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sexta-feira, 12 de junho de 2009

Leituras

«O exemplo

DIA DE PORTUGAL... É dia de congratulação. Pode ser dia de lustro e lugares comuns. Mas também pode ser dia de simplicidade plebeia e de lucidez.
Várias vezes este dia mudou de nome. Já foi de Camões, por onde começou. Já foi de Portugal, da Raça ou das Comunidades. Agora, é de Portugal, de Camões e das Comunidades. Com ou sem tolerância, com ou sem intenção política específica, é sempre o mesmo que se festeja: os Portugueses. Onde quer que vivam.
Há mais de cem anos que se celebra Camões e Portugal. Com tonalidades diferentes, com ideias diversas de acordo com o espírito do tempo. O que se comemora é sempre o país e o seu povo. Por isso o Dia de Portugal é também sempre objecto de críticas. Iguais, no essencial, às expressas por Eça de Queirós, aquando do primeiro dia de Camões. Ele afirmava que os portugueses, mais do que colchas às varandas, precisavam de cultura.
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Estranho dia este! Já foi uma “manobra republicana”, como lhe chamou Jorge de Sena. Já foi “exaltação da raça”, como o designaram no passado. Já foi de Camões, utilizado para louvar imperialismos que não eram os dele. Já foi das Comunidades, para seduzir os nossos emigrantes, cujas remessas nos faziam falta. E apenas de Portugal.
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Os Estados gostam de comemorar e de se comemorar. Nem sempre sabem associar os povos a tal gesto. Por vezes, quando o fazem, é de modo desajeitado. “As festas decretadas, impostas por lei, nunca se tornam populares”, disse também Eça de Queirós. Tinha razão. Mas devo dizer que temos a felicidade única de aliar a festa nacional a Camões. Um poeta, em vez de uma data bélica. Um poeta que nos deu a voz. Que é a nossa voz. Ou, como disse Eduardo Lourenço, um povo que se julga Camões. Que é Camões. Verdade é que os povos também prezam a comemoração, se nela não virem armadilha ou manipulação.
Comemora-se para criar ou reforçar a unidade. Para afirmar a continuidade. Para reinterpretar o passado. Para utilizar a História a favor do presente. Para invocar um herói que nos dê coesão. Para renovar a legitimidade histórica. São, podem ser, objectivos decentes. Se soubermos resistir à tentação de nos apropriarmos do passado e dos heróis, a fim de desculpar as deficiências contemporâneas.
Não é possível passar este dia sem olharmos para nós. Mas podemos fazê-lo com consciência. E simplicidade.
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Garantimos com altivez que Camões é o grande escritor da língua portuguesa e um dos maiores poetas do mundo, mas talvez fosse preferível estudá-lo, dá-lo a conhecer e garantir a sua perenidade.
Afirmamos, com brio, que os portugueses navegadores descobriram os caminhos do mundo nos séculos XV e XVI e que os portugueses emigrantes os percorreram desde então. Mais vale afirmá-lo com o sentido do dever de contribuir para a solidez desta comunidade.
Dizemos, com orgulho, que o Português é uma das seis grandes línguas do mundo. Mas deveríamos talvez dizê-lo com a responsabilidade que tal facto nos confere.
Quando se escolhe um português que nos representa, que nos resume, escolhe-se um herói. Ele é Camões. Podemos festejá-lo com narcisismo. Mas também com a decência de quem nele procura o melhor.
Os nossos maiores heróis, com Camões à cabeça, ilustraram-se pela liberdade e pelo espírito insubmisso. Pela aventura e pelo esforço empreendedor. Pela sua humanidade e, algumas vezes, pela tolerância. Infelizmente, foram tantas vezes utilizados com o exacto sentido oposto: obedientes ou símbolos de uma superioridade obscena.
Ainda hoje soubemos prestar homenagem a Salgueiro Maia. Nele, festejámos a liberdade, mas também aquele homem. Que esta homenagem não se substitua, ritualmente, ao nosso dever de cuidar da democracia.
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As comemorações nacionais têm a frequente tentação de sublinhar ou inventar o excepcional. O carácter único de um povo. A sua glória. Mas todos sentimos, hoje, os limites dessa receita nacionalista. Na verdade, comemorar Portugal e festejar os Portugueses pode ser acto de lucidez e consciência. No nosso passado, personificado em Camões, o que mais impressiona é a desproporção entre o povo e os feitos, entre a dimensão e a obra. Assim como esta extraordinária capacidade de resistir, base da “persistência da nacionalidade”, como disse Orlando Ribeiro. Mas que isso não apague ou esbata o resto. Festejar Camões não é partilhar o sentido épico que ele soube dar à sua obra maior, mas é perceber o homem, a sua liberdade e a sua criatividade. Como também é perceber o que fizemos de bem e o que fizemos de mal. Descobrimos mundos, mas fizemos a guerra, por vezes injusta. Civilizámos, mas também colonizámos sem humanidade. Soubemos encontrar a liberdade, mas perdemos anos com guerras e ditaduras.
Fizemos a democracia, mas não somos capazes de organizar a justiça. Alargámos a educação, mas ainda não soubemos dar uma boa instrução. Fizemos bem e mal. Soubemos abandonar a mitologia absurda do país excepcional, único, a fim de nos transformarmos num país como os outros. Mas que é o nosso. Por isso, temos de nos ocupar dele. Para que não sejam outros a fazê-lo.
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Há mais de trinta anos, neste dia, Jorge de Sena deixou palavras que ecoam. Trouxe-nos um Camões humano, sabedor, contraditório, irreverente, subversivo mesmo.
