Da crise vem a tentação de proteger os “nossos”, de nos fecharmos. De olharmos o estrangeiro como “indesejável”.
Vem isto a propósito dos ecos que nos vêm de Inglaterra de manifestações contra trabalhadores portugueses e italianos (“english jobs for english workers”) que obrigou mesmo os trabalhadores portugueses a regressarem a Portugal. E da pretensão de algumas vozes no mesmo país de reservarem o emprego qualificado a licenciados ingleses, para evitar o desemprego de muitos “nativos” que saem das Universidades.
Em tempo de escassez, um pouco por todo o lado, a tentação de proteger os seus é muito forte.
Há mesmo quem pergunte se a crise não trará um retrocesso nas liberdades conquistadas com a União Europeia. Até agora, a resposta dos responsáveis políticos pela Europa tem sido a de recusar dar passos atrás.
Mas esta é uma tentação que afecta todos os níveis: cidadãos, empresas, Estados.
É importante que tomemos consciência do riscos que esta tentação implica.
Não apenas porque um país frágil e dependente como Portugal não se “safaria” num mundo com portas fechadas mas, sobretudo, porque se trataria de um retrocesso civilizacional terrível.
Mais do que nunca, temos hoje consciência de que o que acontece no outro lado do mundo se repercute aqui. O mundo é um só e as fronteiras são, em muitos aspectos, cada vez mais uma ficção.
Como podemos então achar que aquele que nasceu do outro lado da fronteira não é um de nós?
Precisamente porque num mundo global a crise é global e afecta todos, as respostas não podem vir de um “salve-se a si mesmo” assumido por cada cidadão e cada país, mas têm de vir da construção conjunta de soluções viáveis para todos.
Acredito que é sobretudo nestas alturas que faz sentido existir uma União Europeia. Assim o queiramos demonstrar.
Margarida Olazabal Cabral
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
PARA UMA CRISE GLOBAL, RESPOSTAS SEM FRONTEIRAS
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2 comentários:
Concordo inteiramente. É muito fácil sermos amigos quando a riqueza abunda, mas a verdadeira amizade e irmandade prova-se é nas horas difícieis. Agora que tudo está mais nublano, mais do que nunca devemos ter presente que vivemos num mundo global e que todos somos seres humanos de um mesmo planeta! O outro é sempre também um pouco de nós e nós um pouco do outro! Em termos de União Europeia, bem mais do que nunca é hora de provar que somos uma União e que temos um sonho e um ideal de progresso, paz e desenvolvimento para a Europa e para o Mundo.
Inteiramente de acordo com a Margarida e o Michael. Uma crise global só se pode enfrentar com soluções conjuntas. Onde está a União Europeia neste momento?? Silêncio da Comissão e do seu presidente enquanto cada estado se tenta "salvar" como pode mesmo que para tal tenha de pôr em cheque os seus parceiros...Depois dos "british jobs for british people" surge Sarkozy a "chantagear" os empresários do sector automóvel desde que estes não transfiram as suas empresas para a República Checa.
Onde estão afinal os líderes com valores de tolerância e visão de longo prazo?
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