segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O partido mistério e a igualdade de oportunidades

No passado fim de semana o Expresso considerou diversas hipóteses resultados para as próximas eleições legislativas.

Além das cinco forças políticas habituais, aparece uma misteriosa coligação OP/B/N que poderá, segundo o jornal, vir a obter um deputado pelo círculo de Lisboa e uma votação entre 6% e 7%. Contudo, nas notícias sobre as listas apresentadas para as legislativas não se vislumbra esta coligação, pelo que fica a dúvida sobre quem irá para o parlamento no caso de ser eleito um deputado.

Quem conhecer a práticas das notícias sobre eleições poderá reconhecer que afinal em OP/B/N se misturam outros partidos (um dos quais com hipóteses de eleger um deputado) com os votos brancos e nulos (ambos irrelevantes em termos de eleição de deputados).

Esta forma de apresentar resultados é um excelente exemplo de como a igualdade de oportunidades é ignorada pelos media.

Colocar numa tabela de síntese os outros partidos misturados com os brancos e nulos é já uma má prática pois tende a sugerir a irrelevância dos outros partidos. E não permite sequer distinguir qual o peso real dos outros partidos. Quando o que está em causa é o número de deputados eleitos, então é ainda mais absurdo em termos informativos.

O que é decisivo é saber qual a percentagem dos outros partidos e, em particular, qual ou quais estarão em melhores condições de obter o tal deputado. Em condições de não haver nenhuma maioria absoluta óbvia, um deputado pode fazer toda a diferença (como já vimos no passado) ou pode ter grande significado político. Será o MRPP? O PPM? Ou o PNR?

Quem acompanhar de perto a política partidária poderá facilmente concluir que o misterioso partido será muito provavelmente aquele que nas últimas eleições europeias obteve no distrito de Lisboa 2,4% dos votos, percentagem que em legislativas garante um deputado pelo círculo de Lisboa: o MEP.

Nestas condições o natural seria que se distinguisse o partido que está próximo de obter um deputado (assumindo que o critério da tabela era a representação parlamentar futura).

Ao evitar o símbolo do MEP a par dos outros partidos com perspectiva de representação parlamentar futura e ao amalgamar este partido com todos os restantes e até com os votos brancos e nulos, está a dar-se um tratamento diferente a circunstâncias iguais, confundindo o leitor menos esclarecido em vez de dar uma informação de qualidade.

Infelizmente os media nacionais têm-se limitado a ridicularizar a directiva da ERC sem se atreverem minimamente a discutir o que seria importante: como garantir a igualdade de oportunidades sem entrar num igualitarismo de fita métrica? O que significa para eles "às notícias ou reportagens de factos ou acontecimentos de idêntica importância deve corresponder um relevo jornalístico semelhante"?

Parece que está mais actual do que nunca a petição proposta pelo MEP para a reflexão dos jornalistas onde de pede exactamente "igualdade de oportunidades durante a campanha". Se ainda não assinou, não deixe de o fazer.

7 comentários:

Anónimo disse...

O objectivo era fazer coligações de governo... O peso do MEP, infelizmente, não vai ser suficiente para uma solução governativa.


Mas na proxima legislatura (2014?) gostava de ver o meu partido (PS) e o MEP coligados num Governo do centro-esquerda social e positivista!
O unico "choque" ideologico entre MEP e PS são realmente as questões como o aborto, casamentos gay, etc

Manuel Pintor disse...

Caro anónimo:

Parece haver mais "choques ideológicos", de que destaco o papel do Estado e da Administração Pública na sociedade, mas neste assunto estou com o MEP, conquanto no que foca esteja mais de acordo com o PS.
Já agora: a próxima legislatura começa este ano e não em 2014!:)
Pela m/parte, não gostava de ver já o MEP em coligações governamentais, mas seria interessante um governo de minoria ter de contar com ele na AR...

Carlos Albuquerque disse...

Caro anónimo

A história recente mostra que um deputado pode ser decisivo na viabilização de um orçamento de estado e, por conseguinte, de uma solução de governo.