Desde então, muito mudou. O regime democrático consolidou-se. Recheado de defeitos, é certo. Ainda a viver com muita crispação, com certeza. Mas com regras de vida em liberdade.
Evoluiu a situação das mulheres, a sua presença na sociedade. Invisíveis durante tanto tempo, submissas ainda há pouco, as mulheres já fizeram um país diferente.
Mudou até a constituição do povo. A sociedade plural em que vivemos hoje, com vários deuses e credos, com dois sexos iguais, com diversas línguas e muitos costumes, com os partidos e as associações que se queira, seria irreconhecível aos nossos próximos antepassados.
A sociedade e o país abriram-se ao mundo. No emprego, no comércio, no estudo, nas viagens, nas relações individuais e até no casamento, a sociedade aberta é uma novidade recente.
A pertença à União Europeia, timidamente desejada há três décadas, nem sequer por todos, é um facto consumado.
A estes trinta anos pertence também o Estado de protecção social, com especial relevo para o Serviço Nacional de Saúde, a segurança social universal e a escolarização da população jovem. É certamente uma das realizações maiores.
Estas transformações são motivo de regozijo. Mas este não deve iludir o que ainda precisa de mudança. O que não foi possível fazer progredir. E a mudança que correu mal.
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A Sociedade e o Estado são ainda excessivamente centralizados. As desigualdades sociais persistem para além do aceitável. A injustiça é perene. A falta de justiça também. O favor ainda vence vezes de mais o mérito. O endividamento de todos, país, Estado, empresas e famílias é excessivo e hipoteca a próxima geração. A nossa pertença à União Europeia não é claramente discutida e não provoca um pensamento sério sobre o nosso futuro como nacionalidade independente.
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Há poucos dias, a eleição europeia confirmou situações e diagnósticos conhecidos. A elevadíssima abstenção mostrou uma vez mais a permanente crise de legitimidade e de representatividade das instituições europeias. A cidadania europeia é uma noção vaga e incerta. É um conceito inventado por políticos e juristas, não é uma realidade vivida e percebida pelos povos. É um pretexto de Estado, não um sentimento dos povos. A pertença à Europa é, para os cidadãos, uma metafísica sem tradição cultural, espiritual ou política. Os Estados e os povos europeus deveriam pensar de novo, uma, duas, três vezes, antes de prosseguir caminhos sem saída ou falsos percursos que terminam mal. E nós fazemos parte desse número de Estados e povos que têm a obrigação de pensar melhor o seu futuro, o futuro dos Portugueses que vêm a seguir.
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É a pensar nessas gerações que devemos aproveitar uma comemoração e um herói para melhor ligar o passado com o futuro.
Não usemos os nossos heróis para nos desculpar. Usemo-los como exemplos. Porque o exemplo tem efeitos mais duráveis do que qualquer ensino voluntarista.
Pela justiça e pela tolerância, os portugueses precisam mais de exemplo do que de lições morais.
Pela honestidade e contra a corrupção, os portugueses necessitam de exemplo, bem mais do que de sermões.
Pela eficácia, pela pontualidade, pelo atendimento público e pela civilidade dos costumes, os portugueses serão mais sensíveis ao exemplo do que à ameaça ou ao desprezo.
Pela liberdade e pelo respeito devido aos outros, os portugueses aprenderão mais com o exemplo do que com declarações solenes.
Contra a decadência moral e cívica, os portugueses terão mais a ganhar com o exemplo do que com discursos pomposos.
Pela recompensa ao mérito e a punição do favoritismo, os portugueses seguirão o exemplo com mais elevado sentido de justiça.
Mais do que tudo, os portugueses precisam de exemplo. Exemplo dos seus maiores e dos seus melhores. O exemplo dos seus heróis, mas também dos seus dirigentes. Dos afortunados, cujas responsabilidades deveriam ultrapassar os limites da sua fortuna. Dos sabedores, cuja primeira preocupação deveria ser a de divulgar o seu saber. Dos poderosos, que deveriam olhar mais para quem lhes deu o poder. Dos que têm mais responsabilidades, cujo “ethos” deveria ser o de servir.
Dê-se o exemplo e esse gesto será fértil! Não vale a pena, para usar uma frase feita, dar “sinais de esperança” ou “mensagens de confiança”. Quem assim age, tem apenas a fórmula e a retórica. Dê-se o exemplo de um poder firme, mas flexível, e a democracia melhorará. Dê-se o exemplo de honestidade e verdade, e a corrupção diminuirá. Dê-se o exemplo de tratamento humano e justo e a crispação reduzir-se-á. Dê-se o exemplo de trabalho, de poupança e de investimento e a economia sentirá os seus efeitos.
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Políticos, empresários, sindicalistas e funcionários: tenham consciência de que, em tempos de excesso de informação e de propaganda, as vossas palavras são cada vez mais vazias e inúteis e de que o vosso exemplo é cada vez mais decisivo. Se tiverem consideração por quem trabalha, poderão melhor atravessar as crises. Se forem verdadeiros, serão respeitados, mesmo em tempos difíceis.
Em momentos de crise económica, de abaixamento dos critérios morais no exercício de funções empresariais ou políticas, o bom exemplo pode ser a chave, não para as soluções milagrosas, mas para o esforço de recuperação do país.

(Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, Santarém, 10 de Junho de 2009)»
António Barreto no Jacarandá

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quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Os deveres humanos

Acabámos de comemorar os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, assumida no âmbito das Nações Unidas, em 10 de Dezembro de 1948, logo a seguir à terrível e traumática II Grande Guerra.
Ao longo de várias semanas realizaram-se em Aveiro um vasto conjunto de iniciativas comemorativas de grande valor, levadas a cabo por pessoas e organizações que, independentemente da sua visão do mundo, se preocupam com o seu semelhante, seja em Portugal, seja em qualquer outra paragem. Constituiu-se uma plataforma de envolvimento “Aveiro Direitos Humanos”, que se espera dê frutos continuados.
No auditório da Reitoria da Universidade pudemos assistir a uma palestra com três comunicações muito interessantes, das quais destaco a que foi proferida pelo Professor Adriano Moreira, presidente da Academia de Ciências, homem de grande cultura, com um pensamento sempre desafiante, capaz de nos surpreender pela riqueza e novidade das suas reflexões.
Durante o período destinado a perguntas, uma pessoa atenta e sensível, que lida diariamente com pessoas com deficiência, levantou algumas preocupações com elas relacionadas, recordando à plateia uma faceta bem concreta da defesa dos direitos humanos. Deixo-vos alguns exemplos, que trago apenas como ilustração: comportamentos individuais que podem prejudicar as pessoas com deficiência, como estacionar em cima do passeio, impedindo a passagem de cadeiras de rodas; barreiras físicas que dificultam a mobilidade de invisuais ou deficientes motores nas ruas ou no acesso aos edifícios; falta de sinalização adequada (por exemplo, semáforos adequados); falta de estacionamento apropriado; falta de rampas. E podíamos alongar a lista, seguramente.
A resposta que recebeu de um dos palestrantes, pessoa com responsabilidades numa conhecida organização de defesa dos direitos humanos não a deixou nada satisfeita, e com razão. No fundo, talvez por equívoco, nuance de interpretação ou espartilho teórico, a sua pretensão de ver discutidas as dificuldades que a nossa sociedade coloca às pessoas com deficiência, no quadro dos direitos humanos, era arredada para as masmorras da erudição, na cela temática do “civismo”, seja lá o que isso for.
Independentemente do momento em causa e das pessoas envolvidas, a sua reflexão revelou pelo menos dois aspectos, a meu ver preocupantes, muito presentes na nossa sociedade. Por um lado, o uso e abuso, politicamente correcto, do tema da defesa dos direitos humanos em abstracto, sem a consciência de que, na essência, se trata de pensar em pessoas concretas, e em todas as pessoas. Por outro, e em consequência, a incapacidade, que tantas vezes é falta de vontade, pessoal e colectiva, de resolver os problemas e as dificuldades que se colocam às pessoas mais vulneráveis, onde cabem seguramente as pessoas com deficiência, num mundo por vezes tão hostil com os “mais fracos”.
Sabemos bem que há problemas de difícil resolução, mas isso não nos permite a sua desvalorização, nem a diminuição dos esforços ao nosso alcance para a construção de uma sociedade verdadeiramente inclusiva, verdadeiramente humana. Isso começa nas nossas casas, nas nossas ruas, nas nossas aldeias e cidades. Começa num olhar diferente sobre o outro, que é de carne e osso, que sente, que sofre, que pode estar desesperado, sozinho. É necessária uma mudança que parta de cada um de nós ao encontro dos outros. Mas não é apenas civismo. É muito mais, é humanidade.
Neste contexto, fica a descoberto uma outra atitude que muito nos caracteriza, a de aligeirarmos as nossas responsabilidades individuais e comunitárias, atribuindo sempre a terceiros as culpas do que está mal e ao Estado central o dever da sua resolução. O pior é que a triste dependência do magnânime Estado, permite a usurpação estéril das nossas responsabilidades enquanto comunidade e o “deixa-andar” habitual das instituições e do poder local.
É também muito fácil defender os direitos humanos quando se trata de pensar em nobres causas (distantes) e fazer críticas políticas contundentes sobre países ou povos terceiros, o que, muitas vezes, lamento dizê-lo, mais parece interesseiro ornamento social, contorcionismo ideológico ou apenas mezinha caseira para alívio de consciências.
Devo confessar que me preocupa muito esse sentimento abstracto de solidariedade, capaz de se emocionar, e bem, com os números globais das grandes desgraças, mormente alheias, mas incapaz de sentir (e agir) perante problemas concretos que grassam debaixo do nosso nariz. Mais do que comemorar a Declaração Universal dos Direitos Humanos, devemos olhar para o futuro, que todos os dias e em todos os lugares se constrói, com o compromisso (sobretudo pessoal) renovado e sublinhado de ajudarmos a edificar uma sociedade melhor, mais responsável, mais solidária e fraterna.
A melhor forma de defendermos os direitos (humanos) é cuidarmos, desde logo, dos nossos deveres, que vão muito para além do que as leis e os tratados nos impõem.

Ângelo Ferreira
(Publicado no Diário de Aveiro de 16/12/2008; Notas: a versão online do jornal DA é reduzida e não inclui artigos de opinião)
Outras leituras: Jornal Sol

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quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Escola Adolfo Portela

