O jornal PÚBLICO na sua edição de 3 de Novembro, na sequência da trágica morte de 2 pessoas atropeladas numa passadeira em Lisboa fazia a seguinte notícia:
Números estão a descer
Todos os dias são atropeladas 16 pessoas em Portugal
03.11.2007 - 10h05 José Bento Amaro
Em Portugal, apenas nos primeiros oito meses deste ano, foram atropeladas mais de 16 pessoas por dia. Os registos da Autoridade Nacional da Segurança Rodoviária referem a existência de cerca de 4000 atropelamentos no período em questão, havendo a registar 74 vítimas mortais e mais de 390 feridos graves - os levantamentos internacionais referentes a feridos graves de acidentes de viação apontam para o falecimento posterior de cerca de 25 por cento das pessoas.
Os dados da sinistralidade rodoviá-ria nacional (relativamente ao ano passado) referem ainda que mais de 13 por cento das vítimas mortais eram peões. Em 2006, dos 850 mortos nas estradas portuguesas, 137 circulavam a pé. Estima-se que cerca de 60 por cento destes tenham sido colhidos nas principais cidades do país, com especial incidência em Lisboa e, sobretudo, em passadeiras. A maioria das vítimas tinha mais de 65 anos.
“Lisboa é a capital da insegurança”, refere Manuel João Ramos, membro da Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados (ACA-M) e um dos principais contestatários do departamento de tráfego da câmara lisboeta. “A lei das acessibilidades não é cumprida. Como não é cumprida a directiva europeia de 1998 que prevê a realização de auditorias rodoviárias”, diz.
Manuel João Ramos entende que “os engenheiros não fazem ideia de como devem lidar com os peões, até porque em Portugal não existem livros de normas nem de boas práticas”, e explica a seguir que, caso houvesse sensibilidade suficiente das autoridades que regulamentam o tráfego, não existiriam situações como as que se verificam em Lisboa, onde o tempo de abertura de um semáforo para peões lhe permite andar apenas 40 centímetros por segundo.
“Normalmente, a distância a percorrer deverá cifrar-se entre os 80 centímetros e um metro”, afirma. O tempo (reduzido) de abertura dos semáforos prejudica “todos os cidadãos de menor mobilidade”, diz ainda, lembrando que a maior parte dos peões atropelados em Portugal são idosos ou crianças. Em Lisboa, a cidade do país com maior número de pessoas atropeladas, cerca de 30 por cento da população tem mais de 65 anos de idade. A maior parte dos atropelamentos ocorre nas vias mais movimentadas, como sejam as áreas do Campo Grande e da Avenida de 24 de Julho."
Na edição em papel mostrava-se, sem qualquer comentário na notícia, um gráfico que evidenciava a evolução do número de vítimas de atropelamentos entre 1998 e 2006. Os números são impressionantes: em 8 anos reduzimos o número de mortes por atropelamento de 356 para 137, ou seja menos 62% nas vitimas mortais; já no que se refere a feridos graves a redução foi de 1711 para 617, o que significa uma redução de 64%.
Nem uma palavra quanto à evolução extraordinária nestas cifras. Sendo evidente que uma só morte por atropelamento é inadmissível e que temos que combater a sinistralidade rodoviária, ignorar o que já andámos não é objectivo, nem reforça o ânimo para dar novos passos. Objectividade no olhar sobre a realidade, precisa-se.
sábado, 3 de novembro de 2007
A redução da mortalidade por atropelamento
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Todos os dias, pela hora de jantar, se vai percebendo que o alinhamento dos diferentes telejornais parece servir um qualquer desejo mórbido dos portugueses. Qual é a justificação para o acompanhamento in situ, in loco e insano(!) de todo o tipo de acidente rodoviário? A quem serve este tipo de "informação"? São os portugueses que necessitam desta dose diária de desgraça para alimentar a proverbial lamúria? Temos aqui uma dicotomia ovo-galinha?
Os media descobriram um filão e enquanto ele não se esgotar, ou surgirem novas formas de conseguir a atenção humana, não deixarão de o sugar até à última gota.
Nos últimos anos, muitas foram estas não-notícias. Do pseudo-arrastão à verborreia visual dos diferentes casos de justiça.
O futebol, com todo o seu pequeno sub-mundo de tragédias, corrupção, dilemas existenciais, etc, é, quase sempre e qualquer que seja o ponto de vista, uma excelente metáfora para ilustrar a nossa "forma de ver as coisas".
Ou relembramos, nostálgicos e empoeirados, os feitos do Benfica dos anos 70 ou assobiamos, com fel a escorrer do lábio, o passe errado do mesmo jogador da selecção que, na partida anterior, marcou um golo inesquecível.
Nos últimos 15 anos, produzimos uma boa parte dos melhores jogadores do Mundo. Esses jogadores integram ou integraram equipas de topo que venceram tudo o que havia para vencer. Não há na Europa neste momento equipe que se preze sem um grande jogador português nas suas fileiras. Fomos vice-campeões da Europa e ficámos em 4º lugar no Mundial. Mas o que é notícia? O Apito Dourado, a vida íntima de Pinto da Costa, a arbitragem (sempre), a nova namorada do Cristiano, o Figo-não-gosta-de-Portugal-e-só-vê-dinheiro-à-frente, etc...
Depois... Depois vemos um jogo entre Portugal e, say, a República da Irlanda e espantamo-nos com a festa de 90 minutos daquelas gentes. A perder 5-0 continuam a cantar e puxar pela sua equipa.
E dizemos, grave e com alguma inveja: "Isto é que é futebol".
Que bom seria ter uma "espécie de magazine" da esperança, do optimismo (realista) que repudiasse sempre cada uma destas não-notícias, dando uma noção real e ajustada do que acontece por aqui.
Reparem nas vantagens. Os portugueses e Portugal, bem vistas as coisas, afinal seriam um dos melhores povos e um dos melhores países para se viver. No mundo!
Os assaltos afinal não eram todos perpetrados por gente de raça negra, Portugal teria afinal mudado imenso nos últimos 20 e afinal para MUITO melhor. O Figo afinal seria mesmo um enorme jogador e afinal português.
Ser português afinal não seria nenhuma desgraça.
Enviar um comentário