A semana passada ficámos a saber que alguém tinha usado um grupo de alunos de uma escola de Castelo de Vide para realizar imagens para um tempo de antena do PS.
Só por si, isto revela um notório abuso de imagem das crianças estudantes, mesmo que autorizado pelos pais com o devido conhecimento do que está em causa. Se pretendiam produzir o tempo de antena clamando hossanas ao Magalhães – esse milagre da Educação -, mais valia que contratassem numa dessas empresas de agenciamento de crianças, dentro da lei e das regras, pagando devidamente aos actores e referindo no vídeo que aquilo tudo não passava de ficção.
Mas não, o PS preferiu fazer uma telenovela da vida real, um “reality show”, como agora está na moda. E vai daí pede para gravar na escola verdadeira com crianças estudantes também verdadeiras. Mas, para isto se tornar possível, como é evidente, precisava de uma camuflagem, enganando de verdade. É que nenhuma escola, pelo menos onde mande alguém com juízo, se prestaria a esse espectáculo, por uma razão básica de bom senso, de independência partidária e afastamento higiénico das campanhas eleitorais.
O que terá então acontecido? Afirma a presidente do Agrupamento de Escolas de Castelo de Vide, Ana Paula Travassos, que o contacto foi feito pelos serviços centrais do ministério da Educação e pela direcção regional de Educação, solicitando a realização do pitoresco e apoteótico filme, onde o tal PC Magalhães é elevado à categoria de “melhor amigo” das crianças, numa deixa do guião rosa para aqueles inocentes actores. Diz a professora que o pedido foi no sentido de fazer uma avaliação do impacto do computador na aprendizagem das crianças do 1.º ciclo e que, cito, «Foi com base nesta informação que pedimos autorização aos pais para a realização das filmagens. Nunca imaginámos a utilização posterior das imagens». A coisa é ainda mais cabeluda, pois o próprio coordenador da área educativa de Portalegre acompanhou as gravações, talvez como anotador de serviço ou corrigindo alguma deixa menos vigorosa no elogio do novo herói. Acrescenta Ana Paula Travassos que a empresa produtora deu a informação que trabalhava para o ministério.
Afinal, o que é isto senão uma grande sem-vergonhice? O que deviam ser as consequências desta anedota de mau gosto?
Vitalino Canas, porta-voz do PS, veio dizer que a empresa é que não tinha dado a informação correcta. Alguém acredita nisso? Alguém acredita que o PS mandasse uma empresa contactar uma escola pedindo autorização para realizar um anúncio de campanha partidária?
A ministra, recusando qualquer responsabilidade do ministério na obtenção das imagens, ainda foi mais original: «A lição que retiramos deste episódio é a necessidade de estarmos mais atentos para estas questões e ao cumprimento dos procedimentos para continuar a dar a garantia de respeito do direito à protecção de imagem por parte dos nossos alunos». Como disse?
A lição é que deviam ser apuradas as responsabilidades de pessoas do ministério, incluindo o coordenador da área educativa de Portalegre, que fizeram diligências para obter as devidas facilidades. Mesmo antes disso, a ministra devia assumir as suas responsabilidades políticas.
Que fracos amigos tem o Magalhães. E as crianças.
Ângelo Ferreira
Publicado no Região de Águeda de 14/05/2009
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