Preparava-me para escrever esta crónica sobre um tema de actualidade, o que acabou sem efeito.
Pensei numa homenagem ao pastor e activista dos direitos humanos Martin Luther King, nesta altura em que a América comemora o seu dia, num dos três feriados nacionais dedicados a uma pessoa. As conquistas americanas, para as quais contribuiu, foram e continuam a ser um farol para o mundo. Na verdade, em poucos lugares se fez tanto, de consequente e para lá da retórica do politicamente correcto, pela igualdade de direitos e deveres, independentemente da cor da pele, da religião, do credo político, do sexo.
Pensei também na tomada de posse de Obama esta terça-feira, no que ela representa de esperança para aquele grande país e para o mundo. Não porque seja um homem providencial e esteja ao seu alcance mudar o mundo e as nossas vidas, num passe de mágica, porque não está. Antes porque não deve ser desconsiderada a oportunidade que ele representa de reconstruir algumas pontes e de inspirar novas atitudes e novas ambições. Antes pelo ânimo, pela renovação e pelo novo estilo de fazer política, que pode contribuir para um diálogo mais construtivo.
Senti-me tentado, por interesse próprio*, e por considerar relevante, a escrever sobre a apresentação em Aveiro, no passado sábado, da candidata do “Movimento Esperança Portugal” às eleições europeias, Laurinda Alves, que procurará lutar por uma Europa de rosto humano, distante da burocratização a que assistimos, assente nos ideais dos pais fundadores, que visavam uma comunidade de pessoas e de povos, em paz duradoura, na sua diversidade, capaz de um desenvolvimento partilhado. A Laurinda representa a esperança numa forma diferente de actuar na política, mais próxima das pessoas e dos seus problemas, mais humanizada.
Entretanto, a caminho do local onde me encontro para escrever estas linhas, encontrei um amigo que acabara de receber, a par com mais 120 pessoas, uma carta de despedimento. Conversámos um pouco, por entre o silêncio que um momento tão difícil exige, trocando preocupações, olhares cúmplices, e despedimo-nos desejando dias melhores, mesmo sabendo que o céu cinzento ainda perdurará. E tudo se resumiu a este vazio, não derrotista, mas que interroga.
Os dias que nos chegam pela frente serão muito difíceis. As tentativas de alguns, especialmente do nosso governo, em nos fazer acreditar que estamos no bom caminho são muito perigosas. Sob o lema tão apreciado do optimismo, visto como força geradora de confiança, mais não são do que instrumento táctico para protelar problemas e ganhar tempo em ano eleitoral. Nada têm de verdade. Basta ver, entre tantos sinais, as últimas previsões da União Europeia relativas ao nosso PIB: uma contracção de 1,6%, muito acima dos 0,8% previstos pelo governo. Imagine-se que aqui há uns meses houve mesmo um ministro que declarou o fim da crise. Embarcar nesse canto da sereia pode conduzir a nau à boca do Adamastor ou a espalhar-se no invisível Cabo das Tormentas.
A esperança, que podemos e devemos ter, deve assentar sobre o rochedo da verdade. E daí, com esforço e empenho, solidariamente, atravessaremos tempestades, sem atirar ninguém borda fora.
*Sou membro do Movimento Esperança Portugal
Publicado no Diário de Aveiro de 21/01/2009
1 comentário:
É só demagogia barata e palavras bonitas. Aliás os partidos políticos são todos a mesma treta e os seus dirigentes gostam muito de usar palavras bonitas, mas ... vai dar tudo ao mesmo, todos a bajular os mesmos, a dizer o mesmo do mesmo.
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