Anónimo disse...

Caro Manuel, o que eu queria dizer com "próxima" legislatura era a outra a seguir... Obviamente que nesta legislatura que agora irá começar o MEP não irá ter mais de, no máximo, 3 deputados...
Se o MEP não se deixar influenciar pelo clima de oposição de partidos como o PSD, PP, Bloco e PCP e agr também do Sr. Silva, pode na legislatura de 2014 (?) ter uma presença bem maior!

Mas já agora, vocês (Manuel, Carlos, outros) vêm o MEP mais próximo do centro-esquerda do PS ou do centro-direita do PSD?

Manuel Pintor disse...

Caro anónimo:

A m/resposta à sua pergunta será porventura diferente da de Carlos Albuquerque. Este é militante-dirigente do MEP e eu não ando nessas lides.
Não me importa muito a questão esquerda/direita. No inquérito da Bússola Eleitoral, o meu resultado deu concordância com o MEP em 84%, 72% para o PS e 71% para o PSD. Mas vistos parcelarmente, os resultados são muito díspares: concordância geral com a Esquerda (não só PS mas também BE e CDU) nos temas "Estilo de Vida e Ética" e "Sociedade e Ambiente" e discordância total em outros, principalmente "Estado e Administração Pública", mas também "Finanças" e "Economia". Isto só para dizer que as questões esquerda/direita não são tão lineares como parecem.
Para responder mais directamente à sua questão: vejo-me mais perto do PS nas primeiras questões que referi, e mais perto do PSD nas questões da organização do Estado e do peso deste na sociedade. No tema "Economia" até tenho maior concordância com o MMS. Mas o MEP é o partido mais homogéneo no match com as minhas posições: concordâncias a rondar, e até ultrapassar, os 90% em muitos temas, tendo o menos concordante, apesar de tudo, uma média de 65% (Estilo de Vida e Ética - em causa despenalização do aborto e facilitação do divórcio).
Isto não dá, só por si, para "agarrar" o meu voto. Outros factores entram, à cabeça dos quais a credibilidade das pessoas que se apresentam para o recolher. Laurinda Alves teve-o e, se votasse em Lisboa, Rui Marques teria grandes probabilidades de o ter também. Das 4 cruzinhas que irei fazer proximamente, só uma está há muito definida (para a Câmara Municipal do Porto) e a questão esquerda/direita não vai ser determinante na hora de decidir as restantes 3.

Carlos Albuquerque disse...

Caro anónimo

Até aqui a falta da representação parlamentar era o argumento para ignorar o MEP. Agora que tudo indica que o MEP vai ter representação parlamentar, que é que se irá pedir mais?

Quanto ao posicionamento do MEP, eu diria que para mim o mais importante é saber qual a melhor forma de desenvolver os objectivos do Manifesto Razões de Esperança.

Admito que em alguns casos seja com políticas mais próximas da chamada "direita" e em outros com políticas mais próximas da chamada "esquerda". E em muitos casos com políticas originais porque não subordinadas à dicotomia tradiconal esquerda/direita.

Quanto às questões fracturantes, eu diria que não faz grande sentido que sejam usadas como marcação ideológica. Mais: acho que estes temas e as pessoas a que dizem respeito têm sido usadas para criar uma divisão esquerda/direita imaginária e assim disfarçar a falta de sentido social das políticas do PS.

Algumas das propostas que se assumem como "progressistas" ou "de esquerda" são um poço de contradições e absurdos.

Nestas áreas acho que há um imenso trabalho de aprofundamento e reflexão a fazer por todos e o enquistamento em preconceitos, seja qual for a sua origem, parece-me pouco construtivo.

Contudo, mesmo depois do aprofundamento haverá ainda necessidade de construir pontes e nesse aspecto o MEP poderá dar contribuições decisivas.

Anónimo disse...

Pela Arrogância que tem em ler os resultados eleitorais e interpretar como bem entendem, Acabaram de perder meu voto na zona de Lisboa!