O Movimento Esperança Portugal (MEP), partido do qual faço parte, tem vindo a realizar um conjunto de visitas e encontros com diversas entidades e pessoas para conhecer com maior profundidade a realidade do país e, com maior acuidade, preparar a sua proposta política a apresentar aos portugueses em 2009.
No âmbito de um périplo pelo distrito que o núcleo de Aveiro organizou na passada sexta-feira, com o presidente do partido, Dr. Rui Marques, tivemos a oportunidade de visitar a Escola Secundária Adolfo Portela, em Águeda. Este encontro teve dois objectivos principais: conhecer a realidade da escola, os desafios, as dificuldades que se lhe colocam e, ao mesmo tempo, identificar os factores de sucesso que lhe permitiram, nomeadamente, a melhoria mais significativa, a nível nacional, nos resultados obtidos nos exames do 12.º ano, considerando o ano que passou face ao ano 2007.
A Escola Secundária Adolfo Portela obteve, assim, o 1.º lugar no “Ranking MEP das Escolas 2008”, que assenta, não apenas no resultado absoluto nos exames do ano em causa, mas no diferencial de melhoria relativamente ao ano anterior, valorizando, a partir de um prisma diferente do habitual, o esforço que permitiu a evolução alcançada.
Desta forma, a visita teve igualmente o objectivo de entregar ao Conselho Executivo da escola um prémio que simboliza esse outro olhar, sublinhando a importância desse desígnio para Portugal de, nos mais diversos sectores, olhando o ponto de partida, procurar melhorar permanentemente o desempenho.
Do encontro com o Conselho Executivo da escola ficou clara a angústia que os professores sofrem com a excessiva carga burocrática, agravada por este governo, com tendência para os desgastar e afastar da actividade essencial: educar.
Tenho dito que é o centralismo no seu esplendor, procurando-se, a partir de um gabinete em Lisboa, tudo normalizar e controlar. Um modo de estar que revela o ambiente de desconfiança que se vive em Portugal. Temos medo da liberdade, porque desconfiamos e porque não temos sido capazes de responsabilizar as escolas pela qualidade do serviço que prestam, mas também os pais e os alunos. É um modelo que se presta a deixar a responsabilidade sem dono e sem ambição, sempre acantonada na desculpa da condição social dos alunos, como se os pobres fossem menos inteligentes.
Voltando à Escola Adolfo Portela, a equipa dirigente identificou, como um dos principais pressupostos para o sucesso do processo de ensino-aprendizagem, o esforço, partilhado pela restante comunidade docente, em centrar as atenções do trabalho na sala de aula e nos estudantes. Um ensinamento de quem sabe, que alguns teimam em não aprender. O processo de educação tem estar centrado nos alunos, mas também nos professores, e nos pais.
Outro factor de sucesso, que revela clarividência, pende-se com o esforço continuado em manter um ambiente escolar amigável, limpo, organizado. Os exemplos são diversos, ficando aqui alguns sintomáticos: manter os quartos de banho limpos e em tão boas condições quanto os dos professores; uma cantina acolhedora e com boa e diversificada comida, onde almoçam também os professores, depois de esperar pela sua vez na fila, como qualquer aluno; salas de aulas limpas e acolhedoras, sem riscos nas mesas. Parece pouco? Não é. Assim mudam radicalmente os comportamentos. Qualidade gera qualidade, num ciclo de desenvolvimento.
Além de tudo, não podia faltar a disponibilidade dos professores para ajudar os alunos fora do contexto das aulas e a organização de actividades circum-escolares, que envolvam também as famílias – faz toda a diferença. É uma escola humanizada, que envolve e responsabiliza.
Foi ainda destacada a vantagem de um corpo docente estabilizado. E deverá realçar-se a relevância de uma equipa dirigente coesa, determinada e com uma ambição e projecto próprios, apesar das dificuldades e entraves à sua actuação. Soma-se o facto de que, sendo reduzido o reconhecimento das actividades de gestão e sendo avultadas as responsabilidades, não se torna apetecível essa exigente missão.
Os professores que constituem o Conselho Executivo, num projecto iniciado há já treze anos, têm o saber de experiência feito, apostando na melhoria permanente. Porém, dizem, tudo seria melhor se tivessem mais liberdade e autonomia. E porque não também quanto ao processo de avaliação? Porque não uma maior responsabilização das escolas, distinguindo-se as boas das menos boas e das más?
E que melhor avaliação do seu trabalho do que aquela que é feita pelos resultados dos estudantes, pelo ambiente que se respira e pelo aumento da procura que levou a escola a ter de pedir autorização para abrir mais turmas?

Ângelo Ferreira
Publicado no jornal Diário de Aveiro de 24/11/2008
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Legenda e créditos das fotografias:
1. Escola Secundária Adolfo Portela (ESAP)/ESAP
2.Presidente do MEP, Dr. Rui Marques, entrega troféu a Presidente da Escola Adolfo Portela, Professor Henrique Coelho/ ESAP
3. Entrega de prémios aos melhores alunos da ESAP/ESAP

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terça-feira, 11 de novembro de 2008

