segunda-feira, 13 de abril de 2009

Defender o futuro

As últimas da frente orçamental são a confirmação de que vivemos acima das nossas posses. Há duas semanas, Tavares Moreira dizia aos microfones do RCP que o défice de 2009 vai derrapar para além dos 6%. Na semana passada, a Universidade Católica foi mais longe: o défice, afinal, pode chegar a 7%. Face a estas contas a previsão da OCDE, de que a dívida pública em 2010 vai disparar para 86% do PIB é capaz de pecar por defeito...!


Sem uma recuperação da economia mundial à vista e com uma situação actual tão complicada em termos orçamentais, fica mais nítido o absurdo que é comprometer o país em obras duvidosas. Mas o que se pode esperar de um governo que só percebeu a dimensão da crise depois de toda a gente?

Em vez de cruzarmos os braços, podemos usar o poder da opinião pública e assinar e divulgar a petição promovida pelo MEP em defesa do nosso futuro.

8 comentários:

Anónimo disse...

Li o vosso manifesto contra a 3ª ponte sobre o Tejo. Aposto que entre vós não há residentes na margem sul.

O custo energético e tempo de perdido por milhares de portugueses em engarrafamentos foi tido em conta? E as vantagens da ligação do TGV a Madrid?

Lembro-vos que vivem mais pessoas na margem sul do Tejo do que em Lisboa e que muitas delas nem sequer trabalham em Lisboa. Mas suponho que o pessoal do "deserto" não seja o vosso público alvo...

Cumprimentos,
TN

Carlos Albuquerque disse...

Caro(a) TN

Os engarrafamentos não se resolvem com mais uma ponte a trazer mais carros para Lisboa. Como não se resolveram com a Ponte Vasco da Gama.

Quanto ao TGV para Madrid, a questão é saber quanto é que essas vantagens custariam e quem é que as pagaria.

Finalmente, mas não menos importante, é o facto de o país estar numa situação financeira que começa a roçar o sobreendividamento.

É como se uma família com dificuldades em pagar os empréstimos ainda estivesse a discutir as vantagens de mudar para um apartamento mais caro e comprar um automóvel de luxo, tudo a crédito.

Anónimo disse...

Caro Carlos Albuquerque,

Volto a dizer que os carros não vão necessariamente para Lisboa. A ponte Vasco da Gama distribui os carros para Loures / Odivelas / Vila Franca, a maior parte não vai para o Saldanha nem para a Rotunda Sá Fernandes (também conhecida por Marquês de Pombal).

O problema do trânsito combate-se com portagens, que servem para pagar as pontes, com estacionamentos pagos ou como em Londres onde se paga (e bem) para levar o carro para o centro. Impedir travessias é estagnar a economia e no caso de Lisboa impedir o desenvolvimento do turismo no eixo Lisboa-Troia.

Nem todos os investimentos estruturais são maus só por que se gasta dinheiro. Se o Estado não o fizer o país trava ainda mais:

- A ligação de Lisboa à rede europeia de TGV é uma coisa boa porque permitirá transportes que não gastam combustíveis fósseis.

- Os investimentos em barragens e energias são bons.

- O investimento numa 3ª travessia do Tejo seja ponte ou tunel para Algés é bom porque permite a empresas e cidadãos moverem-se entre zonas industriais a sul e o centro urbano.

- Agora o novo aeroporto nunca deveria ir para a frente, nem a linha de TGV Lisboa-Porto que poupará 15minutos à actual

O PROBLEMA DO ESTADO NÃO É NÃO TER DINHEIRO PARA OBRAS É DISTRIBUIR MAL O DINHEIRO DOS NOSSOS IMPOSTOS. Só alguns exemplos:
1) SCUTS.
2) Não prescricição de receitas pelos princípios activos.
3) Funcionários publicos com aumentos de 2,9%.
4) Universidades com professores que chegam a reitores mas são incompetentes gestores.
5) BPN...
6) Ordenado do Vitor Constâncio

Cumprimentos,
TN

Carlos Albuquerque disse...

