construído por servidores públicos motivados, dedicados e competentes, dos quais todos nos orgulharemos e aos quais todos ficaremos gratos.

1 comentário:

Anónimo disse...

Estou totalmente de acordo.

Um simples texto onde se expõem ideias, certamente partilhadas por muitos portugueses, mas raramente exteriorizadas. Espero que este seja mais um "pequeno" empurrão, de entre os muitos que fazem com que o nosso país pule e avance. Excelente exemplo de política pela positiva. Senti-me agradavelmente surpreendido.

Continuação de bom trabalho.