Rui Cerdeira Branco, no Jornal de Negócios:
"Atentemos na natalidade: o caminho mais rápido para o seu incremento passa pelo alinhamento entre os desejos do coração e as capacidades do torrão em que se vive. Os desejos do coração são conhecidos: em Portugal, como pela Europa fora, vivem milhões de famílias frustradas por quererem ter mais filhos do que os que acabam tendo – falo de um dado estatístico, note-se. Quanto às capacidades do torrão, eu diria que estamos perante um ciclo vicioso onde se parece acreditar piamente que a natalidade é um obstáculo ao trabalho e um empecilho à produtividade. Um sentimento que tem por cá um inusitado fervor, só justificável pelo fraco conhecimento da natureza humana e do encadeamento de acontecimentos fulcrais que dependem da sã sobrevivência das famílias.Por último, atentemos nos idosos: chegar a velho, será tanto mais dramático quanto menos nos ocuparmos de pensar esse período das nossas vidas, individual e colectivamente. Notem que o que está em causa não é a eficiência económica, nem apenas promover a previdência financeira: mais do que orientá-los para a produção, o que julgo merecer preocupação é conseguir orientá-los para a vida, para a nossa vida. Eles somos nós.
Concluindo, temos de encarar de forma integrada e transversal as condições quotidianas que permitimos e oferecemos às famílias. Ignorar uma reflexão profunda da nossa organização social e económica, presente e futura, partir com ligeireza para pacotes de medidas avulsas e, por vezes, contraditórias, é garantidamente disparar ao lado e é um comportamento irresponsável que pagaremos muito caro, se perdurar. Tentemos ser felizes, será um bom princípio."
2 comentários:
Quando ouço falar em demografia e natalidade e em todas as contradições que a questão coloca, penso sempre o mesmo. Por um lado temos famílias que desejam mais filhos e consideram que não têm condições sociais, físicas ou psicológicas para os terem. Por outro lado, temos famílias que recorrem aos meios mais sofisticados que a ciência permite para que alcancem ser pais. Por outro lado ainda, temos exércitos de crianças órfãs e esfomeadas, carecidas dos meios mais elementares de subsistência, além de carecidas de afecto. Sei que podem não ser da mesma côr que muitos desses pais, mas não serão igualmente encantadoras e dignas de ser amadas? Não seria extraordinário promover um maior equilíbrio demográfico propondo aos casais sem filhos, ou que querem ter mais, a alternativa da adopção? E considerar sériamente a possibilidade de adoptar crianças desse exército que morre de fome e de falta de cuidados essenciais?
Café
Quem pode ter filhos biológicos e não os tem por faltas de condições sociais, económicas, psicológicas, etc., também não estará em condições de adoptar.
Por outro lado, ter filhos biológicos é diferente de adoptar, pelo menos no início. Coloca muitas questões diferentes.
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