Caro(a) TN

A terceira ponte está planeada para entrar em Lisboa. Logo teria que haver muito mais carros em Lisboa e, ainda por cima, apenas a atravessá-la.

As portagens para resolver o tráfego deviam ser o último dos recursos pois significam reservar as vias para os mais ricos. Mas, seguindo este método, nem seria preciso fazer uma terceira ponte para evitar os engarrafamentos na Ponte 25 de Abril: bastaria aumentar bastante as portagens.

Qualquer investimento tem coisas boas. A questão é ponderar as vantagens em face dos custos (quer iniciais, quer de manutenção). Ora o TGV para Madrid tem custos elevadíssimos que nunca serão cobertos pela exploração. A 3a travessia liga a margem sul a uma zona de Lisboa que não tem capacidade para escoar todo o novo tráfego.

Considerando a situação económica e financeira de Portugal, até o Banco de Portugal veio sugerir que as grandes obras têm que ser ponderadas. Na situação actual, pior do que enfrentar uma travagem da economia pode ser iludir essa travagem comprometendo a retoma. A prosseguir a política de assinar compromissos que este governo ameaça fazer, quando a retoma vier todo o nosso crescimento durante bastante tempo estará destinado a pagar juros e amortizações.

Mário Santos disse...

Pela informação que vi no site da Rave, o investimento no TGV parece ter um equilíbrio grande entre investimento público, comparticipação europeia e receitas de exploração.

O site disponibiliza uma quantidade de informação impressionante de estudos produzidos por uma série de entidades que não me parece que se possam ignorar facilmente, nomeadamente no que toca aos benefícios económicos que se espera que o TGV traga.

O PSD em 2003 acordou uma série de linhas de TGV. Afinal é um investimento estruturante ou não? É que se é, mesmo em alturas de crise devemos continuar a investir (mesmo que mais devagar, eventualmente).

Não acho que a comparação com o carro de luxo seja adequada. Se fossemos por aí ainda estávamos a fazer a viagem para o Algarve em automotora a Diesel (funciona, não funciona?).

Anónimo disse...

Então não teriam nada a opor que a terminação do TGV fosse no Fogueteiro ou em Coina?

Sempre se poupava uma travessia. Quem fosse para Lisboa saltava para o comboio normal...

Quanto às portagens, é exactamente assim, os "ricos" podem andar de carro porque pagam. Se há muitos carros em Lisboa e os "ricos" já pagam à EMEL, à Polícia Municipal, mais o IA, seguros e ISP... então com portagens baixas seria um inferno.

Cumprimentos,
TN

Carlos Albuquerque disse...

Caro(a) TN

Quando falava da entrada em Lisboa referia-me à travessia rodoviária.

Quanto às portagens parece-me que não tem objecções a que apenas se aumentem as portagens na Ponte 25 Abril e Vasco da Gama, de modo a acabar com as filas. Além da receita extra poupa-se a construção da nova travessia rodoviária e resolve-se o problema do trânsito.

Carlos Albuquerque disse...

Caro Mário

Andei pelo site da RAVE mas não encontrei um estudo claro sobre a parte financeira (quanto é que custa e quem é que paga e quando).

Sobre o custo benefício encontrei lá este estudo:
http://www.rave.pt/tabid/183/id/94/Default.aspx

Ora, parece que a linha Lisboa Madrid só justifica o investimento se no primeiro ano atingir um número de passageiros da ordem de 6 a 9 milhões. Este valor parece simplesmente impossível de atingir entre Lisboa e Madrid nos próximos tempos.

Os momentos de crise exigem um cuidado redobrado com a relação custo-benefício dos investimentos e exigem uma grande atenção ao volume dos compromissos assumidos para o futuro. Não me parece que isso esteja a ser feito no caso do TGV.

Quanto à comparação com o carro de luxo, basta pensar que países como a Itália, Reino Unido, Dinamarca ou Áustria não têm TGV. Será o TGV algo de tão essencial para o mundo actual?