sábado, 25 de abril de 2009

Reviver o 25 de Abril com Sophia

Reviver o 25 de Abril é hoje, 35 anos depois, deliciar-me com a poesia da grande Sophia de Mello Breyner Andresen, um dos maiores poetas portugueses contemporâneos. Considerada por muitos uma "musa da própria poesia."

"Sophia nasceu no Porto, em 1919, no seio de uma família aristocrática. A sua infância e adolescência decorrem entre o Porto e Lisboa. Após o casamento com o advogado e jornalista Francisco Sousa Tavares, veio para Lisboa, passando a dividir a sua actividade entre a poesia e a actividade cívica, tendo sido notória activista contra o regime de Salazar. A sua poesia ergue-se como a voz da liberdade, especialmente em "O Livro Sexto".

Deixo-vos pois aqui alguns poemas que falam sobre a esperança na Liberdade, em tempos de ditadura:


Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo


Sophia de Mello Breyner Andresen, O Nome das Coisas (1977)


Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão
Porque os outros se calam mas tu não

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo
Porque os outros são hábeis mas tu não

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia de Mello Breyner Andresen


Liberdade

Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.

Sophia de Mello Breyner Andresen



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