Por todo o lado alastra um debate efervescente e muitíssimo interessante, sobre respostas novas que se adequem ao actual cenário ultra móvel, no qual se revela esgotada a dicotomia esquerda/direita que sustenta o modelo em que assentam as sociedades contemporâneas industriais do ocidente.
As politicas modernas são dominadas por duas entidades: o indivíduo abstracto, cujo palco é o mercado e o estado providência, representado pelos governos. Direita e esquerda alinham respectivamente nestes dois pólos, mas ambas falharam. A predominância do mercado mostrou premiar os vencedores mas esqueceu os que perdem, criando bolsas de exclusão social que ameaçam a sua sustentabilidade. Por seu lado, os modelos assentes no estado minaram o tecido social com relações de dependência, que anestesiam as causas dos problemas, sabotando assim a sua resolução a prazo.
No âmbito da ciência política, existe uma nova corrente que defende a recuperação de um terceiro pilar que não exclua os outros dois, mas de alguma forma os tempere e equilibre. O chamado pilar social. Os seus representantes defendem a reinvenção da chamada sociedade civil, que desde o revolucionário século dezanove se foi progressivamente asfixiando, em matizes diferentes conforme a latitude, até quase desaparecer.
Este terceiro sector, o ecossistema sustentado pelas relações de humanidade em que procuramos ancorar a nossa identidade e sentimentos de pertença, parece estar agora de volta de muitas maneiras, como uma tentativa de contrariar a grande solidão pós moderna. A chamada web 2.0, pródiga em plataformas onde se formam comunidades virtuais como o YouTube e tantas outras, é apenas uma das muitas faces visíveis desta mega tendência global.
É frequente as pessoas que a protagonizam reclamarem-se, politicamente, de um centro reinventado. Por toda a Europa surgem ensaios desta nova matriz, mas é nos Estados Unidos que ela se está a afirmar, nas primárias do partido democrata, com uma dinâmica de resultados ainda imprevisíveis.
Espreitar tudo isto, na tal complexidade novíssima em que nos calhou viver, é particularmente estimulante e permite-nos encontrar eixos de inteligibilidade, que de certa forma nos permitem agarrar este tempo.
Inês Rodrigues
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