Na margem de um velho caderno

Estávamos em 1958, mais de uma década depois do fim da II Grande Guerra. A fome abrandava um pouco a ira com que nos castigara e começava, lentamente, a autorizar a construção de um futuro melhor. Mas estávamos ainda longe de o adivinhar. Os tempos, teimosamente difíceis, exigiam imaginação e largueza de espírito, que completassem, à falta de melhor, o vazio dos estômagos com a matéria dos sonhos. Os pobres antigos, que eram a grande maioria da população, sabiam, repartindo a pobreza e o que mais, aquecer os corações de esperança. Fazia-se banquete de um “pouco-mal-me-chega”.
Recordo com saudade o meu avô que, sentando à lareira, com os netos em redor, era um contador de histórias inacreditáveis, aventuras insólitas que inventava sob os nossos intensos olhares de espanto e as sombras que dançavam nas paredes de adobo, animadas pelo fogo da lareira, que cozia uma “água-de-couves” em panela de ferro. Na penumbra daquela cozinha, no silêncio nocturno da aldeia, aprendia-se a sonhar, a ouvir, a pensar para lá da nossa curta geografia e parca condição.
Era o mês do S. Martinho e chovia que Deus a dava. O céu pesava sobre os meus pequenos ombros no caminho de casa mais do que o habitual. O caderno da segunda classe tinha acabado. Tinha de pedir outro à minha mãe e não sabia como fazê-lo. Quando lho disse, ela sabiamente me fez ver o espaço que existia nas margens, que eram sempre uma boa tábua de salvação para pobre nadador.
Dias depois não houve solução. Nem margens, nem dinheiro para outro caderno. A mãe mandou-me falar com a professora, para mo dar da caixa escolar, que para alguma coisa eu a pagava. A professora negou-mo com base na alegação final de que o meu pai estava em África e por isso era rico. Dito e feito, afinal, naquela altura, quem podia ajuizar melhor que a senhora professora?
O meu pai lá continuava a “enriquecer” por África, enganado por um familiar, e a minha mãe a trabalhar de sol a sol na cerâmica, a carregar tijolo para sustentar os filhos, quatro, e comprar umas calças, que certamente só cá existiam, para enviar ao pai pelo correio, com uns tostões nos bolsos.
O mês havia sido muito chuvoso, o que nem sempre era bom para o corpo e quase sempre era mau para a alma. Mas a humidade trazia também os míscaros, que além de gratuitos, sabiam muito bem. Era uma festa procurá-los nos pinhais ali perto, uma autêntica diversão da criançada. Enquanto isso, lá íamos apanhando uma lenha perdida, umas pinhas, e agulhas, para acalorar as histórias do avô e a sopa da avó.
Dezembro foi um mês frio. Talvez pareça hoje impossível, mas de manhã as terras e os caminhos estavam brancos de neve, a água gelada nas poças, a cara cheia de cieiro e os dedos a arder de frieiras. Eu já tinha umas tamancas de madeira, cobertas na frente com pele, mas alguns iam com os pés nus para a escola e voltavam descalços para casa. Naqueles momentos, embora estivesse calçada, o frio entrava-me pelos olhos até à alma. Ainda hoje sinto arrepios quando penso nisso.
Gostava muito de aprender. Além de que escola era melhor do que lavar a roupa no tanque, cozinhar e cuidar dos meus irmãos mais novos. Infelizmente, porém, nem sempre podia dedicar mais tempo à primeira. Além disso, não tinha livro e estudava à luz da vela. Não me esqueço daquele frio da sala de aula, que parecia não afectar a professora, que ia dando a aula sentada junto a um aquecedor e tomando chá que trazia numa garrafa termo. Ainda sinto o aroma da banana que ela saboreava para nosso “entretimento” e, quem sabe, como estratégia para mantermos nela a concentração. Lá que resultava, isso resultava.
O Natal estava a chegar e, com ele, uma enorme e regeneradora felicidade. As crianças aguardavam, com uma ansiedade tão inocente quanto forte, a vinda do menino Jesus. É que, além de anunciar a chegada de um ano novo e seguramente melhor, ele deixaria, pela calada da madrugada de 25, nas tamancas junto à lareira, presentes para os que se tinham portado bem no ano que findava. Nessa manhã, que ainda era noite, corri para junto da fogueira para me deslumbrar com o brilho cintilante de 3 cigarros de chocolate, 5 bombons recheados, 5 nozes e 5 figos secos.
Hoje, na mesma aldeia, há uma fartura que faz esquecer aqueles tempos, e ainda bem. No entanto, se a maioria das pessoas parece ter de tudo, sempre há quem tenha algumas coisas de mais e outras de menos. Valerá a pena pensar nisto?

Ângelo Ferreira
(Publicado na edição de 11/11/2008 do Diário de Aveiro)

Nota: encontrei esta história escrita nas margens de um velho caderno, o que me deu muito jeito, pois não tinha assunto para a crónica de hoje.

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terça-feira, 4 de novembro de 2008

Esperança religiosa cristã e esperança política : possibilidades de diálogo sem indesejáveis confusões? (I)



O Mep é um partido político e por definição, nas sociedades ocidentais democráticas evoluídas, os partidos não são confessionais ou religiosos.
Todavia, conhecemos exemplos de partidos religiosos em regimes democráticos (Israel) e em regimes autoritários e Teocráticos (Irão, por exemplo). Interrogo-me, se as esperanças das religiões terão algum ponto em comum com a nossa comum esperança (cívico-política) em Portugal e nos portugueses e portuguesas.

Vejamos, no contexto próprio do cristianismo de raiz católico, como se apresenta na sociedade ocidental a esperança cristã.

A par da fé e da caridade, na ordenação destas virtudes, a esperança fica a meio, é uma “virtude do caminho”. Em Paulo, a centralidade da mensagem cristã reside na caridade ou amor ao próximo (agapé). De nada vale a acção humana moral se não houver caridade.

Cabe então perguntar qual é o objecto da esperança crista? O desejo e espera de Deus, a vida eterna como felicidade? Sim? Se sim, prossegue a busca teológica, e agora questiona: em que põem os cristãos a comum esperança e em quem confiam? Nas promessas de Cristo? E, se a resposta parece clara, ainda assim não fica encerrada a questão. Mas, afinal ,quem ajuda os cristãos a ter confiança? Em quem se apoiam? Na graça do Espírito para merecé-la e preservar até ao fim da vida eterna. Eis como qualquer manual de doutrina ou o catecismo católico responde a estas interrogações religiosas .

E, agora no que ao Mep diz respeito o que deseja e espera de cada um nós?

Que nós portugueses sejamos capazes de confiar em nós próprios, como cidadãos e como povo para enfrentarmos os desafios do tempo presente com determinação e com força e assim os vencermos .

È, pois, em cada um dos nossos concidadãos que o Mep põe a sua esperança. E confia que somos – todos e cada um de nós – capazes de ter a ambição de fazer melhor, muito melhor, com rigor, esforço, criatividade, pois que o futuro que se avizinha é uma oportunidade, um desafio.

O MEP, nasce pois da necessidade – urgente - de mobilizar, reunindo e unindo os portugueses para vencerem os desafios presentes.

Como não basta querer, pergunta-se então se o MEP tem razões para confiar e apoiar-se nos portugueses? A resposta só pode ser esta: o Mep tem razóes de sobra para acreditar que somos capazes de fazer/ser melhor(es).

