quarta-feira, 2 de abril de 2008

Ainda!

CONCURSO DE MISS ESPERANÇA

"Um dia, conduziram-me a um hospital de savana, no Leste angolano. Havia guerra civil e eu viajava com um dos lados, num camião militar. Enfermeiros pobres e dedicados mostraram-me gente sem uma perna. Não havia sem duas pernas. As minas antipessoal têm doses cirúrgicas: levam uma perna, não mais. Não é por economia, é por eficiência. Sem as duas pernas, a vítima não sai da cubata. Já um perneta passeia-se e lembra o que as minas querem que seja lembrado: há que ter medo! Quando voltei ao camião, reparei que ele levava uma camada de caixas de minas. Nenhum dos lados da guerra civil era inocente. Hoje, em Luanda, há um concurso de Miss Sobrevivente de Minas. O prémio para a vencedora é a mais sofisticada das próteses. Remeto o leitor para a reportagem na pág. 30. Uma das candidatas, perguntada se a vida lhe trouxe algo de bom, respondeu: "Ainda." A palavra é angolana. Resume o não ter mas a certeza de que "ainda" vai ter. Foi esta palavra que ganhou a guerra civil angolana."

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