segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Pessimismo no mundo contemporâneo

Da Rádio Renascença

"O pessimismo no mundo contemporâneo foi o tema em debate entre Jorge Sampaio, Pinto Balsemão e D. José Policarpo, nesta edição do programa “Três Dimensões”.

Para o Cardeal Patriarca, “o Papa diz, na sua Encíclica, que a esperança se pode afirmar mesmo no drama e no sofrimento. Curiosamente, olhando a Humanidade, quer na sua História, quer na nossa verificação pessoal, são situações de grande sofrimento que desencadearam grandes dinamismos de esperança”.

“O problema” – salienta D. José Policarpo – “é saber se as pessoas, hoje em dia, são capazes de sofrer. Sofrer no sentido humano da palavra, ou se são simplesmente esmagadas ou desviadas do sentido da vida pelas circunstâncias. Porque se as pessoas forem capazes de sofrer são capazes de amar e são capazes de ter esperança”.

“Para mim, a esperança está muito ligada ao sentido da vida, portanto àquela dimensão, àquele dinamismo interior que todas as pessoas têm de gostar de viver a sua vida, gostar de viver como projecto, gostar de viver como saída, gostar de viver cada vez melhor, gostar de viver com um horizonte, um projecto de futuro. A esperança, sendo isto, está profundamente ligada à maneira como as pessoas, pessoalmente e em comunidade, vivem a sua vida, não se pode confundir com ambição. Porque penso que essa é uma ambiguidade e uma confusão a desfazer logo desde o início, porque, muitas vezes, hoje, o que está latente a muitas reacções comunitárias por todo o mundo tocam já o ritmo da ambição e não propriamente de uma legítima esperança” – esclareceu o Cardeal Patriarca.

Falando em esperança, Pinto Balsemão sente que há cada vez mais gente preocupada e que entende que “a felicidade dos outros é essencial para que a humanidade progrida, para que as desigualdades diminuam, para que os conflitos acabem”.•
Frisando a componente de utopia que a esperança também acarreta, Balsemão salienta que “podemos ser laicos, podemos ser religiosos, mas de certa maneira todos nós temos a obrigação de lutar para que o mundo fique um bocadinho melhor quando nós morrermos. Talvez esteja a ser um pouco utópico, mas eu acho que se nós não temos um pouco de utopia nestas matérias então não vale a pena estarmos aqui sequer”.

E porque a esperança está ligada à dimensão religiosa da vida, para o primeiro director do “Expresso”, “há grupos que têm alguma dificuldade em lidar com este retomar do papel da religião na vida pública. Era o «The Economist» que dizia que se Donald Rumsfeld tivesse entendido a diferença entre sunitas e xiitas se calhar não estávamos onde estamos… A funcionária da British Airways que foi proibida de usar o crucifixo, a paragem de um autocarro na Turquia porque a maioria dos passageiros quer rezar, ou casar as filhas aos oito anos, que são direitos colectivos em certas religiões e em certas comunidades, mas que nós não aceitamos que sejam mais fortes do que os direitos individuais que defendemos”.

Para Jorge Sampaio, “não deve estranhar-se que haja algum desânimo, nomeadamente no contexto internacional, que minam a questão da confiança. O problema é que isto está muito relacionado com a questão dos estímulos. Afinal de contas, se eu pertenço a uma comunidade de destino, se eu tenho que trabalhar pelos direitos do Homem, porque no fundo tenho que ter uma participação cívica que alimente a minha própria confiança no destino do Homem, seja laico ou não, há de facto uma certa configuração do destino. (…) Aí, sem dúvida nenhuma, a boa governança, a boa participação cívica, a boa cultura cívica são indispensáveis”.

“Mas, para tornar tudo isto mais difícil” – frisa o ex-Presidente da República – “o paradigma económico marxista do século XIX deu lugar ao paradigma liberal do século XX, e há quem diga que o século XXI talvez seja o século das minorias justamente porque passa a ser, ou está a passar a ser, o século das culturas onde a dimensão cultural integra um pilar indispensável do desenvolvimento sustentável”."

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