Não é verdade que Portugal tem revelado, ao longo da sua História, capacidades inesperadas de vencer obstáculos aparentemente inultrapassáveis? Não seremos capazes de fazer o impossível, se a missão é grandiosa ?


Num tempo como o nosso em que se respira, em muitos contextos, um ambiente de desesperança e de desânimo e onde o pessimismo tornou-se endémico e vai ganhando raízes, graças à crise económica, política e social que paira, que outra alternativa resta?

O desânimo e desistência? A queixa e lamúria? O fatalismo e conformismo?

Que cada um responda por si, que muitos já se decidiram em sair da sua instalação e do pequeno mundo sem horizonte onde viviam.

E se “profissão de fé” houvesse, então poderia vir a ser esta a adoptada pelo Mep : que está verdadeiramente ao nosso alcance um país melhor, porque mais humano e mais justo, desde que, com abertura e diálogo, numa atitude que reflecte motivação, ambição e persistência, queiramos dar as mãos e trabalhar juntos para o bem comum. Não é um " novo céu e uma nova terra", não é certamente, o"paraíso" mas o que pode ser o começo de algo novo talvez ainda nem sequer tentado. Vale a pena ousar.

Só assim chegaremos a destino que valha a pena.

(Cont.)

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terça-feira, 28 de outubro de 2008

O melhor destino é a escola

O caso de uma aluna da escola Carolina Michaelis, no Porto, que teve uma atitude violenta com a professora foi muito mediatizado, por ter sido filmado por um colega e disponibilizado na Internet para que todos pudessem ver. A maioria ficou escandalizada, mas, afinal, a verdade é que aquele foi apenas um pequeno incidente no conjunto das muitas situações que se repetem cada vez mais nas nossas escolas.
Esta semana voltou a falar-se de violência nas escolas a propósito do relatório da Comissão Parlamentar de Educação, que deixou de fora um fenómeno que afecta grande parte dos alunos portugueses (um em cada cinco): o “bullying”, que corresponde à intimidação constante de alunos por parte de colegas. Ninguém quererá intencionalmente escamotear a importância do fenómeno, mas há sempre quem apareça com uma “velha” visão do mundo, paternalista, desresponsabilizante, atirando para a sociedade o ónus abstracto que parece incapaz de delimitar, impedindo-se assim qualquer solução concreta. Cheguei a ouvir na televisão um afamado psiquiatra dizer que o fenómeno sempre tinha existido, como se isso diminuísse a gravidade dos factos e do aumento das situações. Leio mesmo num jornal nacional que uma investigadora de Educação diz que sempre foi assim, mas agora é mais divulgado. Alguém acredita? Os professores não acreditam e os pais também não.
Sabe-se que as razões dos comportamentos violentos serão muitas e diversas. Ninguém gostará de transformar um assunto complexo em demagogia, nem responder com extremismo autoritário. Mas havemos de concordar que alguma coisa precisa ser feita.
O medo no ambiente da escola, com base na violência de alunos sobre colegas e sobre professores e, agora também, de alunos e pais sobre professores e auxiliares, além da negatividade do facto em si, diminui fortemente a eficiência da educação. Os professores deixam de fazer o seu trabalho com liberdade, autoridade e qualidade. Os alunos chegam a ter medo de ir à escola e o seu rendimento escolar é afectado.
O ambiente prevalecente, de gradual desautorização dos professores e da escola, de crescente facilitismo, de aposta no “ensino-lazer”, descurando o trabalho e o rigor, tem relegado a aprendizagem de regras e valores essenciais para o domínio da teoria, da vacuidade de mais uma disciplina de cidadania. Não resulta: aprende-se uma cartilha politicamente correcta, mas não se exercita.
A compreensão das causas destes comportamentos, embora determinante para a descoberta de caminhos de inclusão, não pode descurar a preocupação com as vítimas e com o avultado e generalizado prejuízo educacional para os jovens. É fundamental que a sociedade e o Estado sejam capazes de agir para impedir a violência nas escolas e garantir a todos os alunos uma real oportunidade de integração social, de melhoria da sua vida. A mensagem deve ser clara: certos comportamentos são inadmissíveis.
Defender uma escola inclusiva não pode passar pelo branqueamento destas situações nem por soluções centralistas e igualitaristas.
Aos professores e aos estudantes devem ser garantidas as condições para trabalhar, para trilhar esse caminho fantástico de descoberta, de aprendizagem, de trabalho em harmonia. Em vez do centralismo das medidas actuais, à escola deve ser dada total autonomia, para que se encontrem localmente, com criatividade e inovação, as respostas mais adequadas e as sinergias (famílias, empresas, associações, etc.) que promovam um maior sucesso educativo. Muitas vezes isso terá de passar por projectos de ensino diferentes para alunos diferentes, em vez do igualitarismo elitista que temos e se traduz em verdadeira exclusão daqueles que não encontram motivação na “escola do seu bairro”.
Dificilmente encontramos organizações com um quadro profissional tão qualificado como aquele que existe nas escolas, pelo que tudo devia ser feito para que se assumissem como verdadeiras instituições, com real autonomia, com um projecto social e pedagógico próprio, em vez de serem apenas delegações do Ministério da Educação, abafadas em burocracia. Não conseguimos sequer imaginar a mobilização e as soluções criativas que daí poderiam surgir, se aos professores fosse dada a liberdade e a responsabilidade de conduzir os destinos da escola, em articulação com famílias e comunidade, num ambiente de maior liberdade de escolha dos pais e de maior envolvimento de todos.
Uma educação inclusiva não pode ser sinónimo de mediocridade generalizada. Uma escola onde não há segurança e harmonia é, antes de mais, o pior destino das crianças pobres.
Ângelo Ferreira
Publicado na edição de 28/10/2008 do jornal Diário de Aveiro

