por Rui Marques
Na passada semana cometi o primeiro grande erro de avaliação política. Ao ser interrogado, no final duma entrevista com uma jornalista da LUSA, nas vésperas do Congresso do MEP, sobre a crise financeira internacional disse “o pior já passou”.
A entrevista ocorria no dia seguinte à aprovação, nos Estados Unidos, do Plano Paulson, onde se disponibilizavam 700 mil milhões de dólares para que a Administração americana pudesse travar a degradação da confiança do sistema financeiro. Embalado por essa expectativa manifestei essa convicção/desejo optimista. Ora, na semana seguinte, a hecatombe continuou. Agravou-se mesmo. O que fez da minha declaração um erro grosseiro e uma previsão totalmente errada. Aconteceu exactamente o contrário do que tinha expresso como minha convicção.
Perante esse erro óbvio só uma coisa deve ser feita: reconhecê-lo publicamente. Com todas as letras e sem hesitação. Como não causou prejuízo a ninguém - a não ser aos MEPs, por ter representado mal o nosso projecto - talvez seja dispensável um pedido de desculpas formal. Mas o reconhecimento do erro é essencial.
No meu caminho de intervenção partidária – que começou há pouco tempo – terá sido o primeiro erro importante. Não será seguramente o último. Ao longo das próximas etapas, num contexto de intervenção sobre uma realidade turbulenta e incerta, o risco de errar será elevado. Também a inexperiência política ajudará, aqui e além, a que aconteçam erros. Será inevitável.
Li uma vez, algures, que “Errar é humano. Atribuir o erro a outro é política.”. Poderia acrescentar uma variação assim desenhada “errar é humano...não reconhecer os erros é política”. A política, como qualquer actividade humana, está sujeita ao erro. Quem desenvolve esta intervenção cívica, arrisca muitas vezes, no fio da navalha, ao reagir instantaneamente a dinâmicas em curso. Ou a pronunciar-se sem ter ainda todos os elementos disponíveis.
Creio que um dos grandes desafios que uma nova geração de políticos e uma nova forma de fazer política enfrentam é estar disponível para assumir – em tempo útil - os erros cometidos. E fazê-lo sem hesitação. Sem medo das consequências junto dos eleitores. Sem medo da fragilidade. Sem medo da verdade.
A política da coragem exige que não nos deixemos paralisar pelo medo de errar. Nem pelo medo de reconhecer os erros.
Rui Marques
Presidente do MEP
PS: Agradeço ao Pedro Mexia por, no programa “Governo Sombra”, da TSF, ter iluminado este erro. Foi uma crítica merecida.
Excepccional capacidade de admissão do erro. Novidade na área política. Um verdadeira lufada de ar fresco...Parabéns!
ResponderEliminarNotável a capacidade de reconhecer o erro de forma pública. Alguns dirão que é uma questão de inteligência e que Rui Marques sabe, por intuição e conhecimento dos factos, que melhor do que calar o erro, é admiti-lo publicamente. Mas sabemos que existem sempre formas de justificar os erros, sobretudo quando se tratam de previsões e especulação. Por isso, pedir desculpa e lembrar que errar é humano e que todos, sem excepção, estamos sujeitos a enganar-nos é um acto de verdadeira coragem e grande humildade. Reconhecer a inexperiência na vida politica, e as consequências daí decorrentes, é ainda mais corajoso. Uma lição para todos nós e para os políticos da nossa praça.
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