Mostrar mensagens com a etiqueta Poesia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Poesia. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 14 de abril de 2009

Somos pessoas de esperança?

"Como cada coisa tem a sua cor
cada coração tem a esperança.
Havemos de somar projectos,
palmilhar destinos,
desfiar preocupações...
Mas a esperança é o segredo
que nos faz sair de nós,
criar e recriar, crer!
Por causa da esperança
o comum não se esvazia,
nem o inesperado nos trava;
o difícil é olhado com coragem
e o tempo feliz vivido com humildade.
A esperança é persistente,
não desarma.
Como o fogo debaixo da cinza
sempre resiste.
A esperança é actuante,
não cruza os braços.
Tem a paciência impaciente
das sementes
que, em vez de lamentar
o escuro da terra,
desatam a crescer.
A esperança é a palavra
que traz dentro a confiança.
Somos pessoas de esperança?"
(José Tolentino Mendonça)
(Ler tudo)

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Epitáfio para um Tirano

Perfeição, de um certo tipo, era o que ele procurava
E a poesia que ele inventou era fácil de compreender;
Ele conhecia a massa humana como a palma das suas mãos,
E estava extremamente interessado em exércitos e armadas;
Quando ele ria, senadores respeitáveis desatavam a rir,
Quando ele gritava as crianças morriam nas ruas.

W. H. Auden
(Ler tudo)

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Queria de ti








Queria de ti um país de bondade e de bruma

Queria de ti o mar de uma rosa de espuma



Mario Cesariny

(Ler tudo)

quinta-feira, 31 de julho de 2008

...em construção

As pequenas iniciativas culturais revelam vontade de participar e intervir sendo essenciais na acção transformadora da sociedade, na valorização dos processos criativos, na concretização de uma cidadania activa e demonstrando uma originalidade alternativa ao mainstreaming. São relevantes, a um nível mais micro e local, novas afirmações que desentorpeçam os espíritos e nos desenvolvam (devolvam?!) o espírito crítico. Vem isto a propósito do Teatro Assombrado, iniciativa recente de um grupo de amigos do Porto instalados em pleno centro histórico. Há pouco tempo ouvi-os dizer poesia de Vinicius de Moraes e por isso recordo aqui…

O operário em construção

Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as asas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa quer ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.


De facto como podia
Um operário em construção
Compreender porque um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento

Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse eventualmente
Um operário em construção.
Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.

De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
- Garrafa, prato, facão
Era ele quem fazia
Ele, um humilde operário
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.

Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.

Foi dentro dessa compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois alem do que sabia
- Exercer a profissão -
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.

E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.
E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia "sim"
Começou a dizer "não"

E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:
Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.

E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução

Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão
Mas o patrão nas queria
Nenhuma preocupação.
- "Convençam-no" do contrario
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isto sorria.

Dia seguinte o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu por destinado
Sua primeira agressão
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!

Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras seguiram
Muitas outras seguirão
Porém, por imprescindível
Ao edifício em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.

Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobra-lo de modo contrário
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaracao:
- Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.

Disse e fitou o operário
Que olhava e reflectia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria
O operário via casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objecto
Produtos, manufacturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!

- Loucura! - gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?

- Mentira! - disse o operario
Nao podes dar-me o que é meu.

E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão
Um silencio de torturas
E gritos de maldição
Um silencio de fracturas
A se arrasarem no chão
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção
(Vinicius de Moraes)

(Ler tudo)

sábado, 5 de abril de 2008

Portugal é alma de gente que sente

Portugal é alma de gente que sente
(Contributo de uma apoiante do MEP)

Portugal é descoberta
Força, coragem, visão
É criança que desperta
Pelos mares do coração

Habita a memória presente
Pelo sonho da nação
E traz ao mundo a semente
Do que é a criação

Povo que, entregue à Fé
Se descobre a sonhar
É povo que vive o que é
Na força do acreditar.


Março 08

Rosário Sanches Baena
(Ler tudo)

sábado, 29 de março de 2008

Viver a Esperança hoje

Como um belo poema pode dizer tanto sobre a nossa vida e as opções que temos entre mãos. Não desistir, viver! Aqui fica esta partilha:

Álvaro de Campos (poema sem título)

Na noite terrível, substância natural de todas as noites,
Na noite de insónia, substância natural de todas as minhas noites,
Relembro, velando em modorra incómoda,
Relembro o que fiz e o que podia ter feito na vida.
Relembro, e uma angústia
Espalha-se por mim como um frio do corpo ou um medo.
O irreparável do meu passado - esse é que é o cadáver!
Todos os outros cadáveres pode ser que sejam ilusão.
Todos os mortos pode ser que sejam vivos noutra parte.
Todos os meus próprios momentos passados pode ser que existam algures,
Na ilusão do espaço e do tempo,
Na falsidade do decorrer.

Mas o que eu não fui, o que eu não fiz, o que nem sequer sonhei;
O que só agora vejo que deveria ter feito,
O que só agora claramente vejo que deveria ter sido-
Isso é que é morto para além de todos os Deuses,
Isso- e foi afinal o melhor de mim- é que nem os deuses fazem viver...

Se em certa altura
Tivesse voltado para a esquerda em vez de para a direita;
Se em certo momento
Tivesse dito sem em vez de não, ou não em vez de sim;
Se em certa conversa
Tivesse tido as frases que só agora, no meio-sono, elaboro -
Se tudo isso tivesse sido assim, Seria outro hoje, e talvez o universo inteiro
Seria insensivelmente levado a ser outro também.

Mas não virei para o lado irreparavelmente perdido,
Não virei nem pensei em virar, e só agora o percebo;
Mas não disse não ou não disse sim, e só agora vejo o que não disse;
Mas as frases que faltou dizer nesse momento surgem-me todas,
Claras, inevitáveis, naturais,
A conversa fechada concludemente,
A matéria toda resolvida...
Mas só agora o que nunca foi, nem será para trás, me dói.

O que falhei deveras não tem esperança nenhuma
Em sistema metafísica nenhum.
Pode ser que para putro mundo eu possa levar o que sonhei.
Mas poderei eu levar para outro mundo o que me esqueci do sonhar?
Esses sim, os sonhos por haver, é que são o cadáver.
Enterro-o no meu coração para sempre, para todo o tempo,
para todos os universos.
Nessa noite em que não durmo, e o sossego me cerca
Como uma verdade de que não partilho,
E lá fora o luar, como a esperança que não tenho, é invisível pra mim.

in
Pessoa
(Ler tudo)