sexta-feira, 4 de abril de 2008

O sonho que não era dele

"O presidente da Câmara voltou-se para a delegação de negros e perguntou: "Quem é o porta-voz?"
Não tinham combinado nada, mas todos os olhos se voltaram para Martin. O autarca disse: "Muito bem. Aproxime-se e diga o que tem a dizer".

(...)

Ele tinha escrito um belo texto e começou a lê-lo. "Sinto-me feliz por estar hoje aqui convosco naquela que irá ficar na História da nossa nação como a maior manifestação pela liberdade", começou ele. "Chegou a hora de cumprir as promessas da democracia", leu ainda. Mas depois ergueu os olhos do papel e nunca mais os baixou. "Eu tenho um sonho", começou ele a improvisar. "Um sonho que mergulha profundamente as suas raízes no sonho americano". E entrou em puro transe. Não era ele que discursava. O sonho não era dele. Como um medium que fecha os olhos e fala com vozes do passado, ele fitava a multidão e falava com a voz do futuro."


in "Público", 04.04.2008 (Edição Impressa, P2, pág. 6)

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