"Mas mais importante do que criar a obrigatoriedade de permanência, acrescentou, é "criar condições" para que os alunos se sintam atraídos pela escola, que deve corresponder às suas expectativas, o que não veio sucedendo e justificará o abandono escolar, que foi de 36,3 por cento em 2007, o segundo mais alto da União Europeia, apenas ultrapassado por Malta (37,6 por cento), segundo dados divulgados na conferência de imprensa."
in Publico 28 de Abril, citando a Ministra da Educação.
Sou defensora do alargamento da escolaridade obrigatória a 12 anos e, nessa medida, fico contente com esta iniciativa do governo.
Mas (i) conhecendo alguma da realidade das nossas escolas básicas do sistema público, particularmente as EB 2,3 e (ii) os números que indicam que, em 2007/2008, só 45% dos alunos que concluiram o 9.º ano o fizeram sem uma retenção, confesso que fico preocupada.
Se é bom que olhemos para jusante, avaliando que condições de diversidade de oferta devemos dar aos alunos neste novo ciclo obrigatório em ordem ao seu sucesso (por exemplo, reforçando o ensino profissional), será porventura mais importante que olhemos para montante, para este problema ainda não resolvido, desde há 20 anos quando se alargou a obrigatoriedade de ensino a 9 anos.
Esta medida de alargamento da escolaridade a 12 anos, que é na sua essência uma subida da fasquia na qualificação dos nossos jovens, pode ter o efeito preverso de, na prática, significar "baixar a fasquia" para que os alunos possam lá chegar.
3 comentários:
Excelente texto. Simples, incisivo, directo.
De acordo, por isso tenho as maiores dúvidas sobre a bondade da obrigatoriedade. Obrigar maiores de 16 anos? E, já agora, a mais o quê? Criem-se condições de atractividade para que os jovens queiram realmente fazer aqueles 12 anos.
Estou preocupado!
O ensino em Portugal degradou-se. Hoje a meta não é saber: é passar de ano!
Falta ensino de qualidade que promova o gosto pelo aprender e que dê aos educandos úteis ferramentas de futuro. Matemática, Português, Ciências Naturais e Sociais … enfim, tudo quanto possa contribuir para a formação intelectual, mas também afectiva, das gerações vindouras.
Falta ensino médio, técnico, de qualidade. Faltam escolas de vida onde, pari passo, se compagine cultura com trabalho e mester.
Doze anos de ensino. Sim! Mas de que ensino?
Com o "facilitismo" descarado promovida há anos pelos sucessivos ministros da educação, a realidade portuguesa é a dos alunos passarem de ano (por ex. no 7.º e 8.º anos) com uma série de negativas. Não ligam nada nas aulas, não estudam, prejudicam os colegas que querem aprender e, no fim, passam. Que qualidade de ensino é esta? Por isso, tradicionalmente havia muitas reprovações no 10.º ano. E agora? Querem a mesma bandalheira e ignorância até ao 12.º ano, quando o nível e qualidade dos complementares já anda tanto por baixo. É por isso que, de há anos para cá, temos alunos universitários sem qualidade para estar no Ensino Superior e que, agora com o acordo de Bolonha são licenciados com apenas 3 anos, se passarem.
Portugal com medidas destas vai ficar cada vez pior. Façam isso mas exijam estudo, saber e não "passagens administrativas" como actualmente. Quem está à frente do ensino português não sabe e não tem vergonha do que está a fazer.
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