A nossa sociedade vive momentos difíceis. Nem todos os problemas, como sabemos, se devem à classe política. Somos todos responsáveis pelo estado das coisas.
O tempo exige-nos um olhar atento sobre o mundo, mas também um olhar para dentro, para o fundo de nós mesmos. E aí, no silêncio e no escuro desse canto sossegado do pensamento, devemos questionar-nos sobre o mundo que queremos e qual o nosso papel nele.
Vivemos com muito ruído à nossa volta, o que nos impede de escutar os sussurros de bom senso que a vida nos faz. Somos interpelados a agir em nosso nome individual e em nome dos outros, mas olhamos para o lado, para baixo, para qualquer lado que não nos obrigue a agir, a sair da monotonia daquilo que consideramos comodamente ser a nossa cápsula protectora – quanto engano! Não temos tempo para nada a não ser para tudo o que sempre fazemos. Permanecemos agarrados ao chão de um sentimento de insignificância, de incapacidade, restando-nos, tantas vezes, apenas a crítica feroz, de quem atira, perdido, pedras ao espelho.
Vivemos hoje rodeados de tanta gente, de tantos gritos, e às vezes tão sós. Perdemo-nos, em grande medida, do tempo, que escorre por entre os nossos dedos trémulos, debaixo dos nossos olhos cansados. Não temos tempo para ler, para pensar, para ouvir, para conversar, para usufruir da companhia dos outros, para dar atenção aos outros, aos idosos, às crianças. Para, em silêncio, estar com a vida.
Há um caminho cheio de pedras para retirar, usando-as para construir a calçada e as pontes necessárias. Outras para descansar. E há pântanos a evitar, escolhas a fazer. Esse é um caminho que todos devemos construir com empenho, sensibilidade, exigência, dando a mão aos que vêm mais cansados, aos que não podem caminhar.
Se nem tudo se decide na política, e todos temos um papel decisivo em sociedade, é também verdade que a política é um dos espaços nobres de construção de uma vida melhor, com liberdade, responsabilidade e solidariedade. Os últimos tempos não têm sido nada felizes e todos estão descontentes. Mas será isso motivo para que atitude?
No próximo dia 7 de Junho realizar-se-ão as eleições para o parlamento europeu, um acto de grande importância para os nossos destinos. A campanha decorre e a gritaria é imensa. Os cinco maiores partidos fazem tanto ruído, ampliado pela comunicação social, que nada se vislumbra de novo, nada se consegue perceber. O debate de ideias é uma guerra de surdos-mudos no vazio infértil do éter. As televisões, as rádios e os jornais nacionais não ligam nenhuma aos novos partidos, como se a democracia tivesse numerus clausus. Como se não houvesse lugar para mais ninguém na construção do nosso futuro. Estarão contentes com os caminhos seguidos?
E você? Basta-lhe a escolha entre os cinco do costume? Não sei se sabe, mas, no dia 7, quando se dirigir à sua urna de voto, vai deparar-se com uma lista de 13 partidos, dos quais 2 (Movimento Esperança Portugal e Movimento Mérito e Sociedade) são recentes. Conhece as suas propostas?
A importância do acto eleitoral, pelo que o parlamento europeu representa de determinante nas nossas vidas, não pode ser desvalorizada, nem ficar refém das escolhas das directorias dos órgãos de comunicação social. A nossa democracia não pode permanecer encarcerada nas grilhetas daqueles que se julgam seus donos.
Informe-se e escolha. Ou vai deixar que outros decidam por si?
Publicado no jornal Diário de Aveiro de 4 de Junho com a seguinte nota sobre conflito de interesses: Sou membro do MEP.
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