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quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Uma educação de todos, de cada um

A educação deve ser umas das primeiras preocupações de qualquer pessoa, quanto a si, quanto aos que de si dependem, quanto a terceiros. Ela é algo que vai para além do ensino formal, da transmissão e descoberta de conhecimento, da aquisição de competências para o mundo do trabalho. A educação é também o mundo dos valores, dos direitos e deveres, da liberdade e da responsabilidade (individuais), da solidariedade.
Quando se fala de educação, não se está a falar necessariamente do Estado, mas antes de cada um de nós – esqueça-se, por momentos, o Ministério da Educação, a fértil produção legislativa que emana dos gabinetes da 5 de Outubro, que tudo procurar organizar e dirigir, nessa lógica centralista que tanto caracteriza Portugal. Esqueça-se mesmo, ainda que por instantes, a própria escola encarada como solução para tudo, à qual tudo se exige, ou apenas como armazém, onde tantas vezes se depositam os filhos, fugindo às responsabilidades como pais (principais responsáveis educativos) e como pessoas de uma comunidade, de um país.
A educação precisa do empenho de todos, das famílias como elemento central, como base fundamental de uma sociedade equilibrada, coesa. Precisa de uma atenção solidária e activa de toda a comunidade, que deve empenhar-se no apoio às famílias, sobretudo às mais pobres e com mais dificuldades, mas sem as substituir. Precisa que os empregadores criem condições para que os pais possam acompanhar os filhos.
O desafio é mobilizar as famílias, as escolas e os diversos agentes educativos, as comunidades e todos os seus recursos para o grande desígnio de proporcionar um ambiente de trabalho estimulante, criativo, exigente, de dedicação e esforço. Precisamos acreditar e firmar uma consciência de que os mais pobres não são incapazes, não estão condenados à partida e podem melhorar as suas vidas através de melhor educação.
Para encontrarmos juntos as melhores soluções é imprescindível e urgente dar autonomia e responsabilidade às escolas, colocando o foco na melhoria dos resultados dos seus alunos e das suas competências. É absolutamente urgente que tenham liberdade pedagógica, inovadora e criativa, encontrando-se soluções locais para contextos, problemas e desafios locais, envolvendo as escolas, as famílias e as diversas entidades locais, sejam as autarquias, os museus, as polícias, os bombeiros, os centros de saúde, as associações, as instituições de ensino superior, as empresas e outras.
É crucial estabelecer uma malha comunitária apertada de apoio que reduza o insucesso e o abandono, que procure não deixar ninguém para trás, criando condições para um desenvolvimento mais sólido e coeso. Trata-se inclusive de proporcionar também aos menos jovens a possibilidade de se qualificarem.
O desafio exige-nos diálogo franco entre todos os intervenientes, que a todos responsabilize. Exige grande respeito pelas opções das famílias e pessoas no que concerne à escolha dos projectos educativos que consideram mais adequados. Para tal, é necessário um sistema de informação e apoio à decisão acessível e transparente, e os apoios sociais devidos, que descriminem positivamente aqueles que mais precisam.
Urge construir um ambiente de confiança e respeito, desde logo pelos professores, elos fundamentais de uma cadeia de sucesso educativo. Não há outro caminho que não o de acreditar nas suas capacidades autónomas e exigir-lhes empenho, inovação, e a coragem de rasgar novos horizontes, pondo de lado atavismos ideológicos e corporativistas.
A recente transferência de maiores responsabilidades em matéria de ensino para as autarquias é uma oportunidade para criar dinâmicas locais. O enorme desafio que todos temos pela frente, de conquista de um futuro melhor, exige-nos, localmente, essa capacidade de resposta. As câmaras municipais podem, devem, desempenhar um importante papel de aglutinação de vontades e liderança.
Algumas destas (e outras) pistas para melhorar a educação estão inscritas no relatório final do Debate Nacional de Educação, iniciativa de grande monta e qualidade levada a cabo ao longo de mais de um ano pelo Conselho Nacional de Educação, presidido pelo Professor Júlio Pedrosa, antigo reitor da Universidade de Aveiro. O seu empenho pessoal nas questões da educação, em prol da comunidade, devem merecer a nossa homenagem e constituir exemplo de motivação.
A leitura dos resultados do debate (www.debatereducacao.pt/), pode, desde logo, constituir um importante passo.
Ângelo Ferreira
Publicado no jornal Diário de Aveiro de 21/10/2008

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domingo, 7 de setembro de 2008

Sobre a qualidade das leis

O Jorge Mayer já aqui referiu a importância de avaliar as leis pelos seus efeitos. Também eu não sou um profissional destas áreas mas há dois aspectos que me parecem importantes para fazer boas leis e que tenho visto pouco aplicados.

Um primeiro aspecto está relcionado com o valor da simplicidade. Em ciência é conhecida a "navalha de Occam", que pode ser expressa pela frase "as entidades não devem ser multiplicadas além do necessário". A economia dos conceitos, das regras, das alíneas, a tentativa de tornar uma lei tão simples quanto possível (mas não mais) devia ser um valor. Quando precisamos de uma estrutura legal complicada para exprimir algo que devia ser simples, podemos estar perante um sinal de que se está a legislar mal.

Outro aspecto a ter em conta nas leis é saber se podem ser efectivamente cumpridas. Se todos cumprirmos escrupulosamente todas as leis, este país funcionará melhor ou pior? Podemos começar por pensar no código da estrada. É que a multiplicação de regras e leis que ninguém cumpre permite ao estado ou aos agentes da autoridade uma discricionariedade nada desejável em democracia: qualquer cidadão acaba por violar umas quantas leis cada dia, apenas para fazer uma vida normal, e a administração pode usar o estado para perseguir qualquer cidadão que deseje, bastando-lhe procurar as leis que esse cidadão não cumpre.

