quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Acidente transforma futebolista em campeão de basquetebol em cadeira de rodas

Barreiro, 06 Dez (Lusa) - Aos 14 anos, Renato Pereira foi colhido por um comboio e ficou preso a uma cadeira de rodas, mas o amor pelo desporto conduziu-o ao basquetebol e hoje é, com Portugal, campeão europeu da série C.

Renato Pereira, agora com 26 anos, sempre se dedicou ao desporto e nem o acidente o afastou, tendo já uma vasta lista de modalidades no currículo.

"Sempre fui educado para a prática do desporto e pratiquei várias modalidades antes e depois do acidente. Para os portadores de deficiência, o desporto traz também uma condição física que é importante para ultrapassar certas barreiras arquitectónicas", disse em declarações à Lusa.

Ao passar uma passagem de nível que estava fechada com a sua bicicleta, Renato Pereira foi colhido por um comboio quando se deslocava para casa depois de um treino de futebol, assumindo sem problemas que a culpa do acidente foi toda sua.

Um convite de um amigo levou Renato Pereira a experimentar o basquetebol em cadeira de rodas, modalidade que abraçou nos últimos oito anos, depois de ter praticado natação e remo adaptado.

Este ano, o atleta conseguiu a maior proeza da sua carreira ao estar presente na selecção de Portugal que venceu o europeu da modalidade que decorreu em Dublin, onde Portugal venceu todos os jogos e conseguiu colocar dois jogadores no “cinco” ideal.

"Em 2005, o campeonato decorreu em Portugal e ficámos em quinto lugar, este ano conseguimos o primeiro, o que não é mau em dois anos de evolução. Subimos da série C para a série B e representar o país é uma alegria e um orgulho enorme, seja portador de deficiência ou não", defende.

Renato Pereira confessa que faltam mais praticantes para que a modalidade possa evoluir, lembrando que existem jogadores com cerca de 60 anos a competir.

"Precisamos de evoluir e a mentalidade portuguesa também, pois afinal ainda somos um milhão. Este ano estou a jogar na equipa da minha terra (Barreiro) e espero ajudar os que agora estão agora a começar com a minha experiência", afirmou.

"Fui quatro vezes campeão nacional no APD de Lisboa e este ano vim jogar para o clube da terra, o Santoantoniense. Falta divulgação mas a modalidade está a evoluir em Portugal e existem mais equipas a nível nacional e até nas ilhas", acrescentou.

O estudante do 3º ano do curso de terapia da fala explica que a modalidade é dispendiosa e que o preço de uma cadeira para praticar basquetebol pode variar entre 1.500 e 4.000 euros.

"Uma cadeira assim custa perto de 1.500 euros. A que uso hoje foi entregue pela selecção aos atletas é de titânio e deve rondar os 2.500 euros, mas existem cadeiras que custam perto dos 4.000 euros. Quando mais leve for melhor para a velocidade e mobilidade do jogador", explica.

Renato Pereira confessa que na vida das pessoas com deficiência motora, o primeiro passo é ultrapassar os obstáculos criados pela própria mente e depois os que existem "lá fora".

"Uma vez disseram-me que só deixaria de ser um coitadinho quando tirasse a cadeira da cabeça e a colocasse debaixo do rabo. As pessoas tem que batalhar, lutar e tentar, pois é certo que existem algumas coisas que não somos capazes de fazer e nessa altura só temos que pedir ajuda, sem receios. O não já está garantido", concluiu.

A selecção nacional de basquetebol em cadeira de rodas vai ser homenageada no próximo fim-de-semana pela autarquia da Moita, concelho onde a equipa realizou o estágio de preparação para Europeu.

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