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quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Descartáveis?

Uma sociedade onde impere o relativismo moral presta-se a muitas confusões, ambiguidades e fragilidades. A defesa de valores diferentes não os anula, nem anula a necessidade da procura da verdade – ainda que nunca fechada e definitiva –, no estabelecimento de um quadro de valores comuns, que nos enquadrem na vida, na relação com os outros.
A relatividade moral não foi seguramente o caminho das nossas importantes conquistas civilizacionais, que nos trouxeram um maior sentido da liberdade efectiva de cada pessoa, exercida com responsabilidade, com cuidado pelo outro. Na plenitude da liberdade ganha um especial relevo saber-se respeitar a diferença e proteger os menos fortes.
No que concerne ao respeito pelos menos fortes podemos certamente fazer bem melhor. É seguramente o que se passa em relação aos mais idosos que, de forma geral, não são bem tratados entre nós, sobretudo os que se encontram em situação de maior fragilidade, física e psicológica, e com parcos meios financeiros, numa situação de fragilidade agravada.
São inúmeros os casos de violação dos seus direitos, da sua integridade, o que vai desde o abandono à violência física e psicológica. O mais assustador é que, frequentemente, são os próprios filhos ou familiares os principais agressores. Seguramente que todos já presenciámos momentos de profunda tristeza, que nos envergonham como seres humanos, com os próprios filhos a maltratar os pais idosos, indefesos perante a força da juventude, mas sobretudo da estupidez.
É o próprio Estado vampiresco, que, tendo-lhes sugado grande parte do seu suor, não tem sabido orientar os esforços de solidariedade para onde eles mais são precisos, e é agora incapaz de assegurar aos mais desprotegidos o mínimo de dignidade. Basta olhar para as miseráveis reformas que têm de receber como se fossem mendigos à porta do orçamento, enquanto à mesa, sob os mais variados pretextos de desenvolvimento e solidariedade, se esbanjam os nossos recursos com gente que não precisa.
Mas são também algumas instituições que, feitas por pessoas, traduzem uma tendência social de preocupante desrespeito pelos velhos.
É todo um conjunto de situações do dia-a-dia, de desconsideração no ambiente familiar, nas ruas, nas repartições, nos autocarros, que nos deviam envergonhar. Os mais velhos são tratados como inúteis, um peso descartável, ou ainda como moralistas conservadores que têm a mania de nos lembrar princípios, valores, coisas antigas e desnecessárias num tempo em que cada um quer apenas correr para o prazer imediato, para o sucesso fácil, para a pobre liberdade materialista, sem olhar a “impecilhos”. Interessa fazer o que der na gana, sem olhar a entraves incómodos para o “eu totalitário”.
Mais preocupante ainda é o facto de perceber-se que a educação que temos proporcionado às nossas crianças não tem, em regra, promovido pessoas livres e responsáveis, com uma noção clara dos seus direitos, mas sobretudo dos seus deveres.
Precisamos de construir uma sociedade diferente, onde se preserve um lugar de dignidade para os nossos velhos, defendidos do abandono e da agressão.
Mais do que isso, é urgente que os passemos a considerar e a ter como pessoas válidas, imprescindíveis para o desenvolvimento de um futuro melhor.
Um país que não cuida dos seus velhos, mantendo-os activos e úteis na medida das suas capacidades, usufruindo da sua sabedoria, é um país doente e condenado.
Ângelo Ferreira
publicado no jornal Diário de Aveiro de 2 de Setembro de 2008

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sexta-feira, 11 de julho de 2008

Confiança

Hoje a economia está em dificuldades e uma das razões é a falta de confiança.

Mas podemos dizer que também a sociedade portuguesa tem um défice de confiança.

Falta a confiança em que estamos todos solidários, quando as coisas correm mal e quando correm bem. Este espírito de solidariedade permite-nos dar o melhor de nós próprios, quaisquer que sejam as circunstâncias.

Mas não tem sido este o caminho seguido na sociedade portuguesa, em particular por aqueles que têm a responsabilidade de governar.
Vivemos numa sociedade que tem sido dividida para que alguém possa reinar.

Independentemente das (boas) intenções por trás destas atitudes, o efeito reformista é duvidoso e o impacto no ânimo geral é claramente negativo. Sobretudo quando surge uma crise externa a provar que não estávamos preparados para ela.

Mas a alternativa não é passar duma atitude de confronto para um paternalismo, que sugere que quem antes gerou inúmeros conflitos pode agora tornar-se a fonte das soluções para os problemas mais graves. Além disso Portugal já sofreu demasiado por causa dos paternalismos políticos.

É urgente recuperarmos a confiança em nós próprios e nos outros.

É urgente que alguém seja capaz de dizer aos portugueses que têm que estar unidos a enfrentar a crise e que essa solidariedade se deve manter quando a crise der lugar à prosperidade.

É urgente que alguém seja capaz de se apresentar aos portugueses não como um salvador ou um distribuidor de benesses mas como alguém que acredita neles e que é capaz de ajudar a que se construa essa solidariedade entre todos.

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terça-feira, 3 de junho de 2008

Leituras

Um Museu Fabuloso (Mário Soares no DN)
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segunda-feira, 2 de junho de 2008

Leituras

Deputados acumulam funções (Correio da Manhã)
A apatia da forte gente (JCN no DN)
Bem-vindo a Portugal (MST no Expresso)
Estado gastou 485 milhões em negócio que valia um quinto (Público)
Cheques-dentista apenas no sector público seria «muito dispendioso» e atrasaria equidade (Sol)
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